O HPV (abreviação de papiloma vírus humano) é um vírus de alta contagiosidade, sendo o contato sexual o principal (mas não o único) meio de transmissão desta infecção. Para termos uma idéia da sua importância estima-se que cerca de 50% a 70% das pessoas com atividade sexual irão, em algum momento de suas vidas, se infectar pelo HPV. Após a infecção a grande maioria das pessoas consegue eliminar o vírus do organismo espontaneamente, não ocorrendo nenhum tipo de doença.
Entretanto, em um menor número de casos o HPV pode provocar o aparecimento de lesões na pele e nas mucosas, as chamadas verrugas ano-genitais (de aspecto parecido ao de uma couve-flor) ou lesões microscópicas que só são visíveis por meio de aparelhos com lente de aumento. Nos homens, estas verrugas podem ser encontradas no pênis (popularmente conhecidas como crista de galo), bolsa escrotal, no ânus ou ao seu redor. Nas mulheres, as lesões ocorrem principalmente na vagina, vulva, ânus e no colo do útero. O HPV pode, ainda, provocar infecção persistente entre os poucos casos em que o organismo não consegue eliminar espontaneamente o vírus. Estas pessoas têm maior tendência a desenvolver lesões associadas ao câncer, principalmente as mulheres.
É importante ressaltar que menos de uma em cada 100 mulheres infectadas pelo HPV desenvolverá câncer do colo do útero. Além disso, este tipo de câncer ou as lesões que o precedem (pré-cancerígenas) podem ser facilmente detectadas na maior parte dos casos, por exames preventivos (Papanicolaou) realizados em consultas ginecológicas.
Hoje, sabemos que mais de 99% dos tumores de colo de útero são causados pelo HPV. Existem mais de 100 tipos diferentes de HPV, entretanto, somente alguns deles (os chamados de alto risco – 16, 18, 31, 33, 45, 58 e outros) estão relacionados a tumores malignos. Os HPVs de tipo 6 e 11 geralmente se associam às papilomatoses laríngeas, verrugas genitais ou alterações benignas (anormais, porém não-cancerígenas) no colo do útero, apesar de poderem ser, raramente, encontrados em tumores malignos. Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) apontam, para este ano, o surgimento de 18.000 novos casos de câncer do colo do útero no Brasil. Além disso, o câncer do colo de útero representa a quarta causa de morte por neoplasia nas brasileiras.
Recentemente, foram desenvolvidas vacinas para prevenir a infecção pelo HPV, uma delas contendo dois de seus tipos (16 e 18), e a outra contendo quatro (6, 11, 16, 18). Aqui vale lembrar que os tipos 6 e 11 são responsáveis por cerca de 90% dos casos de verrugas genitais e os tipos 16 e 18, de alto risco, são responsáveis por 70% dos casos de câncer do colo do útero. Ambas vacinas demonstraram ser seguras e bem toleradas pelas voluntárias. Melhor que isso, as vacinas apresentaram elevada eficácia, tendo controlado entre 90% e 100% das infecções pelos tipos de HPV incluídos nas vacinas, além de prevenir entre 95% e 100% das lesões causadas por estes vírus.
A vacina quadrivalente (com os tipos 6, 11, 16 e 18) contra HPV, produzida pela Merck Sharp & Dohme, foi licenciada no Brasil e aprovada para mulheres entre 9 e 26 anos. São necessárias três doses da vacina sendo a segunda e a terceira doses administradas no segundo e sexto mês após a primeira dose. Além de prevenir o câncer de colo do útero, ela também previne as lesões pré-cancerosas causados pelos tipos 16 e 18 e as verrugas genitais. Ainda estão em andamento estudos para avaliar a eficácia desta vacina em homens e em mulheres com mais de 27anos.
A vacina só está disponível na rede privada de saúde do País. O Brasil poderá incorporar a nova vacina ao calendário anual de imunizações. Porém, isto depende ainda de inúmeros fatores como, por exemplo, a possibilidade de produção destas vacinas em nosso país. Esta é uma vacina profilática e, portanto, não tratará infecções por HPV existentes previamente, nem suas complicações. Além disso, é importante salientar que esta vacina não previne todos os tipos de HPV associados ao câncer de colo, enfatizando a necessidade das mulheres vacinadas de continuarem a realizar o exame preventivo (Papanicolaou) do câncer do colo do útero. Por ser uma vacina profilática, o ideal é que ela seja realizada o mais precocemente possível, antes do início da vida sexual. Portanto, a recomendação é que se inicie a vacinação já a partir dos 9 anos de idade, que é a idade mínima para a sua aplicação.
Relator: Dr. Marco Aurélio Palazzi Safadi
Secretário do Departamento de Infectologia da SPSP; Professor Assistente de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; Membro da Comissão Permanente para o Assessoramento em Imunização da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
Texto original divulgado em 08/09/2006.
Texto atualizado em 17/09/2007.