Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 01/07/2020
Como praticamente todos os aspectos da vida cotidiana, a vida escolar de nossas crianças foi afetada com a pandemia da COVID-19. Subitamente, as aulas foram suspensas, as férias antecipadas em alguns casos e a retomada dos estudos por meio remoto através da tecnologia. Pais e filhos passaram a conviver em um ambiente único, com a casa se tornando local não apenas de trabalho, o chamado home office, mas também de aprendizagem e estudo.
O papel do professor, tão desvalorizado em nossa sociedade, foi, aos poucos, sendo reconhecido pela maioria dos pais, ao estudarem com seus filhos e perceberem a dificuldade da transmissão do saber e do conhecimento, especialmente a esta geração tão bombardeada com estímulos. Limites precisaram ser colocados e, em muitos casos, houve aumento da ansiedade e conflitos relacionais.
Neste contexto, como pensar sobre a volta às aulas? Quais os cuidados que devemos tomar? Como será o papel da escola e do professor neste momento chamado de “novo normal”?
Devemos analisar os aspectos pedagógicos, psicológicos, sociais e sanitários do retorno às aulas. Muitas são as dúvidas e nem todas as respostas estão claras ainda. Mas vamos procurar trazer algumas orientações.
Quanto aos aspectos pedagógicos, é importante centralizar esforços em celebrar a resiliência dos alunos, buscando integrar as diversas situações vividas e, através da discussão das práticas adotadas no ensino a distância, procurar equilibrar os alunos de modo mais homogêneo, sem descaracterizar a individualidade de cada aluno. É um momento muito oportuno para que os pais se aproximem da escola e conheçam melhor o conteúdo, a forma de ensino, as metas, o relacionamento da criança e do adolescente com a equipe escolar. Será fundamental repensar os espaços pedagógicos e redefinir as prioridades na retomada da vida escolar. Lembrem-se: todo mundo foi afetado pela pandemia!
Em relação aos aspectos psicológicos, teremos várias crianças e adolescentes tomados por sentimentos como medo, pânico, dificuldade de readaptação. Será um momento oportuno para que a equipe escolar trabalhe atividades nas quais seus alunos possam exprimir sentimentos, angústias e medos a fim de auxiliar a recuperação emocional. Importante ter um olhar sobre a violência doméstica, que pode ter se intensificado com a questão do distanciamento social. Nem sempre as equipes escolares têm capacitação para lidar com este tipo de questão e é necessária a aproximação dos serviços de saúde às escolas.
No que se refere à questão sanitária, o distanciamento social será imprescindível, assim como uso de máscaras e lavagem das mãos. Provavelmente teremos que ter rodízio de alunos e olhar com cuidado especial a questão da ventilação e renovação do ar nos espaços fechados, assim como nas salas de aulas e nos laboratórios. Um cuidado adicional será o de olhar com atenção especial àqueles alunos que têm na merenda escolar sua principal refeição. Verificar as necessidades das famílias e trabalhar para que tenham o mínimo de condição para alimentar as crianças é uma questão humanitária ainda muito importante em nossos dias.
Respostas e fórmulas prontas não existem, mas, mais do que nunca, precisamos todos trabalhar para a construção de um ambiente de ensino-aprendizagem que seja acolhedor, confortável e principalmente efetivo em construir cidadãos preparados para os desafios que vem por aí. E pensarmos também em criar cidadãos críticos, responsáveis, cientes de seu papel social, com menos preocupação na competição e no individualismo.
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Relator:
Dr. Fausto Flor Carvalho
Departamento Científico de Saúde Escolar da Sociedade de Pediatria de São Paulo