Crianças recém-nascidas estão sujeitas a uma infinidade de situações que podem causar danos à sua visão e prejudicar seu desenvolvimento. Entre essas patologias nós encontraremos a retinopatia da prematuridade, uma doença que, quando não identificada corretamente, pode provocar danos à visão da criança. Bebês que nascem com 32 semanas ou menos e/ou com peso ao nascer menor que 1.500 g correm o risco de desenvolvê-la.
A seguir abordamos esse tema e suas principais características. Confira e saiba como tratar e prevenir.
O que é a retinopatia da prematuridade?
Conhecida pela sigla ROP, a retinopatia da prematuridade é uma doença que atinge especificamente as crianças que nasceram prematuras – como o próprio nome sugere, principalmente, em crianças que nasceram em um período inferior a 32 semanas e com peso abaixo de 1.500 gramas.
É importante ressaltar que quando não tratada devidamente, ela poderá ocasionar perda visual grave, podendo levar até mesmo à cegueira.
A vascularização da retina se completa, em parte, em torno das 36 a 40 semanas de gestação. O aparecimento dessa patologia ocorre porque há uma interrupção na formação dos vasos sanguíneos da retina, pelo nascimento prematuro. Nesses bebês, esses vasos se desenvolvem de maneira desordenada e isso pode ocasionar sangramentos, além do descolamento da retina.
Entretanto, não é apenas o fator prematuridade o responsável pela ROP. Outro grande motivo para isso é o baixo peso e uso de oxigênio nas UTIs neonatais: o oxigênio recebido pela criança provoca ainda mais desorganização no desenvolvimento desses vasos.
Importante salientar que fatores externos como luz natural ou artificial, flashes de câmeras fotográficas e luz de telas como televisores, tablets e smartphones nada contribuem para o surgimento e avanços da doença.
A título de esclarecimento, quanto mais complicações o recém-nascido tiver em relação à sua saúde, mais chances tem de ter essa doença visual.
Por isso, a importância de um acompanhamento no pré-natal monitorando qualquer anormalidade e fazendo os exames solicitados pelo médico nessa fase gestacional.
A classificação da retinopatia da prematuridade é feita da fase 1 a 5, sendo 5 o estágio mais grave.
Quais são os sintomas e como é feito o diagnóstico da ROP
Essa é uma parte muito sensível quando tratamos da ROP. Em linhas gerais, a retinopatia da prematuridade não apresenta sintomas, o que torna muito complicada a sua identificação. O diagnóstico depende de um exame específico e muito cuidadoso, realizado pelo especialista em oftalmologia neonatal.
Com tecnologia de mapeamento e análise da retina, produz-se imagens digitais de alta resolução que auxiliam os profissionais a direcionarem o diagnóstico e o tratamento.
Vale ressaltar que devido à falta de sintomas, esse profissional deverá examinar os olhos do bebê com regularidade. Isso é fundamental para que o diagnóstico seja feito o mais precocemente possível, evitando maiores complicações para a saúde da criança.
Em boa parte das vezes, a ROP é caracterizada como leve e nem requer tratamento. Entretanto, mesmo assim, os bebês que se enquadram nessa situação precisam ter seus olhos avaliados regularmente por um oftalmologista infantil até o desenvolvimento completo dos vasos sanguíneos.
Prevenção e tratamento
Em boa parte das situações envolvendo a retinopatia da prematuridade é possível verificar que ela se resolve por si só. Entretanto, podemos ter uma situação mais grave, na qual as crianças recém-nascidas terão que passar por tratamentos para impedir o avanço da ROP e evitar a perda da visão. E nesses casos, algumas das alternativas usadas para solucionar o problema são as descritas a seguir:
Cirurgia a laser: Esta forma de tratamento é a maneira mais comum de se corrigir a retinopatia da prematuridade. Basicamente, ela consiste em aplicações de raios laser no globo ocular do bebê. O objetivo é impedir que os vasos sanguíneos que estão deslocando a retina continuem crescendo de forma anormal. É importante destacar que esse tipo de tratamento somente é feito por meio de cirurgia geral, para que o bebê não se sinta desconfortável, não fique agitado ou tenha dor.
Vitrectomia: Trata-se de um procedimento cirúrgico aplicado nas situações em que a retinopatia da prematuridade se encontra em estado avançado. A finalidade é efetuar a retirada do gel comprometido, situado dentro do globo ocular, para fazer a substituição por uma substância de aspecto transparente.
Faixa cirúrgica: A colocação de uma faixa cirúrgica é feita nos casos em que a ROP avançou gravemente, afetando a retina, que começa a se soltar do fundo do globo ocular da criança. Aqui, uma faixa cirúrgica, de tamanho adequado, é colocada em volta do olho, com a função de fazer com que a retina permaneça no lugar correto.
Injeção intravítrea de anti-VEGFs: Elas são compostas de medicamentos que atuam na formação da neovascularização retiniana. Ela recebe esse nome por ser aplicada dentro do olho, no gel vítreo. Esse tratamento é recente e vem sendo aplicado em diversas doenças oculares, entre elas a retinopatia da prematuridade.
Nesse sentido, cabe uma observação importante: como o procedimento ainda é novo. não há dados que apontem quais os reais efeitos com o passar do tempo. Por isso, mesmo após ter realizado o tratamento com sucesso é recomendado que a criança mantenha uma rotina de visitas ao oftalmologista.
AS INJEÇÕES INTRAVÍTREAS DE ANTI-VEGF são feitas COM ANESTESIA LOCAL.
Por fim, vale ressaltar mais uma vez: crianças que receberam o diagnóstico da retinopatia da prematuridade precisam realizar consultas anualmente com o especialista na área. Elas correm mais riscos de desenvolver alguns dos mais comuns problemas visuais com o tempo, a exemplo do estrabismo, glaucoma, ambliopia e miopia.
Relator:
Marcelo Alexandre A. C. Costa
Vice-Presidente do Departamento Científico de Oftalmologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo