Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 25/11/2021
Em 2020, fomos todos atingidos pela pandemia da Covid-19. Por um ano, medidas restritivas foram necessárias e hospitais precisaram rever seus fluxos de entrada e saída de pacientes e acompanhantes. Inúmeras medidas foram tomadas para permitir a presença dos pais, sobretudo nas unidades de terapia intensiva neonatais, mas nem sempre foram suficientes. As gestantes acometidas pela doença que tiveram recém-nascidos prematuros não podiam circular durante o isolamento preconizado. Seus parceiros muitas vezes estavam doentes ou ainda cumprindo a quarentena necessária. As mães que desenvolveram formas mais graves da doença e necessitaram, elas mesmas, de UTI foram separadas de seus filhos por falta de condições clínicas. 2020 foi um ano de ruptura.
Em 2021, a bandeira SEPARAÇÃO ZERO tornou-se uma necessidade: é preciso voltar a falar não só da presença dos pais em tempo integral nas UTIs neonatais, prevista por lei. Além disso, é essencial que as ações para trazê-los de volta para dentro do hospital sejam resgatadas o mais precocemente possível. Cabe aos profissionais de saúde retomar as práticas de estimular e possibilitar o contato dos pais com o seu bêbê desde a primeira ida na UTI neonatal. Nesse ambiente, acolhimento, humanização e contato norteiam a excelência do cuidado e não há espaço para “trabalho remoto” e “ modelo híbrido”.
Estamos em um momento de reconstrução e retomada das boas práticas para muitas unidades. É importante relembrar que a presença dos pais deve ser encorajada. Precisamos fortalecer o papel dos pais como moduladores do bem-estar de seus filhos durante a permanência no hospital; valorizar o papel das mães como capazes de cuidar de seus filhos, esclarecer e evidenciar como elas podem atuar nesse lugar de incubadoras, monitores e alarmes; estimular o aleitamento materno e sua importância, ainda que não seja no modelo convencional de amamentação.
A transparência nas conversas com as famílias permite alinhamento das expectativas em relação ao momento que o bebê poderá começar o contato pele-a-pele, início do treinamento da mamada ao seio. E gradativamente, profissionais de saúde e família criam o sentimento de autoconfiança para a mãe do prematuro e a segurança na programação da alta. A proximidade da equipe de saúde permite a identificação de fragilidades na rede de apoio que possam ser corrigidas, diminuindo eventuais riscos ao bem-estar do recém-nascido.
Separação Zero pelo Prematuro para garantir uma alta feliz para o convívio com sua família.
Relatora
Maria Augusta Gibelli
Departamento Científico de Neonatologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo
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