Texto divulgado em 21/12/2022
Gambatte não é só uma palavra japonesa: é uma forma de ver a vida, uma atitude que se pode aplicar no dia a dia; é uma ferramenta para elevação do ânimo, um norte para não se cair na letargia e no desânimo, em meio a desventuras inesperadas.
Gambatte está impregnada na cultura japonesa e traduz muito da capacidade de resiliência e de superação que esse povo tem mostrado em situações de grande sofrimento e transtorno, como na II Guerra Mundial, no acidente nuclear de Fukushima, nos tsunamis e terremotos frequentes.
A leitura do livro “Gambatte – a arte japonesa de fazer o melhor possível com o que se tem, de Nobuo Suzuki, Rio de Janeiro: Sextante, 2022”, é a inspiração para este artigo.
Gambatte pode ser traduzido como: “faça o melhor possível e não desista”.
Essa filosofia tem origem no estoicismo grego. Um dos grandes representantes dessas ideias foi o Imperador Marco Aurélio, que disse esta frase: “Você tem poder em sua mente, não sobre os acontecimentos. Perceba isso e encontrará a força”. Confúcio segue linha idêntica de pensamento: “Sua vida é criada por seus pensamentos. Você é o que pensa.”
Estas palavras podem ser traduzidas assim: a vida é uma caminhada que nos demanda esforço. O “chegar lá”, o sucesso, é um longo percurso, mas que demanda um primeiro passo. O início é sempre o mais difícil; uma vez dado, vem a autoconfiança, que capacita para dar os passos seguintes, um após o outro.
Detalhe importante foi captado por dois personagens mais perto da nossa época. Picasso: “A inspiração existe, mas ela precisa nos encontrar trabalhando” e Woody Allen: Oitenta por cento do sucesso consiste em estar lá”.
Costumo dizer que “a melhor Residência é aquela onde está o Residente, desde que ele traga o melhor de si.” Residência e Gambatte!
Seguem, então, 10 dicas de Gambatte para médicos(as) residentes, seguindo a óptica do livro citado:
- Esforce-se o máximo que puder (Isso significa gambatte)
Significa dar o melhor de si a cada momento da Residência Médica, segundo a sua capacidade.
- Esquente a pedra (desses três anos de formação pediátrica)
Como o ditado japonês que convida a se sentar durante três anos para derreter um obstáculo, o sucesso não depende de um esforço pontual e desmesurado, mas a constância naquilo a que você se propôs. ”Um pouco a cada dia”.
- Seja flexível e resiliente
Seu esforço deve se ajustar à mudança dos estágios da Residência: cada um tem uma peculiaridade e desafios específicos. Seja flexível como o junco, que se inclina sob o vento forte, mas não quebra. Seja, entretanto, leve como o vento. O humor traz leveza à vida.
- Olhe para os seus pés e para o horizonte ao mesmo tempo
Concentre-se em cada passo, em suas rotinas diárias, mas, ao mesmo tempo, tenha em mente seus planos de longo prazo. “Que pediatra você quer ser”?
- Os rituais são mais importantes do que as metas
Um projeto concluído é fruto de hábitos concretos que se aplicam dia a dia até que você consiga aquilo a que se propôs. Concentre-se no caminho, dedique tempo para o estudo, com método e disciplina, para chegar melhor ao destino.
- Tudo começa na mente
Planeje a sua semana de estudos. Reserve, também, um tempo para cuidar da sua mente e do seu corpo.
- Tenha paciência
A Residência já é um grande prêmio aos seus esforços anteriores. Desfrute desse tempo de aprendizado, da interação com os colegas e preceptores; compartilhe experiências, não se isole, divida as suas ansiedades.
- Nunca deixe de aprender
Seja curioso(a) e mantenha a mente sempre aberta a ideias novas. Pergunte sempre. Lembre-se que o seu grande mestre será sempre o seu paciente. Escute-o com atenção. Examine-o. Acompanhe-o. Dialogue com os familiares.
- Traga seu coração para o seu trabalho
Se o seu caminho (a Residência) tiver o seu coração, será um bom caminho; chegará ao destino desejado e a viagem será gostosa, porque ele te encorajará e fortalecerá.
- Desenvolva o seu profissionalismo
Execute com diligência as suas ações. Respeite o paciente e os familiares, exercite a camaradagem entre seus pares. Respeite os colegas das outras áreas interdisciplinares, pois executam funções complementares e indispensáveis. Encontre “espelhos” entre aqueles que te ensinam e siga seus exemplos.
Relator:
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da SPSP