Em tempos em que as mídias sociais nos bombardeiam com propostas para a exclusão de alimentos ou nutrientes de nossa dieta e de nossos filhos, algumas verdades devem ser reconhecidas. Toda vez que retiramos um determinado grupo de alimentos da mesa, possivelmente perdemos a diversidade, qualidade e corremos riscos de deficiências nutricionais.
Evidentemente que se há um problema clínico estabelecido, como uma alergia ou intolerância comprovada por diagnósticos corretos, a suspensão do alimento em questão será fator de correção do problema ou melhora clínica. No entanto, algumas questões aparecem quando a retirada de alimentos se dá por motivos filosóficos, religiosos ou por incorporação de conhecimentos de fontes duvidosas. Entre as principais correntes dessa vertente, estão os diferentes aspectos do vegetarianismo.
Vegetarianismo e veganismo
Primeiro, devemos lembrar que existem inúmeras formas de vegetarianismo, com a retirada apenas das carnes processadas ou de todas as carnes vermelhas, com a manutenção de lácteos e outras proteínas animais (ovo-lácteos), ou a retirada total dessas proteínas (vegetarianismos estritos). Já o veganismo também não aceita a utilização de produtos que tenham sido testados em animais ou com produção com práticas inaceitáveis para seus padrões.
Existem trabalhos que mostram efeitos benéficos da retirada da carne e a adição de produtos vegetais no metabolismo cardiovascular, mas as deficiências nutricionais podem ser mais intensas quanto maior a retirada de fontes de cálcio e ferro. Um dos aspectos importantes das dietas de restrição (que paradoxalmente buscam o equilíbrio) seria o desequilíbrio de ingestão de alguns produtos essenciais. Vários trabalhos mostram que a restrição total de proteína animal e suplementos pode levar a alterações do crescimento e cognitivas.
A dieta macrobiótica, de origem oriental, incorpora grãos e cereais em uma mistura visando o equilíbrio entre o yin e o yang com diferentes níveis de restrição, desde uma retirada parcial ou uso ponderado de alguns alimentos, até dietas com o uso apenas do arroz integral.
Portanto, em fases iniciais, com a retirada de alimentos yin (sucos, café, chá, mel e açúcar) e yang (sal, carnes vermelhas) e os chamados intermediários (frutas, verduras, lácteos queijos e carnes brancas), que podem ser consumidos de acordo com a época do ano e em quantidades estabelecidas, podem ser padrões filosóficos e dietéticos relativamente seguros para serem seguidos. Mas, a partir da retirada total de fontes dietéticas, o risco de doenças aumenta de forma intensa, podendo levar a desnutrição e morte. Assim, novamente, uma dieta que busca o equilíbrio pode levar a uma total condição de risco nutricional.
A importância do equilíbrio
As dietas vegetarianas podem oferecer benefícios pela utilização de frutas, legumes, verduras, fibras e grãos integrais, reduzindo o aporte de gordura saturada. No entanto, a retirada total de alimentos proteicos animais praticamente impossibilita o equilíbrio de alguns minerais e vitaminas, como o ferro, zinco, cobre e vitaminas do complexo B, especialmente em crianças em crescimento e desenvolvimento. Quanto maior a restrição e quanto mais precoce e por maior tempo, maiores as repercussões para o crescimento, desenvolvimento e potencial deficiência nutricional.
Se houver uma possibilidade de diálogo com os pais, o pediatra deve comentar cada um desses aspectos e orientar para que a restrição, se inevitável, seja deixada para um período posterior. Pediatras e nutricionistas especializados podem orientar uma dieta alternativa de substituição em casos de menor restrição, mas ficam obrigados a demonstrar os altos riscos da retirada total de grupos de alimentos, especialmente em crianças e adolescentes.
A busca pela saúde permite uma ampla discussão de condutas e de seus custos e benefícios. Mas parte principalmente da análise de riscos para os pacientes.
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Relator:
Dr. Mauro Fisberg
Departamento Científico de Nutrição da SPSP.
Publicado em 6/03/2018.
Este blog não tem o objetivo de substituir a consulta pediátrica. Somente o médico tem condições de avaliar caso a caso e somente o médico pode orientar o tratamento e a prescrição de medicamentos.
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