Você pode ter notado que, nos últimos tempos, grandes ou pequenas cidades vêm adotando em seus calendários o Dia ou até a Semana do Brincar. Pode ser difícil de entender que brincar seja uma atividade que mereça passar por votação em Câmaras Municipais de Vereadores, mas isso vem ocorrendo, especialmente depois da pandemia que revolucionou o comportamento das pessoas.
O fato é que, no Brasil, a Associação Brasileira de Brinquedotecas é uma entidade sem fins lucrativos, que existe desde 1985, trabalhando para que as crianças tenham o direito de brincar em diversos ambientes, desde escolas até hospitais. Em função da importância que o brincar tem na vida de todos, comemora-se o Dia Mundial do Brincar no dia 28 de maio. O Dia Internacional do Brincar foi criado durante a 8ª Conferência Internacional de Ludotecas em Tóquio, no ano de 1999, por iniciativa da presidente da International Toy Library Association (ITLA), Freda Kim. Foi celebrado pela primeira vez em 2000 e reconhecido no calendário do UNICEF.
Atualmente, a compreensão da importância do brincar no desenvolvimento de cada um e da própria sociedade cresceu tanto que, agora, em 25 de março de 2024, a Assembleia das Nações Unidas (ONU) aprovou a resolução proposta pelo Vietnã de criar o Dia Internacional do Brincar, designando o dia 11 de junho como o Dia Internacional dos Jogos. Essa resolução foi patrocinada por 138 países. Representantes do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) aplaudiram a iniciativa e comprometeram-se a facilitar a celebração para proteger os direitos das crianças e contribuir com a prevenção de conflitos e a construção da paz. O que faz com que nações inteiras se mobilizem em busca de um brincar saudável? Será um exagero relacionar o desenvolvimento sustentável com a simples ação de brincar?
Celebrar o Dia Mundial do Brincar é promover a consciência sobre o papel fundamental que o brincar desempenha no desenvolvimento integral da criança. São inúmeros os benefícios do Brincar no desenvolvimento de competências para a vida, promoção da tolerância, tudo isso de forma recreativa. É brincando que a criança descobre o mundo, imita papéis, aprende a dividir, a esperar a sua vez, a lidar com a frustração de perder num jogo e tentar de novo e, ainda, desenvolve habilidades espontâneas ao experimentar o prazer de fazer castelos de areia ou desenhos no papel, ou simplesmente ouvir histórias, subir em árvores, pular e rir, enquanto observa como fazem os bichinhos ou como cantam os pássaros.
O brincar é uma ferramenta poderosa para promover o bem-estar físico, emocional e social em todas as idades e permite transcender as experiências com imaginação e criatividade. Então, de verdade, brincar é coisa séria!
O jogo pode ser utilizado como ferramenta efetiva de aprendizagem, socialização e desenvolvimento de habilidades. É indispensável promover ações que impulsionem uma troca positiva de comunicação entre as pessoas. Tudo isso faz do Brincar um recurso universal e próprio da saúde.
O primeiro brincar se dá entre a mãe e o bebê. O bebê vai amadurecendo neurologicamente e vai ampliando o seu mundo, ousando novas experiências que se abrem dos vínculos afetivos estabelecidos. O núcleo familiar se torna referência nas novas ligações que se estabelecem na escola e nos grupos de amigos. Ao longo de seu desenvolvimento, a criança vai ampliando a noção de seu próprio corpo, sua relação com o espaço e o tempo, a sua capacidade de lidar com a ansiedade e de aprender a resiliência, vencendo o sofrimento quando algo não sai do seu agrado.
O conceito de resiliência na infância envolve bom ajustamento na presença de significativos fatores de estresse. Resiliência é a capacidade de proteção diante de fatores de risco e a Psicologia Positiva se volta para o fortalecimento das condições facilitadoras que promovem a prevenção, visando à saúde. O Brincar é tão importante na saúde que a Brinquedoteca Hospitalar é uma proposta regida pela lei nº 11.104, de 21 de março de 2005, que dispõe sobre a obrigatoriedade de instalação de brinquedotecas nas unidades de saúde que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação. Por quê? Porque a criança adoecida torna-se mais vulnerável e insegura, ao ser afastada de seu ambiente conhecido e passar por desconfortos ou dores que ela não entende. Assim, há necessidade de utilizar a sua linguagem através do brinquedo, ajudando-a a vencer o medo e a se comunicar de forma lúdica: ela pode cuidar de sua boneca, invertendo o papel de passividade, distrair-se com o que lhe faz bem ou se sentir super-herói na superação de sua fragilidade diante da dor.
As Brinquedotecas podem ser organizadas em escolas, em parques, com brinquedos criativos ou ecológicos, o que a imaginação e o bom humor permitirem. O Dia Mundial do Brincar tem a meta de inspirar a socialização afetiva, o gosto pela atividade em interação com o outro, com a arte, cultura e natureza, desenvolvendo sentido e sensibilidade que, atualmente, são descartados pelas exigências nas rotinas diárias, em todas as idades.
A criatividade e a inovação, os sentimentos e expressão natural estão muito presentes nas brincadeiras com um significado ímpar.
Seja o gestor de sua alegria, nunca deixe de brincar!
Relatora:
Luiza Elena Leite Ribeiro do Valle
Psicóloga, Coordenadora do Núcleo do Brincar de Poços de Caldas (MG), filiado à ABBri: Brinquedoteca Girassol (institutomrvalle.com)