Os traumatismos dentários na infância são muito comuns, principalmente quando as crianças estão dando os primeiros passos, vivendo intensamente e, no meio de tanta atividade e diversão, podem cair e bater a boca. Nos jovens, as causas mais comuns são as quedas, acidentes automobilísticos, esportes e agressões físicas (brigas).
Esses acidentes nunca devem ser menosprezados. Mesmo que aparentemente não tenha havido dano ao dente, uma avaliação pelo odontopediatra é recomendada assim que possível. Os traumatismos nos dentes de leite (decíduos) podem provocar alterações tanto neles quanto nos permanentes.
As alterações no próprio dente decíduo podem ocorrer até alguns anos após o trauma. Portanto, recomenda-se o acompanhamento clínico e radiográfico até a troca dos dentes. O objetivo é manter os dentes de leite na boca, em boas condições, até a troca da dentição. Da mesma maneira, traumas em dentes permanentes podem causar alterações anos após o acidente.
Os dentes mais comumente afetados por traumatismos são os da frente (anteriores). As fraturas ou perda desses dentes podem afetar a autoestima da criança e do jovem, uma vez que pode prejudicar a fala e a aparência facial, além de influenciar em aspectos emocionais ecomportamentais.
Vale a pena também destacar que traumatismos dentários podem estar associados a maus tratos e abusos físicos.
É possível prevenir os traumatismos dentários?
Nem sempre é possível, mas devemos evitar situações ou condições que facilitem que a criança caia e bata a boca. Assim, o Grupo de Saúde Oral da SPSP, orientado pelo Grupo de Pesquisa e atendimento de traumatismo em dentes decíduos da Disciplina de Odontopediatria da Faculdade de Odontologia da USP e pelo Guia de Prevenção para Traumatismos em Dentes de Leite (Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais), traz algumas orientações para tentar prevenir esses eventos:
- Não deixe bebês sozinhos, principalmente em cima de camas, sofás, bancos ou cadeiras.
- Evite deixar objetos ou brinquedos espalhados pelo chão, pois podem favorecer quedas, escorregões ou tropeços.
- Fique atento ao que a criança coloca na boca; não deixe que ela ande ou corra com objetos pontiagudos nas mãos ou dentro da boca.
- Acompanhe sempre seu filho em parquinhos e parques, preferindo um ambiente com piso de terra, areia ou grama, ao invés de cimento.
- Cuidado com escadas e chão molhado. Em locais públicos, atenção redobrada em escadas rodantes.
- Não compre e NUNCA coloque a criança no andador.
- A criança deve estar preferencialmente descalça ou com meia com solado de borracha antiderrapante ou usando calçados flexíveis.
- Vestir a criança com roupas de tamanho adequado.
- Atenção redobrada quando a criança estiver na cadeira de alimentação infantil (cadeira alta), tipo “cadeirão”.
- O transporte do bebê e da criança deve ser SEMPRE utilizando assento adequado e com o cinto de segurança afivelado.
- Preste atenção na criança quando estiver próxima à borda de piscinas, brincando ou praticando qualquer atividade onde estejam muitas crianças juntas em um espaço limitado, como cama elástica e piscinas de bolinhas. Quando a criança for andar de bicicleta, “velotrol”, patins ou patinete, é importante que ela utilize proteções adequadas, como capacete, cotoveleiras e joelheiras.
- Para a prática de esportes com contato físico, é importante usar protetores bucais esportivos, com orientação do odontopediatra,
Com relação à dentição, crianças que têm mordida aberta anterior, com projeção dos dentes superiores e falta de contato entre os lábios, apresentam um risco maior de traumatismo dentário, devido à falta de proteção dos lábios. Portanto, a prevenção de trauma nos dentes decíduos começa desde o nascimento, com orientações para evitar o desenvolvimento da má oclusão na infância, através do incentivo ao aleitamento materno e suspensão de hábitos orais de sucção.
Com esses cuidados no dia a dia, muitos acidentes poderão ser evitados e as crianças e adolescentes sempre mostrarão um belo sorriso.
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Relatores:
Lucia Coutinho
Patrícia Camacho Roulet
Grupo de Saúde Oral da Sociedade de Pediatria de São Paulo