Crianças podem pegar e transmitir o coronavírus, mas raramente de forma grave e, se seu filho estiver doente, há uma grande chance de ser outra doença, que não COVID-19.
Um dos papéis do pediatra é garantir que as crianças tenham avaliação, investigação e diagnóstico rapidamente, para que o tratamento específico, quando for necessário, comece assim que possível, ou seja, tomar os cuidados adequados, no momento e no local certos.
No entanto, surgem relatos que, nos dias de hoje, muitos pais estão hesitantes ou esperando demais para procurar atendimento médico quando seu filho está doente ou se sofreu algum acidente ou trauma. Menos crianças são trazidas aos consultórios pediátricos ou aos serviços de emergência com condições muitas vezes sérias e, quando chegam, estão em situação grave. Segundo o Center of Diseases Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos, os atendimentos em pronto-socorro para emergências não-COVID-19 caíram 42% durante a pandemia, sendo as reduções mais acentuadas entre menores de 14 anos. Em 2019, 12% de todas as visitas ao departamento de emergência ocorreram em menores de 10 anos, em comparação com 6% durante o mesmo período deste ano, durante a quarentena.
E por que isso acontece? Alguns pais não procuram ajuda por estarem preocupados em pegar COVID-19 no consultório ou no hospital, ou que seu filho contraia a doença. Há quem assuma que tudo é causado pelo coronavírus e, por ser criança, vai melhorar logo. Outros acham que podem cuidar em casa, minimizando os riscos, até quando seu filho tem alguma doença crônica, ou que situações como cortes, fraturas e queimaduras vão sarar logo, sem necessidade de atendimento médico.
Levar o filho ao hospital pode ser uma experiência estressante, mas, ao contrário do que muitos pensam, o serviço de emergência ainda é um lugar muito seguro, especialmente para crianças, apesar da pandemia. A sala de espera lotada não é mais a realidade no momento e a maioria dos hospitais segue práticas rigorosas para impedir a propagação do vírus entre pacientes e funcionários, ressaltando que todos devem usar máscara o tempo todo enquanto estiverem no hospital; praticar o distanciamento social (de 1,5 metro entre as pessoas); isolar todos os pacientes suspeitos e positivos de COVID-19 em áreas privadas; minimizar o contato através de um sistema de triagem, incluindo admissão e transferência direta no hospital; evitar o serviço de emergência sempre que possível; visitação limitada (uma só pessoa para pacientes com até 18 anos); testar todos os pacientes admitidos para o setor de COVID-19 (na emergência, na observação e internados) e limpeza/ higienização regulares de todas as superfícies e salas.
O que os pais podem fazer?
- Entre em contato com seu pediatra e verifique se a consulta deverá ser presencial ou por teleconsulta, através de outras mídias (aplicativos como: WhatsApp, FaceTime, Zoom, Webex, Skype, Google Meet, etc.).
- Nessas consultas de telemedicina, podem ser obtidas orientações para vocês e seus filhos sobre alimentação, imunizações, desenvolvimento. Além disso, podem ser feitas solicitações de exames laboratoriais, receitas simples, de controle especial e de orientações gerais.
- A maioria dos consultórios está aberta e adotando medidas extras para garantir que você e seus filhos fiquem seguros. Alguns consultórios separaram as crianças que “estão bem” das que “estão doentes” e agendam recém-nascidos e bebês pequenos nos primeiros horários.
- Algumas situações demandam atendimento presencial, como consultas de recém-nascido e bebês pequenos, monitoração de crescimento, pressão arterial e outros sinais vitais e tratamento de doenças, lesões e/ou infecções.
O que fazer se o seu filho ficar doente
Se a criança foi exposta ao coronavírus ou vocês estão preocupados com os sintomas que apresenta, entrem imediatamente em contato com o pediatra. Sabemos que às vezes é difícil descrever como está a criança ou o quanto doente está e seu pediatra, conhecendo a família, vai fazer algumas perguntas e, de acordo com as respostas, poderá orientar algumas medidas iniciais a serem tomadas, os sinais de alerta ou de piora e quando deverão ir para o hospital.
Quando devem ir ao Serviço de Emergência
De acordo com as orientações elaboradas pelos The Royal College of Paediatrics and Child Health (RCPCH), no Reino Unido, através de um sistema de semáforo nas cores vermelha, âmbar (alaranjada) e verde, os pais devem avaliar quando devem procurar atendimento médico e de que tipo, se a criança está doente ou sofreu um acidente.
Seguem as recomendações, adaptadas para a nossa realidade:
SINAL VERMELHO
Seu filho apresenta ou está com:
- Pele e mucosas pálidas, frias ou extremidades e lábios roxos (cianose).
- Erupção cutânea que não desaparece com a pressão (manchas vermelhas ou roxas).
- Respiração com paradas ou pausas (apneia), irregular, gemente, com som como “um grunhido”, grande desconforto.
- Nível de consciência: agitação, irritabilidade, choro inconsolável, letárgico (difícil de ser acordado), sonolência ou falta de resposta.
- Convulsão
- Dor testicular em meninos.
O QUE FAZER: ir ao Serviço de Emergência mais próximo.
SINAL ÂMBAR
Se seu filho tem um dos seguintes sinais ou sintomas:
- Febre de 38º C ou superior em recém-nascidos e bebês com menos de 3 meses de idade, temperatura acima de 39ºC em bebês de 3 a 6 meses de idade e febre acima de 38ºC por mais de 5 dias para todos os lactentes e crianças.
- Dificuldade para respirar, batimento das asas do nariz, contração dos músculos no pescoço, abaixo ou entre as costelas, crise grave de asma.
- Dor abdominal severa e persistente.
- Desidratação (boca seca, olhos fundos, chora sem lágrimas, sonolento ou urinando menos do que o habitual), vômitos repetidos ou logo após ingerir algum líquido e recusa de qualquer líquido ou sólido, episódios de diarreia.
- Muita sonolência, dificuldade de ser acordado ou irritabilidade (sem estar com febre).
- Tremores ou dores musculares.
- Urina ou evacuação com sangue.
- Qualquer lesão em algum membro causando movimento reduzido, dor persistente.
- Lesão na cabeça causando choro persistente ou sonolência.
- Está piorando ou se vocês estão preocupados.
O QUE FAZER: entrar em contato com o pediatra ou serviço de emergência; se não conseguirem rapidamente ou se os sintomas persistirem por quatro horas, levar a criança ao Serviço de Emergência mais próximo.
SINAL VERDE
Se nenhum dos sintomas ou sinais acima estiver presente:
O QUE FAZER: entrar em contato com o pediatra ou serviço de emergência, aguardar resposta e continuar prestando assistência em casa. Se os sintomas mudarem ou aumentarem, entrar em contato com o pediatra. E, se não for possível, ir ao Serviço de Emergência que estão acostumados.
Confiem em seus instintos e, se for possível, entrem em contato com seu pediatra primeiro, para ajudar por telefone, ao orientar e coordenar os cuidados, sem que haja necessidade de levar a criança ao hospital.
Sabemos que realmente estão assustados. Nós pediatras estamos por aqui, prontos para ajudá-los a cuidar de seu filho, mantendo todos seguros. Nosso trabalho é prestar assistência às crianças e adolescentes e continuaremos a fazê-lo durante toda a pandemia.
Leituras adicionais:
1- Royal College of Paediatrics and Child Health. Advice for parents when your child is unwell or injured during coronavirus. England: RCPCH; 2020. Disponível em: https://www.rcpch.ac.uk/sites/default/files/2020-04/covid19_advice_for_parents_when_child_unwell_or_injured_poster.pdf
2- Jennifer Shu. Is it OK to call my pediatrician during COVID-19? FAAP. Disponível em: https://www.healthychildren.org/English/tips-tools/ask-the-pediatrician/Pages/Is-it-OK-to-call-the-pediatrician-during-COVID-19-even-if-Im-not-sure-my-child-is-sick.aspx
3- ER visits for non-Covid emergencies have dropped 42% during the pandemic, CDC says. Disponível em: https://whnt.com/news/coronavirus/cdc-says-er-visits-have-dropped-42-percent-during-covid-19-pandemic/
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Relator:
Dra. Renata D. Waksman
Vice-presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo
Coordenadora do Núcleo de Estudos da Violência contra Crianças e Adolescentes e do blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo