A anemia é muito frequente em crianças e adolescentes e tem como causa principal os déficits nutricionais. Atualmente, as dietas vegetarianas e veganas, assim como outras alternativas, têm se tornado mais habituais, especialmente na população mais jovem. Estima-se que 3% da população nos Estados Unidos seja vegetariana (sendo 8% dos adolescentes) e 1,5%, veganos.
Vamos entender o que significa:
Vegetarianos: não ingerem carnes em geral.
Semi-vegetarianos: ingerem carne ocasionalmente (vermelha ou branca).
Pescetarianismo ou piscitarianismo: peixes e mariscos estão incluídos na dieta. Enquanto os vegetarianos-pescetarianos consomem leite e ovos, os veganos-pescetarianos excluem esses alimentos da dieta.
Ovolactovegetarianos: ovos, leite e produtos lácteos incluídos; sem nenhuma carne.
Lactovegetarianos: leite e produtos lácteos incluídos na dieta, sem ovos ou carne.
Macrobiótica: consomem grãos integrais, vegetais, legumes, algas marinhas e frutas cultivadas localmente. Nesse caso, carne branca ou peixe de carne branca são aceitos até duas vezes na semana.
Veganos: sem nenhum produto de origem animal. Além da preocupação com a dieta, é uma ideologia que procura excluir, na medida do possível e praticável, todas as formas de “exploração e crueldade” para com os animais, tanto para consumo alimentar (ovos, leite e derivados, mel etc.) quanto de produtos de vestimenta, adorno, entre outros.
As dietas restritivas podem satisfazer as necessidades nutricionais de crescimento e desenvolvimento, porém precisam ser planejadas com atenção
Efeitos gerais na saúde
Quanto mais restritiva for a dieta, maior o risco de inadequação alimentar. Os maiores riscos para a ingestão inadequada de nutrientes de uma dieta vegetariana ocorrem durante períodos de crescimento.
As dietas vegetarianas estão associadas a menor incidência de obesidade, doença coronariana, hipertensão e diabetes tipo 2. Estudos sugerem que a dieta lactovegetariana tem menores riscos para a saúde do que a vegana, porém não existem dados conclusivos sobre os benefícios e ameaças para crianças e adolescentes. Há dificuldade em analisar os dados, pois se misturam com estilos de vida, maior atividade física e redução de tabagismo e alcoolismo.
Atenção à deficiência de ferro e vitamina B12
As crianças que apresentam taxas de crescimento rápidas aumentam as necessidades de ferro, desenvolvendo problemas de falta desse mineral com ou sem anemia, com prevalência variável.
As consequências da deficiência de ferro incluem desde comprometimento do desenvolvimento cognitivo e motor, da capacidade de concentração, problemas comportamentais, cansaço, até alterações cardíacas em situações extremas. As preocupações sobre o consumo do ferro para crianças vegetarianas são baseadas nas diferenças entre ferro heme (carne) e ferro não heme (vegetais). Isso porque o ferro não heme possui absorção comprometida por outros componentes da dieta (chás, fibras, leites).
A vitamina B12 (cobalamina) é encontrada apenas em alimentos de origem animal (carne, peixe, ovos e laticínios). Suas reservas são armazenadas principalmente no fígado e a sua deficiência acontece lentamente, o que justifica as manifestações clínicas pouco características iniciais. A deficiência de vitamina B12 se desenvolve em quatro a seis meses em bebês ou um a dois anos em adolescentes e adultos. Os veganos têm risco maior de deficiência de vitamina B12.
A prescrição de medicamentos para a suplementação de ferro e vitamina B12 pode ser necessária nas dietas mais restritas.
As dietas vegetarianas podem satisfazer as necessidades nutricionais de crescimento e desenvolvimento, porém precisam ser planejadas com atenção aos seguintes possíveis nutrientes limitantes: calorias (fonte de energia), proteínas, ferro, zinco, cálcio, vitamina D, vitamina B12 (cianocobalamina), ômega-3 de cadeia longa ácidos e fibra dietética. O risco de anemia é mais alto que nas dietas tradicionais.
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Relatora:
Dra. Celia Martins Campanaro
Departamento Científico de Hematologia e Hemoterapia da SPSP.
Publicado em 28/08/2019