Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 22/04/2022
O “Dia Nacional da Família na Escola” foi instituído oficialmente, pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), para ser comemorado no País todo dia 24 de abril. A primeira comemoração desta data aconteceu em 24/04/2001.O lema motivacional desta comemoração intitula este artigo. Trata-se de um instrumento simbólico que tem a finalidade de aproximar e integrar a comunidade com a escola. Essa data é comemorada duas vezes ao ano, com uma programação própria desenvolvida à critério de cada unidade escolar, tanto pública quanto privada.
A escola não pode ser uma ilha isolada do conhecimento, nem tão pouco ela está desencarnada da realidade social subjacente ao seu entorno. Ela, ao contrário, sofre em seu interior os conflitos que são trazidos do meio externo – da comunidade, das famílias. A violência de fora também está dentro das salas de aulas, os desajustes das famílias refletem-se no comportamento das crianças e adolescentes, as dificuldades para a sobrevivência comprometem o rendimento escolar.
Nos muitos “brasis” deste país se multiplicam muitos tipos de escolas, refletindo, igualmente, as desigualdades sociais e econômicas da nossa sociedade. Entretanto, em todas as escolas espalhadas nestes diversos perfis, há um denominador comum: sem o fortalecimento deste tripé: família-criança-escola, não se atinge o objetivo básico comum, tanto para a família quanto para a escola, que é fazer desabrochar o potencial de toda criança e criar cidadãos capazes que possam contribuir para a concretização de uma sociedade justa, solidária, ética, compassiva e desenvolvida, e que sejam capazes de auto gerir os seus destinos.
Soma de esforços e divisão de responsabilidades, diz o slogan da campanha, que nos remete à pergunta: quando e como a família deve interagir com a escola?
Podemos elencar três grandes momentos:
1. Antes da criança entrar na escola.
É natural que os pais se preocupem com a escolha da escola na qual os filhos devem estudar (quando essa possibilidade de escolha for viável). É importante conhecer o ambiente físico, os espaços internos das salas de aulas, as áreas de convívio, os equipamentos esportivos, os recursos didáticos disponíveis, qual o projeto pedagógico escolhido, quais os valores éticos e/ou confessionais que a escola tem, reconhecer a segurança estrutural do ambiente. Para os pais que têm filhos em escolas públicas é muito relevante que aconteça o diálogo das famílias e da comunidade para aprimorar todos esses aspectos e participar da luta reivindicatória por melhorias. No setor privado, a escola é um elemento de escolha dos pais anterior à entrada do filho.
2. A continuidade da escola em casa.
A criança, ao retornar das aulas, em geral traz tarefas para casa. É de suma importância que os pais acompanhem os estudos dos filhos, supervisionem a execução das lições de casa, auxiliem nas dificuldades, apercebam-se delas e qualifiquem-nas, para trocar informações posteriormente com os professores. Esse trabalho implica em conhecer a agenda escolar, auxiliar a criança na disciplina e no método de estudo (e sempre lembrar que criança precisa ter horário para se alimentar, brincar e estudar, sem que haja concorrência de outros fatores que disputem sua atenção, como TV, celular, videogames e outros mais) e no preparo do material escolar necessário para cada dia de aula na escola. A escola em casa pode ser amplificada quando a família proporciona um ambiente cultural estimulador: dar livros para a criança ler, ler junto; assistir a filmes e discuti-los junto com seus filhos, comentar as notícias da TV e do jornal, solicitar que a criança emita sua opinião, deixá-la participar das atividades domésticas, distribuir tarefas, criar um ambiente de coletividade – “afinal somos um time, temos um objetivo”. Não se esqueçam de conhecer quem são as famílias dos amigos de seus filhos. Ajude-os a cultivar laços de amizade e proporcione uma rede social de proteção.
3. A participação da família na escola.
Participar das reuniões periódicas de pais e alunos, das reuniões da APM, ou equivalentes, é importante. A participação da família não deve se limitar apenas a questionar determinada conduta da professora, ou criticar a nota recebida, ou reclamar disso ou daquilo. Faz parte, mas não é só isso. A família, como representante de uma coletividade, pode contribuir para encontrar soluções criativas para problemas comuns, propor ações pedagógicas, mudar rotas curriculares e auxiliar na inserção dos alunos em atividades sociais solidárias.
Enfim, a integração escola/família é fundamental para criar os homens e mulheres que o país necessita. Sem o fortalecimento desse espaço dialógico, não transporemos os muros que impedem a criação de uma sociedade menos raivosa, menos elitista, menos egoísta. A escola não é um espaço de folga para os pais da cansativa tarefa de educar – é apenas mais um grande aliado. Escola e família são os grandes artífices de uma construção singular, extensa e extraordinária – moldam vidas, burilam personalidades, forjam cidadãos. Uma é dependente da outra e se retroalimentam.
Relator
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
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