Pais e professores têm vivido um dilema que parece não ter fim nessa pandemia de covid-19, principalmente quando nos referimos às crianças com deficiência.
Por um lado, algumas crianças com deficiência podem ter questões comportamentais e/ou de saúde que as colocam em maior risco de adquirir essa infecção, ou ainda, uma evolução mais grave caso desenvolvam a doença de forma sintomática.
Isso se explica pela dificuldade, em alguns casos, sobre o entendimento das medidas de proteção (uso de máscaras, manter o distanciamento ou fazer a higiene frequente das mãos), pela maior dependência de terceiros (contato com maior número de pessoas, sejam familiares ou cuidadores), ou ainda, que precisem do uso de objetos que possam levar a um maior risco de contaminação (uso de cadeira de rodas ou andadores, por exemplo).
Em relação à saúde, consideramos que algumas dessas crianças possam apresentar certa desregulação em seu sistema imune e outras condições que as colocam numa situação de maior gravidade, caso sejam infectadas (doenças pulmonares, obesidade, e cardiopatias descompensadas, por exemplo).
Por outro lado, o aprendizado “cara a cara” com o professor, utilizando as estratégias que cada criança necessita, o brincar com seus pares nesse ambiente inclusivo (mesmo com as regras necessárias) e esse retorno a algo que remete à rotina, melhora a ansiedade, traz felicidade e certamente, contribui para um melhor desenvolvimento global. As aulas online têm sido um desafio para a maioria das crianças, seus pais e professores, que se esforçam todos os dias. O lado bom desse desafio é que a educação também está passando por mudanças, descobrindo diferentes estratégias para construir conteúdos e novas maneiras de ensinar e aprender.
Portanto, dentro desse dilema, o pediatra pode ajudar na orientação da família em relação a volta à escola, pesando os prós e os contras, considerando a singularidade de cada criança. Precisamos agir com empatia e acolhimento diante de tantas incertezas, medos e todas as inseguranças que estamos vivendo.
E aí vem aquela esperança que as vacinas cheguem logo para todos, incluindo as crianças! E quando falamos em vacinas para as pessoas com deficiência, devemos lembrar que é importantíssimo vacinar também seus familiares e cuidadores, e isso precisa estar nos planos nacionais de imunização.
As vacinas utilizadas até agora no Brasil e nos mais diversos países têm se mostrado seguras e uma ferramenta poderosa contra a covid-19. Então, quem já está elegível para receber a vacina, corre lá para um posto de vacinação!
É de extrema importância que os fabricantes e institutos de pesquisa incluam o quanto antes as crianças de todas as idades nos ensaios clínicos. Assim, teremos uma vacinação mais generalizada, que protegerá toda a comunidade, incluindo a população mais vulnerável e, entre elas, as crianças com deficiência.
Os pediatras terão um papel fundamental quando essas vacinas estiverem disponíveis, pois são os grandes incentivadores da vacinação e os orientadores dessas famílias. Vacina e escola: não tem combinação mais desejada!
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Relatora:
Ana Claudia Brandão
Coordenadora do Núcleo de Estudo sobre a Criança e o Adolescente com Deficiência da Sociedade de Pediatria de São Paulo
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