O novo coronavirus descrito primeiramente na China em 2019, é responsável por uma doença denominada COVID-19, que tem a preocupante característica de causar uma síndrome respiratória aguda grave com altos índices de mortalidade, especialmente em pacientes acima dos 60 anos e/ou com doenças crônicas. Por ser de rápida contaminação, se tornou uma pandemia, tendo se espalhado de maneira devastadora em vários continentes.
Além da pior evolução em pacientes idosos, estudos realizados em regiões mais afetadas como China, Europa e EUA, também mostraram maior prevalência e mais chance de evolução grave em pacientes obesos, independente da presença de outras doenças associadas, como diabetes ou hipertensão arterial sistêmica.
O pior impacto da COVID-19 em pacientes com obesidade não é surpreendente, pois o aumento de peso pode levar à piora da função pulmonar. Além disso, a obesidade leva a um quadro de inflamação crônica que pode contribuir para a má evolução nas infecções por COVID-19. O tecido adiposo (células de gordura) apresenta um receptor, um tipo de facilitador, para a entrada do coronavírus em seu interior que aumenta as chances de o vírus permanecer mais tempo no organismo do obeso infectado.
1- Meu filho está obeso. Ele tem mais chances de contrair a doença?
A chance de contrair a doença está associada à exposição ao vírus, porém a evolução a partir do contato pode ser diferente. A maioria das crianças e adolescentes que entra em contato com o vírus desenvolve uma forma assintomática ou leve. Já em crianças obesas a chance de ter a doença com sintomas parece ser maior.
2- Se meu filho estiver acima do peso e contrair COVID-19, quais as chances de uma má evolução?
Os estudos em adultos têm demonstrado que a presença da obesidade pode levar a maiores dificuldades respiratórias, pior resposta das células de defesa do corpo à infeção, aumento de fatores inflamatórios, assim como mais chance de alteração da glicemia e piora de função cardíaca.
3- Durante a quarentena, meu filho, que já era acima do peso, vem comendo muito. Posso liberar a dieta nesse período?
É muito comum o excesso de peso estar associado a quadros de mais ansiedade e sedentarismo. Neste período de quarentena, torna-se ainda mais importante o incentivo à alimentação saudável, rica em legumes, frutas e verduras. Além disso, é preciso diminuir o consumo de fast-food. Se necessário, tente contato com seu médico ou equipe para encontrar mais orientações e soluções possíveis.
4- Quais as orientações para diminuir o risco de COVID-19 no meu filho com obesidade?
As orientações para a população geral devem ser seguidas com rigor:
- Fique em casa, saindo apenas para o que for estritamente necessário;
- Não leve seu filho a locais com mais chance aglomeração (supermercados, padarias);
- Sempre use máscara quando for necessário sair, conforme orientação governamental (vide as orientações no seu estado ou cidade);
- Ao retornar da rua, tome os devidos cuidados: retire os calçados antes de entrar, separe roupa para ficar em casa e para sair, limpe a bolsa e/ou carteira com álcool ou solução de detergente, além de embalagens;
- Lave bem as mãos e com frequência (todos da casa), usando água e sabão: limpando os dedos, unhas, palmas e dorso das mãos e os punhos. Quando isso não for possível, use preparações alcoólicas a 70%;
- Desinfete diariamente as superfícies de toque da casa (por exemplo, maçanetas, mesas, cadeiras, pias, vasos sanitários, interruptores de luz ou campainhas, controles remotos, telefones, smartphones, computadores, tablets e brinquedos).
5- O que fazer se meu filho obeso ficar doente?
Evite ir ao pronto socorro eprocure o médico que o acompanha. Vários serviços estão atendendo por telemedicina ou teleconsulta. Busque orientação médica.
Orientações gerais:
- Não esqueça da vacina da gripe;
- Mantenha uma rotina de horários de refeições, tempo de tela após aulas virtuais, prática de atividade física diária (existem muitas dicas nas mídias sociais);
- Manter sempre que possível alguma exposição solar (pode ser na varanda, no quintal, na laje ou até no quarto, desde que o vidro esteja aberto).
- Não relaxe em relação à alimentação, o ganho de peso pode piorar a evolução dos casos de COVID-19.
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Relatores:
Dra. Louise Cominato
Dra. Renata Noronha
Departamento Científico de Endocrinologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo.