Qual é o neto(a) que não se recorda de alguma iguaria feita por sua avó, cujas mãos hábeis eram capazes de extrair de qualquer receita algo peculiar e próprio, que viria a marcar a memória afetiva de seus descendentes? “Ah! A lasanha da vovó!”. “Ah! A torta de limão da vovó!”.
Misturam-se a essas recordações não só as lembranças de cheiros e sabores, mas também a da companhia; porque, muitas vezes, a vovó cuidava dos netos e eles ajudavam-na no preparo da comida.
A cozinha é um espaço especial da casa e tem um simbolismo extraordinário. O título deste artigo é, também, o de uma obra do antropólogo Claude Lévy Strauss, que nos ensina que o cru remete ao que é natural e o cozido aquilo que é produzido pela ação do homem. Um é natureza, o outro é cultura. A cozinha expressa muito da diversidade cultural entre os povos: a bacalhoada é portuguesa, a pizza é italiana, o sushi é japonês, a feijoada é brasileira. A cozinha é lugar de transformações alquímicas.
Enquanto a vovó cozinhava, jogava conversa fora, sondava corações e se inteirava das transformações do mundo através do diálogo com os netos. Sábia vovó!!
A cozinha é lugar de trabalho, de intensa movimentação produtiva, de desarrumação, de panos molhados, de panelas fora do lugar, de criatividade, de misturas surpreendentes e soluções inesperadas. Santa confusão! Ao contrário da sala, arrumada e tranquila.
Alguns hábitos são salutares e devem ser estimulados. Algumas famílias podem cultivá-los, outras têm dificuldade para realizá-los. A sugestão da vovó é clara: compartilhem a cozinha com seus netos, conversem enquanto ensinam suas receitas, comam juntos à mesa e transformem qualquer refeição em uma celebração da vida, da amizade, do amor. Sala e cozinha são compartimentos especiais de uma casa. A casa é o espaço físico onde habita o lar – nossa escola primeira, lugar de troca de afetos, de acolhimento das gerações.
Para o antropólogo a cozinha é metáfora da própria existência humana pois, por essa capacidade de viver na transformação, numa mobilidade que não é só geográfica, o homem se distingue.
Observação importante: a cozinha é um lugar perigoso para crianças! Devem ser supervisionadas de forma atenta todo o tempo que lá estiverem – queimaduras, cortes, quedas, envenenamentos, enfim, MUITO CUIDADO com crianças na cozinha.
Relator: Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo
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