O conceito de refluxo gastroesofágico (RGE) é a regurgitação do conteúdo gástrico, gasoso ou líquido, que ascende o esôfago e atinge a laringe e faringe. É uma afecção prevalente em 20% das crianças normais até os dois anos de idade. Essa prevalência aumenta para 70% em crianças portadoras de afecções neurológicas e de más formações na laringe, traqueia e esôfago.
O RGE é um evento frequente em recém-nascidos, principalmente quando prematuros, e diminui gradualmente com a idade e maturidade. É mais raro a partir dos dois anos de idade. Ocorre pela imaturidade anatômica e funcional do esfíncter esofagiano inferior, uma válvula que separa o estômago do esôfago.
Considera-se como doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) quando o RGE é frequente, intenso e prolongado, em que a secreção gástrica e ácida induz a sintomas nas vias respiratórias. A exposição intensa da mucosa do esôfago e respiratória ao conteúdo gástrico provoca uma inflamação de origem química e também deflagra respostas reflexas na laringe e brônquios. Nestes casos, a criança irá apresentar sintomas digestórios ao lado dos sintomas respiratórios.
As manifestações gastrointestinais são a regurgitação e ou vômitos pós-alimentares, pirose (azia ou queimação), desconforto gástrico e baixo desenvolvimento ponderal. As manifestações respiratórias são o choro e a voz roucas, “tosse de cachorro”, dificuldade respiratória sugestiva de asma, broncopneumonia, faringite, rinossinusite e otite média, sendo todas estas afecções repetitivas nos dois primeiros anos de vida. Um resumo dos principais sintomas digestivos e respiratórios está exposta a seguir:
Manifestações gastro-intestinais | Manifestações em vias respiratórias |
Epigastralgia (dor abdominal na altura do estômago) | Laringite estridulosa / Estridor laríngeo |
Regurgitação / Vômitos frequentes | Laringoespasmo / Dispneia(falta de ar) / Apneia(interrupção da respiração) |
Globus faríngeo (sensação desconfortável de sentir um “nó na garganta”) | Pneumonia por aspiração |
Halitose | Sibilância (chiado no peito) |
Pirose (azia ou queimação) | Tosse crônica |
Anemia ferropriva (deficiência de ferro) | Voz rouca |
Peso corporal baixo p/idade | Faringites / Rinossinusite / Otite média |
O conjunto de exames para confirmar a DRGE é amplo. Os mais utilizados estão demonstrados no quadro abaixo:
Exame | Objetivo do exame |
Cintilografia gastroesofágica
Rx contrastado |
Refluxo
Refluxo |
Endoscopia digestiva alta | Hérnia de hiato
Gastrite e Esofagite |
pH-metria esofágica | Variação significativa do pH esofágico |
Na DRGE, as vias respiratórias inferiores, principalmente a laringe, são acometidas de forma mais intensa e frequente que as vias respiratórias superiores. A laringite estridulosa e o estridor laríngeo são as afecções mais comuns. Estas manifestações ocorrem pelo efeito lesivo do conteúdo gástrico ácido na laringe. A nasofaringolaringoscopia é um exame complementar que o otorrinolaringologista utiliza para avaliar a repercussão da DRGE na faringe e laringe.
A tosse crônica tem prevalência de 15% entre portadores de DRGE. A tosse provoca o aumento da pressão intra-abdominal, o que favorece maior frequência de RGE. A sibilância e falta de ar presente durante o sono têm alta possibilidade de estarem relacionadas à DRGE, induzidas por depuração esofágica mais lenta.
As broncopneumonias aspirativas ocorrem principalmente durante o sono, quando o RGE é intenso e a criança aspira o conteúdo gástrico para a traqueia e brônquios. São manifestações severas com importante desconforto respiratório e, na maioria dos casos, necessitam de tratamento hospitalar.
O papel da DRGE nas sinusites crônicas e na otite média crônica secretora permanece incerto e questionável. A DRGE tem influência definida nas afecções faringo-laríngeas e no restante das vias respiratórias inferiores.
As medidas preventivas para o RGE e minimizar a DRGE são simples e eficazes:
• No lactente favorecer a amamentação materna
• Estimular a eructação (arrotar) após as mamadas
• Nunca dar de mamar ou oferecer a mamadeira com a criança na posição deitada
• Aguardar no mínimo trinta minutos entre mamar e deitar
• Nas crianças maiores de 1 ano evitar as mamadas noturnas
• Nas crianças maiores de 1 ano com RGE frequente:
• Utilizar berços com cabeceira elevada a 30º
• Evitar bebidas gasosas, chocolate, café e menta
• Uso de espessantes alimentares nos casos mais severos
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Relatores:
Dr. Ney Penteado de Castro Jr.
Dr. Leonardo da Silva
Departamento de Otorrinolaringologia da SPSP.
Publicado em 10/12/2014.
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