Vovó pop-it

Vovó pop-it

Episódio 6: Vovó pop-it

“Vai brincar menino”. “Faça alguma coisa”. “Cabeça vazia é oficina do diabo”

No tempo da vovó parece que criança não tinha estresse ou direito ao tédio. As suas missões eram estudar e brincar. O “dinheiro curto” da família não era um impedimento para brincar:  

– Se não dá pra comprar uma “pipa”, faz de jornal uma “capucheta”;

– se não tem patinete, faz carrinho de rolimã – basta uma tábua, duas traves de madeira mais grossa e duas rolimãs que podem ser encontradas em qualquer oficina da esquina – é só procurar;

– uma bola de tênis já gasta, três pedaços de madeira apoiados uns nos outros, em posição vertical, pronto… está feito o jogo de “taco”.

Uma lata vazia, uma caixa de papelão, tudo pode virar brinquedo na imaginação da criança. Pintar na calçada, com giz branco ou amarelo, uma sequência para pular amarelinha.    

Quem não aproveitou uma embalagem de papel bolha para estourar e ouvir aquele “Poc-poc” delicioso? Crianças e adultos disputavam esse brinquedinho improvisado.

Hoje em dia esse brinquedo ganhou sofisticação e está servindo para movimentar o mercado de brinquedos. O pop-it é um sucesso de vendas após viralizar na internet, principalmente em aplicativos como o TikTok. Tornou-se a febre do momento, principalmente entre as crianças. O objeto é uma peça de silicone que imita um plástico-bolha: é cheio de bolinhas que, ao serem apertadas, fazem um leve barulho que soa como “pop”.

O brinquedo conta com diferentes formatos e cores, bem atrativos. A novidade faz parte de uma categoria denominada “fidget toys”, que significa “brinquedos de inquietação” ou “brinquedos sensoriais”.

Além do barulhinho, pode ter outras utilidades: ocupa a criança, retira-a do mundo virtual, acalma, estimula a coordenação motora fina, o raciocínio, a agilidade e a criatividade na interação com outras crianças.

Qualquer brinquedo, quando compartilhado ou brincado em grupo, pode estimular a competição. Aí entra um estresse bom: “quem estoura as bolinhas primeiro? Agora usando três dedos?  Só pode estourar as bolinhas azuis: quem estourar as de outra cor perde”… e assim vai. O lúdico estimula o espírito competitivo, aguça a criatividade, ultrapassando fronteiras. Pode ser utilizado como um artefato pedagógico em questões de contagem, padrões, agrupamentos, etc.

Esse brinquedo surgiu durante a pandemia, quando as crianças estavam confinadas dentro de casa, sofrendo de ansiedade, de tédio, da falta da companhia dos amigos e da interação social. Ouviram muitas vezes a palavra “morte”: o mundo real se tornou assustador, asfixiante. Brincar, além de ser uma válvula de escape, tornou-se uma maneira de organizar as ideias.

Quem diria que o “Poc-poc” seria tão divertido e tão importante?

O que é um brinquedo estimulante? O que é um brinquedo sem graça?

Só a criança tem a resposta. Há brinquedos caros e sofisticados que perdem a graça no primeiro dia de uso e outros, mais baratos, que jamais deixam de serem buscados e manipulados.

O “Poc-poc” de hoje tem sua aplicação especial para o momento. Amanhã…bem, amanhã é outro dia. As crianças vão descobrir o que lhes dá prazer, o que as faz felizes e empolgadas com alguma coisa.

Relator:
Fernando M F Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo

Foto: wavebreakmedia | depositphotos.com