Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 17/07/2017
A Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) repudia a desastrosa declaração do senhor Ricardo Barros, ministro da saúde, de que a adoção da biometria nas unidades de saúde do País fará “…o médico parar de fingir que trabalha”.
É nosso entendimento que o papel de quem exerce pasta tão importante para a Nação e seus cidadãos deveria ser de ter responsabilidade pública, equilíbrio e acima de mais compromisso com a verdade, não podendo dar-se ao luxo de afirmações midiáticas ou imponderadas.
É de conhecimento geral que os médicos brasileiros certas vezes são obrigados a fazer algo próximo de milagres para cumprir seu ofício e garantir assistência em saúde de qualidade à população em um sistema subfinanciado por seguidos governos, dos mais diversos partidos, e agora condenado a ter os recursos congelados por 20 anos, pela Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241.
De cabeça erguida, com dignidade e esforço hercúleo, os médicos do Brasil cotidianamente recebem nas urgências e emergências milhares de pacientes em estado grave, precisando de internações, de UTIs e que sofrem com a falta de vagas e estrutura. Nessa situação de precariedade, inclusive, muitas vezes são responsabilizados pelas deficiências da rede, pela falta de políticas públicas competentes, sofrendo até truculências verbais, físicas, entre outras.
Enquete realizada este ano pela SPSP registra que 64% dos pediatras já sofreram algum tipo de violência no exercício da profissão e 75% já presenciaram cenas de violência contra um profissional de saúde. É justamente a fragilidade no atendimento básico que leva famílias a lotar os prontos-socorros. Outra razão é a crise econômica, que reduziu recursos dos hospitais e forçou muita gente a abandonar os planos de saúde, aumentando a demanda para atendimento, as filas, criando clima favorável ao surgimento de intolerância e conflitos.
Nesse quadro, colocações como ao do ministro Ricardo Barros se apresentam como destrutivas da boa relação médico-paciente, verdadeiro pilar para o sucesso de qualquer tratamento. Além de acirrar os ânimos nas unidades de saúde, o que é irresponsabilidade gravíssima.
Há algum tempo, existem ações sistemáticas de governantes tentando atribuir aos médicos os fracassos, as mazelas, os infortúnios e a falência do sistema de saúde brasileiro. Mas o senhor ministro certamente sabe de quem realmente é a responsabilidade, e os brasileiros também.
Somos conhecedores das agruras e o caos da assistência à saúde da população, em especial da saúde pública do País. Antes de médicos, somos cidadãos, razão pela, nos contrapomos e nos insurgimos contra uma fala desmensurada que tenta, por meio do sensacionalismo, afastar a população da realidade e dos porquês das falhas do sistema.
A SPSP ressalta que é uma entidade apartidária e sua manifestação vem em defesa da verdade, dos médicos e dos cidadãos. Portanto, espera, de imediato, a retratação pública do ministro Ricardo Barros.
Dr. Claudio Barsanti
Presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo