Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 28/06/2019
A infância é um período crítico para o desenvolvimento de habilidades e conhecimento devido à neuroplasticidade muito intensa, que consiste na capacidade do encéfalo em adaptar-se a modificações. Com o amadurecimento da criança, áreas e funções perceptivas e motoras tornam-se mais funcionais e capacitadas para a execução de habilidades cada vez mais complexas. Sendo assim, para aprender é preciso maturação e integração das diversas áreas cerebrais.
No entanto, um cérebro estruturalmente normal, com condições neuroquímicas e funcionais e com padrão genético adequado, não garante um bom aprendizado. O desempenho escolar depende de vários fatores: características da escola (físicas, pedagógicas, qualificação do professor), da família (nível de escolaridade, presença e interação dos pais) e do próprio indivíduo.
O pediatra é o profissional da saúde que primeiro tem contato com as queixas de mau desempenho escolar, as quais devem ser valorizadas e adequadamente avaliadas. Deve-se abordar na história aspectos relativos à escola e à família, bem como avaliar a integridade física e mental da criança.
A consulta pediátrica e a Puericultura têm grande importância para garantir o adequado desenvolvimento físico e mental da criança, com especial olhar para a escolarização e o aprendizado. Antes mesmo de haver queixas, o pediatra deve atentar aos fatores de risco para a dificuldade no desempenho escolar, como problemas perinatais, doenças no primeiro ano de vida, fatores nutricionais, doenças crônicas, dinâmica familiar e avaliação da escola.
A dificuldade escolar é queixa frequente nos consultórios de pediatria. É definida como um rendimento escolar ou habilidades cognitivas e escolares abaixo do esperado para a idade. Resulta em problemas emocionais, como baixa autoestima e desmotivação, e gera preocupação familiar. Trata-se de um sintoma, por isso o pediatra deve procurar a sua causa para uma proposta terapêutica individualizada. Decorrente de problemas pedagógicos ou socioculturais, cabe ao pediatra descartar situações clínicas que possam interferir no desempenho escolar.
Portanto, é fundamental investigar as alterações sensoriais, auditivas e visuais, questões psicológicas e emocionais como timidez excessiva, além de afastar doenças crônicas e avaliar a criança em todos os seus ambientes. Além disso, é preciso considerar os transtornos específicos da aprendizagem e também o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Junto a família, auxiliar na organização de estratégias criando uma agenda positiva para a criança, motivando-a e, se necessário, orientar o encaminhamento interdisciplinar especializado de acordo com a situação.
Assim é dever do pediatra buscar ativamente durante a consulta queixas de dificuldades escolares, para diagnóstico e intervenções precoces, levando ao menor prejuízo possível para a criança, seu aprendizado e sua família.
Relatora:
Adriana Monteiro de Barros Pires
Grupo de Desenvolvimento e Aprendizagem da SPSP