Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 06/04/2021
O terçol que aparece nas crianças, até mesmo em bebês, incomoda pela dor que causa quando a criança pisca e preocupa os pais, tanto pelo aspecto estético, quanto pelo tempo que leva para sarar.
O terçol é a inflamação que ocorre nas glândulas que temos na borda da pálpebra. Quando uma bactéria penetra na glândula e inflama por dentro, ela incha e dói, formando uma “bolinha” vermelha na pálpebra, muitas vezes com um ponto amarelo.
Em geral, essa contaminação ocorre pelas mãozinhas da criança ou por uma blefarite crônica (inflamação que afeta a borda da pálpebra, no local onde emergem os cílios), que forma crostas e seborreia no local, favorecendo o crescimento das bactérias.
O terçol só sara com a drenagem do conteúdo da glândula inflamada, que pode ser por dentro, via conjuntiva, ou pela pele. Essa drenagem deve ser espontânea, com ajuda de compressas mornas que amolecem o conteúdo e abrem o orifício de saída da glândula. Aplicar as compressas logo que se percebe o terçol, três a quatro vezes ao dia, de 5 a 10 minutos, inclusive aproveitando a hora do banho, o que ajuda na drenagem.
Quando existe uma blefarite associada, formando crostas e “caspinhas” na raiz dos cílios, que pode causar oclusão dos orifícios de saída da glândula, é necessária a limpeza com a espuma fina do shampoo neutro, para evitar a formação de novos terçóis. Fazer essa higiene nas crianças com blefarite no final do banho é um ótimo hábito que deve ser mantido.
Em alguns casos mais persistentes faz-se necessário associar pomada de antibiótico ocular tópico. E, nas crianças com múltiplos terçóis de repetição, o uso de antibióticos orais com efeito de quebra da gordura das glândulas por período prolongado pode ser indicado pelo oftalmologista.
Outras medidas que podem ajudar são a dieta sem frituras, sem chocolate e rica em alimentos com ômega 3.
Alguns terçóis não drenam totalmente e “sobra” uma bolinha sem inflamação, durinha, encapsulada, que é o calázio – que também pode ser causado pela obstrução da glândula pela própria gordura, que não se infecta, mas vai formando um granuloma endurecido.
Quando o calázio for pequeno, não se faz nada, pois o próprio organismo vai absorver com o tempo. No entanto, quando for grande, pode comprimir a córnea da criança e causar um astigmatismo, por mudança na curvatura. Por isso, deve ser diagnosticado e tratado com óculos.
A cirurgia de retirada da glândula doente ou a injeção de corticoide dentro do calázio pode ser realizada nos casos de calázio grande e persistente.
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Relatora:
Márcia Keiko Uyeno Tabuse
Presidente do Departamento Científico de Oftalmologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo
Fonte: Garrity J. Calázio e hordéolo (terçol). Kenilworth: Manual MSD; 2019.