Texto divulgado em 18/11/2022
Aconteceu nesta volta de feriado de 15 de novembro um aumento nas consultas de pronto-socorro, por conta de uma dermatite pruriginosa em crianças que estiveram na praia, especialmente no litoral de São Paulo. A característica comum de todas elas era de lesões papuloeritematosas disseminadas em tronco, abdome, axilas e virilha, de caráter extremamente pruriginoso. Algumas crianças referiram sensação de prurido logo ao entrar na água do mar, mas com o surgimento das lesões após 24 horas da exposição ao banho de mar. Apesar de clinicamente sugerir um processo alérgico, o alerta veio por um paciente de 9 anos, que retornou da praia de Santos e que foi atendido no pronto-socorro.
Ele trouxe a hipótese de “piolho-de-água-viva”. De fato, buscando na literatura, ele estava certo! Trata-se da seabather’s eruption ou prurido do traje de banho ou piolho-do-mar, uma dermatite que foi relatada pela primeira vez em 1939 por um médico da Flórida. No Brasil, os primeiros relatos foram observados nas praias de Ubatuba e publicados em 2001 por Haddad Jr. e colaboradores.
O prurido do traje de banho caracteriza-se por uma dermatite pruriginosa causada por larvas pequenas de água-viva, como a Linuche unguiculata e E. lineata (invisíveis a olho nu), que ficam presas nos trajes de banho e que quando sofrem atrito, disparam seus nematocistos e liberam toxinas que induzem a resposta imunológica com prurido intenso e lesões papuloeritematosas. Geralmente é limitada à pele, mas em poucos casos, pode ter manifestações sistêmicas, como febre, náuseas e calafrios. O tratamento se faz com anti-histamínicos de segunda geração (p. ex.: fexofenadina) e corticoide tópico em alguns casos, além de medidas para aliviar o prurido. A duração dos sintomas pode ser de até duas semanas.
A maneira mais segura para evitar a dermatite é ficar fora da água, mas como é uma orientação não tão fácil, especialmente quando se trata de crianças, o importante é não secar com toalha ao sair da água, para evitar a expressão dos nematocistos, lavar bem o corpo e as roupas de banho com água corrente.
A Sociedade de Pediatria de São Paulo destaca que diagnósticos e terapêuticas divulgados neste texto são exclusivamente para ensino e utilização por médicos.
Referências:
1. Prohaska J, Jamal Z, Tanner LS. Seabathers Eruption. [Updated 2022 Aug 8]. Copyright © 2022, StatPearls Publishing LLC. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/
2. Rosseto AL, et al. Prurido do traje de banho: relato de 6 casos no Sul do Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 40(1):78-81, jan-fev, 2007.
Relatora:
Milena de Paulis
Pediatra Especialista em Emergências Pediátricas pela SBP e ABRAMEDE
Membro do Departamento Científico de Emergências da Sociedade de Pediatria de São Paulo