O surgimento de um país de dimensões continentais, falando um único idioma, amalgamado por uma cultura dominante, é um construto social dos mais improváveis. O nascituro dos anos 1500 “vingou” produzindo o “gigante pela própria natureza“, o “impávido colosso” – este imenso território geográfico observado pelo “Cruzeiro do Sul”, que acolhe uma nação, que é produto histórico de uma conjunção de fatores específicos.
As nossas origens como povo têm uma matriz bastante heterogênea, diversificada, desigual. Preponderou a influência do colonizador, branco, europeu e cristão, que amalgamou os outros constituintes desse caldo social – a matriz negra e a ameríndia, de forma coercitiva e de modo violento, gerando desigualdades e injustiças. Esse caldeirão de culturas e influências foi enriquecido, mais tarde, pelas diversas levas de imigrantes que contribuíram para o nosso desenvolvimento social e econômico: italianos, alemães, japoneses, espanhóis, árabes, letos, poloneses e muitos outros.
Somos um amálgama cultural, sincrético em fé e em valores.
Neste dia de comemoração da Consciência Negra se oferece ao país uma oportunidade para lembrar e repensar sua história. É um momento para reconhecer a herança cultural que moldou nossa nação de forma indelével, enriquecendo-nos com cores, ritmos e saberes que transcendem séculos. É um convite à reflexão sobre a persistência das desigualdades e injustiças que persistem em nossa sociedade. É um chamado à ação, para que possamos construir um Brasil mais justo, onde o respeito à diversidade seja a base sólida sobre a qual edificamos nosso futuro.
Alguém já disse que “A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar”, por isso, para continuarmos a evoluir em paz, segurança e prosperidade, com alegria, criatividade e harmonia, há necessidade de “corrigir os erros” que nossos antecessores cometeram. Que este dia nos inspire a construir pontes, derrubar barreiras e promover um Brasil onde cada cidadão, independentemente da cor de sua pele, sinta-se verdadeiramente valorizado e representado.
Lembretes essenciais, através de algumas frases de pessoas notáveis:
”Não sou descendente de escravos. Eu descendo de seres humanos que foram escravizados”. (Makota Valdina)
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor da sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender. E se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”. (Nelson Mandela)
Um exemplo histórico recente: os alemães souberam, após a Segunda Guerra Mundial, revisitar sua história. Implementaram políticas de Estado como uma forma de reconhecimento, responsabilidade e esforços para corrigir erros do passado por meio das gerações posteriores. Essas políticas de reparação ficaram conhecidas como “Wiedergutmachung” (palavra alemã para “fazer o bem novamente”). Faz bem a qualquer nação revisitar sua história, aprender com os erros, e fazer a justiça necessária em cada caso a reparar.
Relator:
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da SPSP