No dia 21 de setembro de 2005 nasce o Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência, com o objetivo de mobilizar e conscientizar a sociedade de que pessoas com deficiência devem ter seus direitos respeitados. Assim como em outros dias ao longo do ano, como o Dia da Consciência Negra e o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, a existência de marcos como estes nos mostra que ainda há muitos avanços a serem feitos em termos de inclusão e respeito à diversidade. Existem, nos mais variados campos da vida cotidiana, barreiras de acesso aos recursos mais básicos de direito, como saúde e educação, como também lazer e empregabilidade, quando se trata de pessoas com deficiência. Não é simplesmente uma questão de oportunidades iguais a todos, mas sim de equidade.
E como a Pediatria pode atuar no que diz respeito à pessoa com deficiência?
É na infância que temos os dois maiores berços de esperança: o primeiro deles rege a construção de uma sociedade mais inclusiva e com olhar para a diversidade, visto que moldamos nos primeiros anos de vida os adultos do futuro; o segundo percebe a criança com deficiência e direciona o cuidado para as suas necessidades específicas, alavancando o potencial individual de cada um.
Os benefícios da inclusão não contemplam somente aqueles que estão à margem dos olhares da sociedade. É bem estabelecido que escolas preparadas para atender de forma pedagógica adequada crianças com diferentes deficiências e, portanto, necessidades específicas, conseguem enxergar também, em alunos que não tenham deficiência, pontos onde há dificuldade e intervir para um ensino mais amplo e efetivo. O ensino não deve ser igual para todos, pois não aprendemos da mesma forma. A padronização é um erro que deve ficar no passado.
Não são apenas benefícios em relação à forma de ensino que a escola inclusiva traz. A convivência com a deficiência e a percepção de que o respeito às diversas formas de “existir” é um direito de todos são necessárias na busca de um mundo mais igualitário, justo e humano. Quanto mais cedo estes conceitos forem apresentados, mais naturalmente se enxergará que, enquanto não houver respeito, todos poderemos estar, em algum momento, à margem da sociedade.
Por último, mas com igual importância, vem a preocupação de enxergar a criança com deficiência em suas necessidades específicas. Não temos faculdades e residências médicas que discutam as necessidades das pessoas com deficiência. Em nossa formação acadêmica, não somos ensinados a pensar em como abordar, acolher ou sanar as angústias de quem convive com alguma limitação. Se a sociedade já exclui estes indivíduos em espaços públicos, é na saúde que essa exclusão se mostra cruel.
Os avanços tecnológicos ampliam nossa compreensão sobre a real extensão das limitações e, na infância, a plasticidade cerebral se mostra encantadora, surpreendendo na aquisição de habilidades, em outros momentos da história tidas como impossíveis.
O Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência nos lembra que precisamos acreditar no potencial de todas as crianças e que a inclusão na saúde é um tema delicado e urgente. Que a Pediatria esteja à frente da mudança por um mundo inclusivo.
Relatora:
Anna Claudia Dominguez Bohn
Núcleo de Estudos sobre a Criança e o Adolescente com Deficiência da Sociedade de Pediatria de São Paulo
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