Qual é o jeito certo?

Qual é o jeito certo?

Tome como exemplo esta questão: quanto é 3 X 5? Qual é a maneira certa de obter essa resposta?

Aponto 5 opções diferentes, a título de exercício:

  1. Pela “tabuada”, desde que você a tenha decorado.
  2. Por comparação: cada mão tem 5 dedos, então, 1 mão + 1 mão + 1 mão = 15.
  3. Contando sequencialmente: você pode fazê-lo mentalmente, usando os próprios dedos ou risquinhos em um papel.
  4. Usando uma calculadora (eletrônica ou manual).
  5. Usando o Ábaco Soroban.

Qual é a maneira certa?

Todas as formas explicitadas anteriormente chegam ao mesmo resultado correto. Muda apenas a velocidade com que se obtém. Qual é, então, a melhor? A resposta dependerá da situação e do objetivo. Se a resposta tem que ser obtida rapidamente, claro que uma calculadora será melhor que a contagem dos dedos, alguém, diria. Será? Em verdade, o indivíduo é que fará a diferença, pois há pessoas que fazem cálculos mentais mais rápido do que utilizando calculadoras, ou fazem com o ábaco, as operações complexas, muito rapidamente.

Este simples exemplo nos permite tirar algumas conclusões

Podemos desenvolver, dentro do próprio jeito escolhido, habilidades extras, como, por exemplo, aumentar a velocidade do processo através do treino e da repetição.
Padronizar é uma maneira de definir um jeito de fazer um processo. Tem seu mérito e necessidade. O único problema é que pode cercear a criatividade e embotar o senso crítico.

Os pais aprendem com seus pais, estes com os seus e cada um de nós com os nossos pais. Enfim cada geração aprende de um jeito e repassa esse modo de fazer e pensar para a geração seguinte. O filho da geração atual é sempre o elemento surpresa: é aquele que pode contribuir para trazer o novo, produzir um avanço, apenas por conseguir olhar sob uma perspectiva diferente ou fazer de outro jeito aquela mesma coisa.

O “ovo de Colombo” é, em outras palavras, a descoberta do óbvio, que outros não tinham visto antes.

Em muitas situações tentamos acomodar a vida às nossas visões sobre ela, achando que é a única forma de compreendê-la e vivê-la. Esse é um caminho de risco imenso. A mitologia grega, através do personagem Procusto, alerta-nos para o fato. Procusto era dono de uma hospedaria na qual havia duas camas: uma grande e outra pequena. Quando a cama pequena era a disponível e o viajante era grande, ele acomodava o hóspede cortando seus membros; quando era a grande e o viajante era pequeno, ele o esticava. Essa é a maneira mais perversa de se pensar que há apenas um jeito de ver ou fazer as coisas: só o meu jeito.

Um filho é diferente do outro, mesmo que sejam do mesmo sexo, gerados pelo mesmo pai e mesma mãe, e vivam no mesmo ambiente familiar. Somos seres individuais, afetados pela presença do outro.

Os pais e mães que erram menos, no processo de educação e criação dos filhos, são aqueles que mais respeitam a individualidade de personalidade de cada filho e dão espaço para se expressarem como indivíduos singulares.

Relator:
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo

 

Foto: andykazie I depositphotos