Tuberculose na infância e adolescência

Tuberculose na infância e adolescência

Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 04/04/2022


No dia 24 de março foi comemorado o “Dia Mundial da Tuberculose” e não poderíamos deixar de lembrar desta doença tão impactante e fornecer importantes informações a seu respeito.

Baseados em evidências arqueológicas e históricas, admite-se que os primeiros casos do acometimento humano pela tuberculose, a “peste branca”, tenham ocorrido em múmias egípcias, há mais de 5000 anos a.C., as quais apresentavam anormalidades nas vértebras pela doença. Atualmente, estima-se que cerca de um quarto da população mundial esteja infectada pela bactéria da tuberculose. Apenas 5-15% dessas pessoas adoecerão com tuberculose ativa (doença) e as crianças, principalmente as menores de 5 anos, se encontram nesta prevalência.

A Organização Mundial da Saúde preconiza a End TB Strategy: um plano para os países reduzirem a incidência de tuberculosse em 80%, as mortes ocasionadas pela doença em 90% e eliminar os custos para as famílias afetadas até 2030.

Por outro lado, as políticas adotadas em resposta à pandemia pela covid-19, ainda em curso, impactaram no desempenho dos programas de prevenção e tratamento da tuberculose. Ao longo de 2020, estima-se uma diminuição global na detecção de casos numa média de 25% durante um período de 3 meses (em comparação com o nível de detecção antes da pandemia), elevando o total para 1,66 milhão de mortes por tuberculose nesse ano, próximo ao nível global de mortalidade pela doença no ano de 2015.

Muitos casos de tuberculose na infância são subnotificados pela dificuldade no diagnóstico nessa faixa etária. Estima-se 1 milhão de casos na população infantil mundial, sendo a doença responsável por 130 mil mortes por ano, o que faz com que a tuberculose seja uma das 10 principais causas de morte em crianças no mundo todo.

A tuberculose é um sério problema de saúde pública de especial importância em crianças e adolescentes, por ser um marcador de transmissão recente, ou seja, a criança teve contato com algum adulto com tuberculose pulmonar ativa recentemente. Os bebês e as crianças pequenas (menores de 5 anos) são mais propensos a desenvolver formas potencialmente fatais de tuberculose (por exemplo, tuberculose disseminada e meningite tuberculosa).


Como acontece a transmissão?

As bactérias da tuberculose (Micobacterium tuberculosis) se espalham no ar quando uma pessoa com tuberculose pulmonar (ou na laringe) tosse, fala ou canta e, então, são transmitidas de pessoa para pessoa através do ar. As pessoas próximas, principalmente dentro do próprio domicílio, escola, orfanato e creche podem inalar essas bactérias e se infectarem.

Os portadores de tuberculose nas formas pulmonar ou laríngea podem espalhar as bactérias para outras pessoas com quem convivem todos os dias. No entanto, as crianças são menos propensas a espalhar a bactéria para outras pessoas. Isso ocorre porque as formas de tuberculose mais comumente observadas em crianças são geralmente menos infectantes do que as observadas em adultos.


Sinais e sintomas

A forma mais comum de tuberculose na infância é a pulmonar, podendo causar sintomas como irritabilidade, inapetência, perda (ou não ganho) de peso, tosse e sudorese noturna, às vezes profusa, febre moderada e persistente, frequentemente vespertina, por mais de 15 dias. Esses sintomas podem ser confundidos com uma pneumonia por germes comuns, mas que não melhoram com o uso dos antibióticos usuais.

Nem todos os infectados com a bactéria da tuberculose ficam doentes. Como resultado, existem duas condições relacionadas à tuberculose: a infecção latente por tuberculose (ou seja, a pessoa teve contato com a bactéria, mas ainda não desenvolveu a doença pulmonar) e a doença ativa por tuberculose.

Aqui no Brasil foi publicado em 2019 o “Manual de Recomendações de Controle da Tuberculose”, pelo Ministério da Saúde, que traz informações do quanto à doença é impactante, seu diagnóstico, manejo e prevenção.

Avanços: um grande avanço no tratamento da doença foi a introdução das formulações dispersíveis (medicamentos solúveis e comprimidos dispersíveis com melhor aceitação em bebês e crianças pequenas), a adequação das doses e de esquemas encurtados para o tratamento da infecção latente. Vários estudos de vacinas estão em andamento, mas ainda não há um substituto licenciado para a vacina BCG.  

Ainda existem grandes desafios para melhorar o diagnóstico, o monitoramento e o desfecho dos casos em busca da eliminação da tuberculose, principalmente em crianças e adolescentes.

Saiba mais:


Relatora:
Karina Pierantozzi Vergani
Membro do Departamento de Pediatria da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia – SPPT
Membro do Departamento Científico de Pneumologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo

Foto: fam veldman | depositphotos.com