No dia 3 de julho é comemorado o Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial. Essa data celebra a aprovação no Congresso Nacional da Lei nº 1.390, proposta pelo deputado e jurista Afonso Arinos, em 1951. A primeira lei contra o racismo no Brasil constitui como infração penal a discriminação racial, por raça ou cor.
O combate ao racismo deve começar em casa e no dia a dia
Cito aqui trechos da entrevista com Alexandra Loras, jornalista e ex-consulesa da França no Brasil:
“A discriminação racial acontece no mundo inteiro, mas no Brasil é muito forte, no sentido de ter 54% da população que é negra.
E o que mais impressiona é que na produção intelectual clássica temos pouquíssimos, como Oscar Freire, André Rebouças, Teodoro Sampaio, Machado de Assis, só 4% na mídia brasileira e quase nenhum negro nos livros didáticos e infantis.
Temos muitas coisas que são usadas no dia-a-dia e que foram inventadas por negros, como a geladeira, o marca passo, a antena parabólica, o celular, o semáforo – existem milhares de inventores negros, mas são lembrados de forma humilhante e de uma forma muito negativa.
O racismo não é velado para nós negros, ele é velado para aquele que não quer enxergar.
Algumas pessoas não percebem que possuem vieses inconscientes a respeito de gênero e raça, aliás nós todos, sem exceção, temos vieses inconscientes.
Para dar um bom exemplo, citamos o “Teste da boneca”, estudo realizado com crianças, que mostrou que a maioria (85%) apontou a boneca negra como feia e má – onde as crianças ouviram e aprenderam isso?
Muitos acreditam que o problema das crianças racistas são os pais, mas não é!
Mas temos uma sociedade muito preconceituosa e produz dentro de nós um transtorno de percepção de enxergar o negro como inferior – isto foi gerado e vem sendo formatado há séculos – não adianta só assinar a Lei Aurea a acreditar que está tudo resolvido, é preciso muito mais!”
O que podemos fazer?
Pedir ao Ministério da Educação que toda a produção intelectual e global, em todas as camadas, possa engajar o antirracismo.
De acordo com Alexandra, temos que fazer parte desta linda obra de arte que é reconstruir uma nova narrativa e isso vai demorar, mas temos que entender que as gotas são necessárias, metas são necessárias, porque sem elas, a sociedade nunca vai se reequilibrar, ou vamos demorar centenas de anos como é previsto por neurocientistas, mais especificamente 180 anos no viés étnico racial.
E como ser feliz no coletivo e no individual?
Ser feliz em todos os sentidos é uma escolha e uma prática – o empoderamento e a felicidade são práticas que precisam ser movimentadas diariamente e um poderoso fator nesta direção é a elevação e tomada da consciência humana.
Qual a melhor forma de combater a discriminação racial no Brasil?
É primeiro entender o que está dentro de todos nós, que o racismo não existe somente no outro, e então iniciar essa jornada dentro do nosso ser. E pedirmos e exigirmos por mudanças, isso vai trazer a transformação que esperamos ver no mundo.
Saiba mais:
COMO COMBATER A DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL?
Relatora:
Renata D Waksman
Coordenadora do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo
Presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo
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