O caminho da escravidão à liberdade

O caminho da escravidão à liberdade

A escravidão de africanos começou a ganhar força em meados do século XV, com o início do tráfico transatlântico de escravizados, um sistema brutal que perdurou por cerca de 400 anos. A escravidão no Brasil começou oficialmente no início do período colonial, por volta de 1530, com a chegada dos primeiros colonizadores portugueses. Estima-se que aproximadamente 4,8 milhões de africanos foram trazidos ao Brasil ao longo dos mais de 300 anos de escravidão, o que fez do Brasil o país que mais recebeu pessoas escravizadas no mundo.

Os homens negros africanos viraram escravos, pela força do colonizador, em diversos países. Não nasceram escravos. Nesse ato, revela-se uma das principais mazelas da escravidão: destituir o homem negro e a mulher negra da sua humanidade.

Frederik Douglass, nascido em Maryland em 1817, filho de mãe escrava e pai desconhecido, tornou-se um grande orador e uma voz contundente contra a escravidão na América do Norte. Com uma frase lapidar, Douglass denunciou essa mazela: “Vocês já viram como um homem virou escravo. Agora vocês verão como um escravo virou homem”.1 

O sacerdote Desmond Tutu, na África do Sul, uma forte liderança contra a segregação racial, juntamente a Nelson Mandela, disse em 1960: “É uma regra terrível, inexorável, que uma pessoa não pode negar a humanidade de uma outra sem diminuir a própria.”

Zumbi dos Palmares é uma figura central na história da resistência negra no Brasil. Ele foi o líder do Quilombo dos Palmares, o maior e mais duradouro quilombo do período colonial, localizado na região onde hoje é o Estado de Alagoas. Zumbi nasceu livre em 1655 em Palmares, mas foi capturado e entregue a um padre, por quem foi batizado e educado. Aos 15 anos, no entanto, fugiu e retornou ao quilombo, onde se tornou um guerreiro e, mais tarde, o líder da resistência contra as forças coloniais. Zumbi é celebrado por sua coragem e liderança, pois lutou até sua morte em 20 de novembro de 1695, para defender a liberdade de Palmares e a autonomia dos quilombos.

No Brasil, os movimentos abolicionistas ganharam força especialmente a partir do século XIX, quando ativistas, intelectuais, ex-escravizados e outros setores da sociedade começaram a lutar pela abolição. Esse processo ocorreu de forma gradual. Seguindo o exemplo da Inglaterra, que em 1807 estabeleceu a Lei Britânica de Abolição do Comércio de Escravos, o Brasil promulgou a Lei Eusébio de Queirós (1850), que proibia o tráfico de escravizados da África para o Brasil, embora ele tenha continuado de forma ilegal. Nos 38 anos seguintes, aprovaram-se outras leis: Lei do Ventre Livre (1871), que determinou que os filhos de mulheres escravizadas, nascidos a partir daquela data, seriam livres; Lei dos Sexagenários (1885), que libertou pessoas escravizadas com mais de 60 anos de idade.  Esse movimento abolicionista culmina na promulgação da Lei Áurea, assinada em 13 de maio de 1888, pela princesa Isabel, que aboliu oficialmente a escravidão no Brasil. O país foi o último das Américas a abolir o sistema escravocrata.

No Dia da Consciência Negra, que homenageia a vida de Zumbi dos Palmares, na data de sua morte, o país recorda sua história e dignifica todos aqueles que resistiram e contribuíram para a extinção da escravidão no Brasil. Um primeiro passo, no caminho da liberdade, foi dado. Cabe-nos continuar caminhando por essa estrada, lembrando que:

“A diversidade sem a ideia de humanidade universal isolaria todos nós, deixaria-nos com poucas possibilidades de contato. Uma aprimora a outra. E quando essas premissas somem em uma sociedade opressiva, normalmente somem juntas. Regimes que desrespeitam as diferenças humanas também tendem a ser incapazes de reconhecer os ‘espelhos’ universais nas vidas humanas, através dos quais enxergamos nós mesmos e os outros.”2

 

Saiba mais:

  1. Frederik Douglass,1817-1895.
  2. Sarah Bakewell, in: Humanamente Possível. Sete séculos de pensamento humanista. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004, p. 187.

 

Relator:
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo