SPSP – Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 16/10/2019
No dia 5 de outubro, foi realizado, na sede da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), o Café da Manhã com o Professor – Outubro Verde: eliminação da Sífilis Congênita: é possível?. Organizado pela Diretoria de Cursos e Eventos e pelo Grupo de Trabalho (GT) de Eliminação da Sífilis Congênita da SPSP, o encontro marcou o início da campanha Outubro Verde – Mês do Combate à Sífilis Congênita e teve por objetivo capacitar os profissionais de saúde da atenção primária e das maternidades a respeito da doença, enfatizando a importância do cuidado pré-natal da gestante como forma de prevenção, além de capacitar o neonatologista para abordar o recém-nascido exposto à sífilis na vida fetal.
A neonatologista Lilian dos Santos R. Sadeck, coordenadora do GT de Eliminação da Sífilis Congênita da SPSP, esteve à frente do evento. Ela salientou a importância em se ter o mês de outubro para discutir sobre as estratégias para prevenir a sífilis congênita e referiu que desde 2016 a SPSP vem realizando várias atividades em conjunto com a Coordenação Estadual de DST/Aids de São Paulo e a Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp).
Carmen Silvia B. Domingues (Coordenação Estadual de DST/Aids de São Paulo) destacou que a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima em 12 milhões de casos novos de sífilis adquirida, por ano, no mundo. No Brasil, foram 123 mil casos de sífilis adquirida em 2017. Segundo a especialista, dados de 2008 a 2018 mostram que, no País, a taxa de detecção de sífilis em gestantes aumentou em todas as regiões, principalmente sul e sudeste.
Com relação ao Estado de São Paulo, a médica apontou que de 2007 a 2018 foram 64.269 casos notificados de sífilis em gestantes e 27.689 de sífilis congênita. “A detecção da doença em gestantes aumentou de 2010 para 2018, passando de 3,5 para 20,8 casos/1000NV. Já a detecção da sífilis congênita passou de 2,0 para 6,6 casos/1000NV nesse mesmo período”, revelou.
No Município de São Paulo, Carmen mostrou dados até 2017, afirmando que o município é responsável por 35% dos casos de sífilis congênita e 38% das ocorrências da doença em gestantes no Estado. “Um dado importante é que em 2017 já conseguimos tratar adequadamente 90% das nossas gestantes no Estado, um índice muito positivo, mas que esperamos aumentar ainda mais”. A médica afirmou que houve uma redução no número de casos de sífilis congênita de 2016 para 2017 (6,7 para 6,5/1000NV).
Definição de caso e diagnóstico
Silvia Regina Marques, membro do Departamento de Infectologia da SPSP, informou em sua apresentação que foi lançado, em 2006, um manual para o controle da sífilis congênita – uma revisão das diretrizes vigentes desde janeiro de 2004. Além desse manual, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo/Programa Estadual de DST-Aids lançou, este ano, a edição atualizada do Guia de Bolso para o Manejo da Sífilis em Gestantes e Sífilis Congênita, trazendo quatro critérios de definição de caso para a doença. “Pelos critérios de diagnóstico na gestante, os testes laboratoriais devem ser feitos em duas etapas, uma de triagem e outra confirmatória”, esclareceu a infectologista.
Entretanto, de acordo com Silvia, independentemente da sistemática adotada para a triagem das amostras, é fundamental que toda amostra reagente seja submetida a um teste não treponêmico quantitativo e a um teste treponêmico. Para o diagnóstico laboratorial no recém-nascido (RN), a médica destacou a pesquisa direta do Treponema Pallidum (bactéria causadora da sífilis), os testes sorológicos treponêmicos e não-treponêmicos, líquor cefalorraquidiano e a radiografia de ossos longos. “Ainda podem ser feitos: radiografia de tórax, hemograma completo e bioquímicas (bilirrubinas e transaminases).”
Conduta neonatal frente ao RN exposto
Maria Regina Bentlin, presidente do Departamento de Neonatologia da SPSP, esclareceu que o tratamento completo para estágio clínico da sífilis com penicilina benzatina IM, iniciado até 30 dias antes do parto, foi definido como terapêutica adequada para a sífilis materna pela normativa do Ministério da Saúde (MS) publicada em 2017. “Gestantes que não se enquadrarem nesses critérios ficam com o tratamento inadequado”, explicou.
Na conduta frente ao RN exposto à sífilis, a pediatra enfatizou que o tratamento, no caso de líquor alterado, é feito com penicilina cristalina IV; se o líquor for normal, pode tratar com penicilina cristalina IV ou penicilina procaína IM. “Em RNs assintomáticos e exames normais, de mães inadequadamente tratadas (VDLR não reagente) ou adequadamente (VDLR reagente menor que na mãe), o tratamento é feito com penicilina benzatina IM”, orientou a médica.
Quanto às recomendações no seguimento pós-neonatal, deve-se dividir os RNs expostos à sífilis materna tratados no período neonatal e os não tratados. O primeiro grupo deve realizar exame clínico mensal até seis meses, depois aos 8, 10, 12, 18 e 24 meses; teste não treponêmico com titulação com 1, 3, 12, 18 e 24 meses; avaliação oftalmológica, neurológica e auditiva a cada seis meses nos primeiros dois anos; e teste treponêmico para sífilis após 18 meses. “Já para as crianças não tratadas, realizar exame clínico com 1, 2, 3, 6, 12 e 18 meses; teste não treponêmico com titulação com 1, 3, 6, 12 e 18 meses; e teste treponêmico para sífilis após 18 meses.”
Segundo a especialista, a única situação em que não é necessário tratamento para a criança exposta à sífilis é aquela nascida assintomática cuja mãe foi adequadamente tratada e cujo teste não treponêmico é não reagente ou reagente com titulação menor, igual ou até uma diluição maior que o materno. “Essas crianças não são notificadas na maternidade, mas devem ser acompanhadas na atenção básica, com seguimento clínico e laboratorial”, observou.
Por fim, Maria Regina ressaltou que para se atingir a meta da OMS e Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) é preciso melhorar a qualidade do cuidado pré-natal, com triagem e tratamento precoces, monitorização clínica de toda gestante e seus bebês, além da atenção ao tratamento do parceiro. “Precisamos reduzir a prevalência da doença e melhorar o seguimento dos RNs expostos”, concluiu a neonatologista.