Relatora: Dra. Regina M C Gikas
Presidente do Depto. Científico de Segurança da SPSP
Texto divulgado em 10/10/2014.
“Neste Dia das Crianças, a SPSP oferece uma reflexão. Será que nós estamos tratando as crianças como elas realmente são? Ao mesmo tempo, a SPSP te faz um convite!”
A edição de setembro da Revista Vogue expôs crianças em poses sensuais. As imagens causaram uma repercussão negativa e, após 11 denúncias, o Ministério Público determinou a retirada da circulação da Revista.
A atitude da Revista Vogue expressa a tentativa dos veículos de comunicação de massa, principalmente a televisão, de fortalecer a ideologia da criança como um consumidor em potencial, sendo alvo de grande parte dos anúncios publicitários, como diz Tatiana Landini “Não é difícil encontrar propagandas e anúncios onde a criança é mostrada em pose sensual ou em um contexto de sedução”(1). É o que vimos com grande pesar na revista Vogue Kids, nos perguntando: no que estão transformando a infância?
Desde cedo, as crianças do sexo feminino são persuadidas em seguir a moda adulta do momento, exibindo as unhas pintadas, saltos altos, maquiagem, cabelos tingidos; são incentivadas a consumir dentro do mercado da moda, exatamente como uma miniatura de um adulto. Meninas e meninos são expostos à erotização precoce, devido ao conteúdo impróprio exibido de forma descontrolada pela mídia, com mais enfoque na Internet.
Muitas vezes os adultos não possuem uma relação psicológica saudável com o sexo, isso poderá refletir-se em seus filhos, como usar termos sexuais na linguagem cotidiana ou fazer piadas excessivas sobre o tema.
Numa época de anulação da infância, em que a criança não vivencia certas etapas saudáveis em seu desenvolvimento, é questão desafiadora saber qual é a ideologia que permeia atualmente a infância nas diversas instituições que, direta ou indiretamente, dela se ocupam.
Torna-se necessário, como o defende Buckingham(2), mais do que diretamente proteger as crianças do mercado publicitário, da publicidade e suas imposições, conhecer estas relações de maneira a promover a reflexão, através de um processo educativo, sobre a cultura do consumidor e os princípios econômicos através dos quais este mundo funciona.
Essa deve ser uma consideração urgente, especialmente para o ambiente familiar, em que a criança age por imitação. E ainda mais fortemente para o universo que envolve o crescimento e desenvolvimento infantis. Pediatras, psicólogos, educadores devem promover a reflexão, a produção de conhecimento e o alerta para o desenvolvimento saudável.
Lembremos que cabe a nós, pais ou adultos, proteger as crianças desta exposição insalubre, que incentiva a pedofilia, a aniquilação da infância e que, frequentemente, adentra nossa sociedade de forma velada e, no caso da Vogue Kids, de forma constrangedoramente explícita.
Que ações como essas sejam denunciadas e que as crianças tenham o direito de serem o que realmente são: Crianças!
Feliz de Dia das Crianças!
1. Landini, Tatiana Savóia. Pornografia infantil na Internet: proliferação e visibilidade. 2000. Dissertação (Mestrado) FFCH/USP – São Paulo
2. Buckingham, David. Crecer em la era de los médios eletrônicos. Trás la muerte de la infância. Madrid: Ediciones Morata, 2002.