Sífilis congênita: um desafio à saúde pública

Sífilis congênita: um desafio à saúde pública

A sífilis congênita é uma infecção transmitida da mãe para o bebê durante a gestação, causada pela bactéria Treponema pallidum. Essa transmissão pode ocorrer em qualquer período da gravidez e se não tratada de forma correta pode levar a sérias complicações, incluindo aborto, morte fetal, nascimento prematuro, baixo peso ao nascer e problemas de saúde em longo prazo, como surdez, alterações visuais e atraso no desenvolvimento.

A sífilis congênita é considerada um grave problema de saúde pública por todas essas complicações que ela pode ocasionar à criança, e por ser uma doença evitável, mas que infelizmente vem num aumento crescente do número de casos no nosso país.

Esse fato alerta para a necessidade de estratégias contínuas de prevenção, e neste sentido, desde 2016, a Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), em parceria com o Programa Estadual de IST/Aids de São Paulo, promove a Campanha do “Outubro Verde – Mês do Combate à Sífilis Congênita”.

Em 2017, foi sancionada a Lei nº 13.430, de 31 de março, instituindo o “Dia Nacional de Combate à Sífilis e à Sífilis Congênita”, comemorado no terceiro sábado do mês de outubro. Essas iniciativas têm por objetivo alertar a população sobre a importância do diagnóstico precoce e do tratamento da sífilis na gestante, pois essa é a melhor forma de prevenir que a doença seja transmitida ao recém-nascido.

Um dos principais desafios no combate à sífilis congênita é a falta de acesso a serviços de saúde adequados. Muitas gestantes não realizam o pré-natal, ou não fazem os testes necessários para detectar a sífilis, ou quando fazem o teste, acabam demorando para receber o resultado e consequentemente atrasando o tratamento. O diagnóstico precoce da sífilis na gestante é crucial, pois quando a infecção é identificada e tratada no início da gestação, o risco de transmissão ao bebê é drasticamente reduzido.

Por isso a testagem para sífilis deve ser realizada no início do pré-natal, no meio da gestação e no momento do parto. O tratamento da gestante é realizado com a administração de penicilina, que é altamente eficaz e pode evitar a transmissão da infecção ao feto. Entretanto, é importante a gestante saber que se ela tratar, mas não houver o tratamento das suas parcerias sexuais, ela pode se reinfectar e transmitir a doença para o bebê. É vital que as mulheres em idade fértil e as gestantes sejam informadas sobre a importância do pré-natal, dos exames de sífilis e do tratamento correto da doença para protegerem seus filhos.

Também é necessário que o bebê da mãe que apresentou sífilis na gestação seja testado ao nascer, para ver se ele tem a doença ou não, pois muitas vezes a doença é traiçoeira e o bebê pode nascer inicialmente sem sinais ou sintomas e vir a desenvolver a doença e suas complicações mais tardiamente.

O tratamento do bebê também é feito com penicilina; o tipo da penicilina a ser utilizada vai depender da clínica do bebê e dos resultados dos exames realizados, que podem incluir hemograma, raio X de ossos longos, exame do liquor, entre outros.

Após a alta da maternidade, todos os bebês de mães que tiveram sífilis na gravidez, independente de terem recebido ou não o tratamento, precisam de seguimento pediátrico, para as mães acompanharem o desenvolvimento da criança, repetirem a testagem para sífilis para ter certeza de que estão protegidos da doença e para fazerem outros exames sempre que necessário, incluindo a avaliação da visão e da audição.

A eliminação da sífilis congênita é um desafio porque requer um trabalho conjunto, que vai desde a conscientização das mulheres em idade fértil e gestantes, das suas parcerias sexuais, da realização de um pré-natal de fato adequado, da qualificação constante de profissionais de saúde, da participação ativa da rede de atenção básica no seguimento da gestante e da criança, da atuação das sociedades de classe, da participação de gestores no sentido de priorizarem políticas públicas e linhas de cuidado. Somente desta forma, integrada e consciente, é que conseguiremos modificar o cenário da sífilis congênita no nosso país.

 

Relatoras:

Lilian dos Santos Rodrigues Sadeck
Maria Regina Bentlin
Grupo de Trabalho da Prevenção e Tratamento da Sífilis Congênita da Sociedade de Pediatria de São Paulo