SPSP – Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 11/09/2018
Intolerância: a palavra que espelha o que temos, tristemente, assistido nos últimos tempos, em nosso país. Intolerância com as minorias, com as maiorias, com as questões de gênero, com as preferências partidárias, com as escolhas religiosas, com as paixões futebolísticas, enfim, com qualquer assunto em que se possa expor o maniqueísmo, e restringir todas as discussões aos extremos de um único bem e de um único mal.
Ledo engano! Por meio desses radicalismos chegamos a situações de extrema e irracional agressividade, como a que afligiu toda a nossa sociedade, quando assistimos à covarde agressão a um candidato à presidência. Do todo o ocorrido que, mais uma vez e infelizmente, macula a imagem do nosso Brasil, cabe destacar aspectos que devem ser resgatados em relação à nossa profissão: a dedicação, a precisão e a habilidade técnica dos médicos que, prontamente, atenderam o ferido e salvaram a vida de um ser humano.
Não importa as questões ideológicas envolvidas, o que muito chamou a atenção foi a divulgação, por toda a imprensa – escrita, virtual e televisiva – que enalteceram a excelência do atendimento médico prestado. Atenção prestada em uma Santa Casa, de uma cidade do interior mineiro, que resgatou a importância dessas instituições seculares de atenção filantrópica, conduzida por heróis anônimos que permitem que seja dada uma atenção digna a seus pacientes. Raríssimas são as vezes em que se divulgam notícias que destacam o sucesso das intervenções médicas; pelo contrário, se apresentam apenas fatos e notícias que tentam atribuir a nós médicos, a responsabilidade de todos os desvios da saúde de nosso país.
Enquanto cidadãos e eleitores estamos à procura de um super-herói que possa corrigir todos os nossos problemas, como os existentes na Segurança, na Educação e na Saúde de nosso país. Dificilmente seremos vitoriosos. Entretanto, como cidadãos e pacientes, como ficou demonstrado nesse episódio, tenho a plena convicção de que existem verdadeiros Super-Heróis exercendo a Medicina.
Super-Heróis que têm de se defender de acusações infundadas, diariamente, por jornais e revistas de alcance nacional. Publicações estas que, por meio de uma análise rasa de números e de pesquisas incompletas, fazem afirmações falaciosas e atribuem todas as mazelas da saúde aos médicos;
Super-Heróis que veem alguns de seus Órgãos de Classe divulgarem resultados de exames de ordem para a imprensa leiga, trazendo pavor à população, sem se preocuparem em tomar as medidas que realmente seriam efetivas.
Super-Heróis que assistem a declarações de representantes de órgãos de outras classes que atribuem um suposto aumento nos casos de erro médico à proliferação de escolas de Medicina, sem destacar que o aumento de ações judiciais contra médicos também se deve à proliferação de maus profissionais no campo do Direito que por meio de promessas enganosas, conduzem pacientes e seus familiares a verdadeiras aventuras jurídicas.
Super-Heróis como os que salvaram a vida do candidato gravemente ferido e que não se preocuparam em entregar os louros da brilhante condução clínico-cirúrgica a outra instituição que detém todos os meios possíveis para a atenção médica.
Super-Heróis que, fora dos grandes centros urbanos, atendem, diagnosticam e tratam com primazia seus pacientes, muitas vezes, sem que lhes sejam dadas as mínimas condições de atendimento.
Super-Heróis, também, dos grandes centros urbanos, atuando em extremos, se expondo a riscos e agressões físicas e psicológicas, mas que, mesmo vitimados, não desistem.
Super-Heróis que buscam, incansavelmente, a cura de seus enfermos, e que sofrem quando não conseguem; e, que se não conseguem curar, fazem de tudo para diminuir o sofrimento de seu paciente e de seus próximos; Super-Heróis estes que, muitas vezes, somente podem trazer o alívio e o conforto de um abraço amigo, e que sempre levam uma palavra de amor e de esperança aos que estão sofrendo, nunca os abandonando.
Super-Heróis anónimos e desconhecidos que, ao sair todas as manhãs para o seu mister, acreditam que possam contribuir para uma saúde melhor de seu povo. Super-Heróis que não esmoessem, mesmo diante de todos os descalabros da saúde pública.
Super-Heróis que não querem ser vistos como Super-Heróis e que desta forma, mais o são, por entenderem que, apenas, estão cumprindo uma vocação, um chamado que não se transmuta em um simples ato ou responsabilidade, mas sim, se transforma em uma entrega total e eterna.
Como bons médicos, desconhecidos e anônimos, continuarão a exercer a sua Nobre profissão, como um verdadeiro sacerdócio, acreditando, ao contrário do que disse Millôr Fernandes, que não poderemos simplesmente permanecer “condenados à esperança”.
Como SPSP estamos fazendo a nossa parte: continuamos lutando, incessantemente, pela defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes; assim, batalhamos por uma Pediatria de excelência e, em consequência, pela melhoria das condições de trabalho de todos nós Pediatras.
Parabéns a todos os Pediatras! Parabéns a todos os Médicos do Brasil!
Claudio Barsanti
Presidente SPSP