Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 12/11/2020
Relatora: Renata D Waksman.
Coordenadora do Blog Pediatra Orienta e
do Núcleo de Estudos da Violência contra Crianças e Adolescentes da SPSP.
Na eleição municipal que se aproxima, para prefeitos e vereadores, devemos considerar os candidatos que se lembram da atenção que as crianças necessitam, atentos, assim, com o futuro do nosso país.
Apesar de não votar e não contribuir para as campanhas eleitorais e políticas, as vozes e interesses das crianças deveriam ser tão importantes quanto os dos adultos.
Como os candidatos podem priorizar os direitos das crianças e adolescentes nesta eleição?
Garantindo acesso a cuidados e educação de alta qualidade, na busca de oportunidades iguais para todos.
E como se faz isso?
- Ampliando a oferta de creches, garantindo vagas na pré-escola e ofertando educação de qualidade para todos, em ambientes seguros, acolhedores e envolventes;
- Capacitando educadores com programas e atividades de desenvolvimento profissional e melhores práticas
- Ofertando aos pais recursos que os capacitem a tomar decisões adequadas para suas famílias sobre os programas e recursos assistenciais e educacionais disponibilizados pelo governo ou pela sociedade, garantindo-lhes acessibilidade.
Todas as crianças deveriam ter segurança para aprender e crescer de modo saudável, mas muitas têm sua infância negada pela sua origem ou condições de moradia. Muitas famílias de baixa e média renda são continuamente excluídas e colocadas em listas de espera por vagas e assistência.
E como chegar neste patamar? Oferecendo:
- Métodos financeiros inovadores, como o aumento de subsídios diretos a essas famílias para que possam ter acesso a serviços e educação de alta qualidade;
- Parcerias público-privadas com mudanças no código tributário e expansão de programas municipais e estaduais bem-sucedidos;
- Programas de atendimento em grupo para famílias vulneráveis.
- Integração das políticas públicas de educação, saúde e assistência social, garantindo o acesso aos serviços públicos nestas áreas e prover locais seguros e adequados para seu lazer (praças, parques, bibliotecas, teatros etc.).
Há grande número de iniciativas e programas de saúde da mulher e da criança, sendo o saldo nas últimas três décadas positivo quanto à saúde e mortalidade infantis (com exceção do 1º mês de vida), como: planejamento reprodutivo, assistência pré-natal, atenção qualificada ao parto que. Esses programas conseguiram redução importante de desigualdades sociais. Programas de promoção do aleitamento e de imunização são referências internacionais. A desnutrição infantil diminuiu, mas os indicadores de saúde materna não seguiram o mesmo caminho, com índices ainda altos de mortalidade materna, má qualidade de atenção ao parto, altas taxas de cesarianas e de abortos ilegais. É importante garantir atenção à saúde de gestantes e crianças, desde o pré-natal até o final da adolescência.
Como seguir com estes programas?
- Mantendo os existentes, especialmente em áreas de população desprivilegiada;
- Trabalhar nos principais aspectos dos agravos à saúde do binômio mãe-filho e na redução de desigualdades sociais e regionais;
- Promover a igualdade de gênero e envolver meninas e mulheres em atividades civis e políticas. Com esta atitude ocorrem melhores resultados para crianças, adolescentes, suas famílias e comunidades, com democracia inclusiva, direitos humanos e igualdade.
Como?
- Mantendo e executando políticas e estratégias robustas de igualdade de gênero, identificando e combatendo as principais barreiras para envolver adolescentes e mulheres nos programas de assistência, de saúde, de educação global e prosperidade econômica.
É importante seguir a recomendações do Marco Legal da Primeira Infância e estabelecer diretrizes em prol das crianças no período de uma década.
Como?
- Aprimorando e seguindo o Plano Municipal pela Primeira Infância;
- Fortalecer a Estratégia de Saúde da Família;
- Concretizando e ampliando os programas de visitação domiciliar;
- Investindo na capacitação e dando boas condições de trabalho para as equipes;
- Estendendo o programa para atender as áreas socialmente mais vulneráveis.
Crianças, como sujeitos de pleno direito, devem ser priorizadas nas políticas públicas. As verbas destinadas às crianças em programas de atenção à saúde, educação de qualidade e segurança promoverão um grande retorno para a sociedade, baseado na geração maior de riquezas, salários mais altos, redução de programas sociais e menores taxas de violência.
Então, como priorizar a criança no Plano de Orçamento do Município?
Deve-se considerar todas as áreas de atuação do governo que impactem as crianças e adolescentes, organizar o plano de orçamento e declarar os recursos que serão investidos nesta parcela da população.
E as crianças? Elas podem ser envolvidas nestas questões que as afetam diretamente? Com certeza! Segundo o UNICEF, as abordagens que devem envolver as crianças nas decisões democráticas são agrupadas em 3 categorias:
- Consultoria: no intuito de obter informações das crianças, com o objetivo principal de melhorar e incrementar serviços, legislação e políticas;
- Autodefesa: capacitar as crianças para identificar e cumprir seus próprios objetivos e iniciativas;
- Iniciativas de participação: criar oportunidades para as crianças entenderem e aplicarem princípios democráticos e envolvê-las no desenvolvimento de serviços e políticas que têm impacto sobre elas.
Saiba mais:
- Fundação Maria Cecília Souto Vidigal. Eleja as crianças – Como o seu governo pode se tornar um campeão da primeira infância. Publicado em 02 de setembro de 2020. Disponível em: https://issuu.com/fmcsv/docs/eleja_uma_crianca_web
- Save the Children and Save the Children Action Network (SCAN). A Guide to Prioritizing and Investing in Kids in the 2020 Election. Disponível em: https://www.savethechildren.org/us/charity-stories/2020-election-prioritizing-childrens-issues
- Lansdown G. Promoting children’s participation in democratic decision-making. UNICEF Innocenti Insight, 2001, UNICEF Office of Research – Innocenti, Florence – Italy. Disponível em: https://www.unicef-irc.org/publications/pdf/insight6.pdf
- Brasil, Presidência da República – Secretaria Geral – Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 13.257, de 8 de março de 2016. Estabelece princípios e diretrizes para a formulação e implementação de políticas públicas para a primeira infância. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm