De 1 a 8 de fevereiro, acontece no Brasil a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, instituída pela Lei nº 13.798/2019, para conscientização, prevenção e redução dos números de casos no Brasil.
Alguns fatos são claros (ou deveriam ser!) quando analisamos a questão da gravidez na adolescência:
O que contribui para que ocorra com tanta frequência?
Entre os principais fatores relacionados a esta incidência tão alta, temos: renda familiar insuficiente e baixa, educação deficiente ou abandono dos estudos, oportunidades limitadas para ingresso no mercado de trabalho, perpetuação do ciclo da pobreza, falta de informações sobre saúde, direitos sexuais e reprodutivos e aumento da violência sexual.
E quanto aos pais, cuidadores e responsáveis por estes adolescentes, o que podem fazer para orientá-los e ajudá-los a prevenir a gravidez?
Seguem algumas dicas, adaptadas de: Nelson, P.T. (Ed) (2012). 10 Tips for Parents in Families Matter! A Series for Parents of School-Aged Youth. Newark, DE: Cooperative Extension, University of Delaware.
1- Conversem com seus filhos desde cedo, de forma honesta, aberta e numa linguagem clara e sucinta. Não esperem que perguntem espontaneamente, iniciem a conversa. Escutem com atenção o que eles têm a dizer, se entenderam o que foi falado e o que gostariam mais de saber. Importante destacar as diferenças entre amor e sexo, como funcionam os relacionamentos e todas as partes do corpo. É importante que saibam os valores e crenças de vocês e que estão à disposição para conversar sobre tudo que estão pensando ou quais são suas preocupações.
2- Supervisionem e monitorem as atividades de seus filhos. Saibam onde estão o tempo todo ou se estão sendo supervisionados por adultos atentos e responsáveis. É melhor serem acusados de intrometidos e enxeridos, do que de pais que não se importam!
3- Conheçam e convivam com os amigos de seus filhos e suas famílias. Tenham sempre em mente a enorme influência que seus pares podem exercer. Estimulem seus filhos a convidar amigos para vir em casa e conversem com eles regularmente. Conversem com os pais dos amigos sobre as regras e expectativas com relação aos filhos.
4- Saibam o que seus filhos estão assistindo, lendo e ouvindo. Sejam “alfabetizados em mídia”. Como é impossível controlar totalmente o que veem e ouvem, ensinem a pensar de forma crítica, conversem sobre o que estão aprendendo com o que assistem e as músicas que ouvem. É aconselhável não terem TV e os celulares serem desligados e deixados fora do quarto nos momentos de descanso.
5- Ajudem seus filhos adolescentes a terem opções para o futuro que sejam muito mais atraentes do que a gravidez precoce e a paternidade. Façam com que percebam que tornar-se pai ou mãe pode atrapalhar seus planos e sonhos. Estejam ao lado deles para definir metas reais e significativas para o futuro. Conversem sobre o que precisam fazer para alcançar seus objetivos e ajudem-nos a alcançá-los.
6- Enfatizem o quanto vocês valorizam a educação. Definam expectativas para o desempenho escolar de seus filhos, acompanhem a vida escolar deles e intervenham logo se não vão bem na escola – o fracasso e abandono escolar são importantes fatores de risco para a paternidade adolescente.
7- Sejam claros sobre seus próprios valores e atitudes sexuais. Será muito mais fácil conversar com os filhos pensando em algumas questões, como: sua opinião sobre adolescentes em idade escolar sexualmente ativos e tornando-se pais; o que pensam de namoro precoce; sobre adolescentes que namoram pessoas mais velhas ou mais jovens do que eles (mais do que 2 anos); quem deve definir os limites no relacionamento e como isso deve ser feito; o que acham de adolescentes que usam anticoncepcionais; apoiam ou não serem sexualmente ativos na adolescência; o que pensam sobre a abstinência sexual nesta fase. E imaginem se as respostas de vocês a estas questões vão afetar o que vai ser dito a seus filhos.
8- Esforcem-se para que o relacionamento entre vocês seja de confiança e respeito mútuos, caloroso e afetuoso, mas firme na disciplina e rico na comunicação. Escutem com atenção o que seus filhos dizem e atente-se ao que eles fazem, reforçando sempre que devem se sentir bem com isso. Não comparem uma criança com outra, deixem ela saber que é única. Tentem fazer pelo menos uma refeição em família todos os dias. Usem o tempo juntos para conversar e não para discutir ou ficar nas mídias sociais.
9- Estejam preparados para responder, de forma clara e franca, a perguntas do tipo: Como vou saber que estou apaixonado? Quando estarei pronto para o sexo? O sexo vai me aproximar do meu namorado(a)? Fazer sexo vai me tornar mais popular? Como posso dizer que não quero fazer sexo, sem ferir os sentimentos ou perder a pessoa? Como reagir quando for pressionado para fazer sexo? Devo usar qual método de contracepção? Qual é o mais seguro e que funciona melhor? Posso engravidar na primeira vez?
E quais seriam as respostas mais adequadas?
Não temos como saber, uma vez que cada família e todos os seus membros podem ter diferentes valores, crenças, ideais, noções de respeito, empatia, honestidade e autonomia e usam, em menor ou maior grau, as lições e experiências de vida como aprendizado, tentando manter relações saudáveis e convivência em harmonia.
As respostas mais “pé no chão” poderiam ser:
“Acho os riscos de AIDS, outras doenças sexualmente transmissíveis e de gravidez muito grandes. Vocês precisam ter maturidade e saber se proteger sempre que fizerem sexo, até que se sintam prontos e preparados para ter um filho”.
“Pense à frente como você poderá lidar com diferentes situações – tem um plano? Estará preparado? Vai usar medidas de proteção e anticoncepção? Se sua ideia for dizer não, terá força suficiente para mantê-la? Como vai lidar e negociar com tudo isso?”
“Fazer sexo não é o preço que você deve pagar por um relacionamento íntimo. É natural e normal ter desejos sexuais e pensar em sexo. Não é normal engravidar sem estarem preparados e prontos para isso; ter um bebê não transforma um menino em homem ou uma menina em mulher”.
E lançamos duas afirmações de peso, para que reflitam sobre elas:
– Falar com os filhos sobre sexo não vai incentivá-los a se tornarem sexualmente ativos;
– Crianças de todas as idades desejam um relacionamento próximo com seus pais e anseiam por sua ajuda, aprovação e apoio.
Relatores:
Renata D Waksman
Moises Chencinski
Coordenadores do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo