Estamos vivendo um momento sem precedentes. Frente à pandemia de Covid-19 e à instituição do isolamento social, as escolas fecharam. E agora, pais? Como fica o aprendizado das crianças?
Vários desafios foram criados além do aprendizado acadêmico. A família fica em casa e muitos pais estão trabalhando nesse ambiente. Então, quem cuida dos pequenos? Quem faz a comida?
As escolas vêm tentando várias estratégias: desde a iniciativa de adiantar as férias, assim como enviar tarefas por e-mail e redes sociais, pequenas atividades em vídeo e até mesmo a implantação do sistema de ensino à distância, com aulas online sendo transmitidas da sala de estar de professores para a sala da casa de cada aluno. Mas nem todos têm computadores, tablets ou smartphones suficientes para compartilhar com as crianças. É importante entender que o ensino online ou à distância requer muitas adaptações, que vão depender da fase da criança.
Os pais podem informar as crianças sobre o que está acontecendo, usando linguagem adequada para cada idade. Isso ajuda a entenderem o isolamento como uma medida de proteção, que permite diminuir a transmissão de uma doença que ocorre nesse momento. E, por isso, o estudo está sendo feito fora do ambiente escolar, mantendo a rotina de aprendizagem, dentro do possível.
Deve-se escolher um local adequado para as tarefas da escola: iluminado, mesa organizada, cadeira apropriada, material escolar – tudo como se a criança estivesse na escola. Computador e acesso à internet, se possível, também são ferramentas de apoio ao estudo.
Os pequenos que continuam com atividades escolares precisam ser assistidos nos momentos de execução. Os pais têm papel fundamental no apoio e auxílio na resolução das tarefas que foram propostas pela escola, podendo contribuir para manter o foco nas lições, ajudando no acesso online e envio de tarefas. Fique claro aqui: ajudar, não fazer por eles.
Muitas crianças iniciaram agora seu processo de leitura ou de alfabetização e devem receber apoio dos pais, estimulando a continuidade do processo de aquisição da linguagem. Algumas atividades são recomendadas, como leitura de livros infantis em voz alta, de rótulos de produtos vindos do supermercado, entre outros. Nos horários livres e finais de semana, pode-se reunir a família para jogos de tabuleiro, cartas com sílabas, jogo de memória, etc.
Não se deve esquecer que uma das funções da escola é o convívio com os colegas, que permite a socialização e criação de vínculos, estendidos para fora dos portões da escola quando se recebe amigos para brincar ou vai à casa deles ou nas brincadeiras com a turma do prédio. Mas, esses momentos não são possíveis agora, então o convívio pode ser mantido com telefonemas ou vídeo chamadas, com a ajuda dos pais.
E os adolescentes?
Os adolescentes já dominam atividades online, porém a responsabilidade das atividades escolares é deles, que em breve serão adultos. Os pais apenas supervisionam. É papel fundamental dos pais estabelecer regras e horários de atividades! Ajudar o adolescente a criar a rotina é mandatório, evitando dormir tarde e acordar tarde. Deve-se cumprir o horário de estudos e de refeições. E até mesmo um tempo para ficarem sozinhos, em seu canto.
O isolamento social é particularmente difícil para os adolescentes. Sentem-se separados dos amigos, além de estarem sem festas, atividades esportivas, passeios. Deve-se encorajar as conversas virtuais, estabelecendo-se todas as medidas de segurança digital. Estimular ainda a leitura de livros, visitas virtuais a museus, filmes e jogos em família.
As refeições devem ser feitas em família. Desde o preparo, cada um fazendo as tarefas que lhe couberem com a idade. É um momento de união, conversa, troca de ideias.
Nesses tempos difíceis que passamos, os pais precisam estar muito atentos a sinais que possam demonstrar a necessidade de maior suporte ao adolescente. Alguns sentimentos podem aparecer como desesperança, nervosismo, depressão, raiva, agressividade, irritabilidade. Converse sobre isso com seu pediatra, pois é um momento que favorece a instabilidade emocional.
O isolamento social traz novas responsabilidades. Apesar de estarmos em casa, trabalho e escola continuam. Assim, as atividades domésticas necessitam de apoio. As rotinas mudaram e as famílias precisam se unir com ajudas extras. Acima já falamos da organização das refeições, mas ainda há as tarefas de limpar a casa, organizar o quarto, arrumar a cama, guardar brinquedos e muitas outras que devem ser compartilhadas entre todos.
Vamos lembrar que todos estão isolados. Crianças e adolescentes também devem fazer chamadas de vídeo e telefonemas com os avós, tios, primos, comentar sobre como tem sido a nova rotina e até mesmo lembrar de fatos ou histórias.
Cada um reage de forma diferente a situações de estresse. Nesse momento, aparecem muitas novas sensações: medo e preocupação com a saúde, problemas alimentares, excesso de uso de tablets, computadores ou videogames. Conversar com as crianças e adolescentes sobre a situação atual, o que é a doença, porque estamos em quarentena, sempre com dados reais, é fundamental. Evitem fake news (notícias falsas). Informem-se sempre em fontes confiáveis.
Famílias unidas superarão esse momento e as crianças e adolescentes sairão ainda mais fortes.
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Relator:
Grupo de Trabalho de Desenvolvimento e Aprendizagem da Sociedade de Pediatria de São Paulo