Apesar de atualmente a conscientização sobre o consumo de bebidas alcoólicas por gestantes ser maior e haver mais divulgação sobre o tema, muitas mulheres ainda desconhecem a gravidade dos riscos à saúde do bebê da exposição pré-natal ao álcool e acreditam que beber eventualmente não oferece prejuízos.
No Brasil, estima-se que 15% das gestantes consomem bebidas alcoólicas, enquanto na região das Américas a prevalência é de 11,2% e, globalmente, de 9,8%. Além disso, mais brasileiras em idade fértil estão bebendo, o que representa um sinal de alerta. Por isso, para chamar a atenção de gestantes e futuras mães, a Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), por meio do Núcleo de Estudos dos Efeitos do Álcool na Gestante, no Feto e no Recém-Nascido, e o CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (uma das principais referências no Brasil sobre este tema), esclarecem cinco mitos e verdades sobre a ingestão alcoólica na gravidez.
- O consumo de álcool na gestação não afeta a saúde da gestante.
MITO: A própria gestante consumidora de álcool está sujeita a consequências sérias, tais como diminuição dos reflexos, aumento da acidez gástrica e maior risco de broncoaspiração. Além disso, o álcool interfere no apetite da grávida, levando-a à má nutrição, provocando constrição dos vasos da placenta, tendo como consequência a dificuldade na passagem de nutrientes e oxigênio para o feto. Esses efeitos resultam em restrição do crescimento fetal e ocorrência de malformações congênitas.
- Mesmo o consumo eventual de bebida alcoólica pode causar danos ao feto.
VERDADE: Não há evidências científicas que indiquem se há alguma quantidade segura de consumo; portanto, a gestante deve se abster completamente de todo tipo de bebida alcoólica durante toda a gravidez. O álcool atravessa a placenta, o que permite que, em pouco tempo, a concentração dessa substância no sangue fetal se torne equivalente à materna. Entretanto, o organismo do feto – ainda em formação – não consegue metabolizar o álcool, que permanece no seu sangue por mais tempo, até ser eliminado pela circulação materna. O consumo de álcool na gestação é a principal causa de deficiência mental não congênita, sendo a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) a forma mais grave.
- A Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) é algo raro e não deve preocupar a gestante.
MITO: Estima-se que a frequência de SAF entre crianças e jovens na população geral ultrapassa 1% em 76 países, incluindo o Brasil. No entanto, nem 1% das crianças afetadas são diagnosticadas. Além da SAF, podem ocorrer disfunções mais sutis, englobadas no Transtorno do Espectro Alcoólico Fetal (em inglês, FASD – Fetal Alcohol Spectrum Disorders), como malformações da face e/ou de outros órgãos, como coração, rins, membros, distúrbios do desenvolvimento do cérebro.
- Grávidas podem ingerir bebidas de baixo teor alcoólico ou “zero álcool”.
MITO: Bebidas de baixo teor alcoólico possuem uma certa quantidade de álcool, até mesmo as “zero álcool”. De acordo com a legislação brasileira, bebidas zero álcool podem ter no máximo 0,5% de álcool em sua composição, portanto não é recomendável seu consumo. No entanto, estudos internacionais mostraram que essas bebidas podem conter nível maior de etanol do que o indicado nos rótulos, podendo chegar a 1,8% de teor alcoólico. Ainda sobre bebidas, um outro alerta é sobre o kombucha, bebida fermentada feita a partir do chá verde ou chá preto, açúcar e uma cultura de leveduras e bactérias, conhecida como SCOBY. No processo de fermentação são produzidos ácido acético, gás carbônico e outros compostos, que dão ao kombucha um sabor ácido e ligeiramente adocicado. Se os processos de produção e armazenamento forem adequados, a bebida não deve apresentar teor alcoólico superior a 0,5%. Mas se eles não forem devidamente controlados, como numa produção caseira, a quantidade de álcool pode aumentar. De qualquer forma, seu consumo é contraindicado durante a gestação
- Crianças diagnosticadas com problemas de aprendizado ou distúrbios de comportamento podem ser vítimas da exposição pré-natal ao álcool.
VERDADE: Além da SAF e da FASD, também há evidências de que o transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) pode ser reflexo do consumo de álcool na gestação, estando presente em 50% a 80% das crianças afetadas. Outros comprometimentos cognitivos são frequentes, como os problemas no aprendizado de matemática, atrasos na linguagem e motricidade, dificuldades de integração e comunicação, além de risco aumentado de doenças psiquiátricas na vida adulta.
O álcool é considerado atualmente a principal causa de deficiência mental e de anomalias congênitas: 5% a 10% dos fetos expostos ao álcool durante a gestação apresentarão prejuízos em seu desenvolvimento. É algo totalmente evitável! Portanto, mulheres grávidas ou que desejam engravidar não devem beber álcool, em qualquer quantidade e em qualquer fase da gestação.
Relatora:
Helenilce de Paula Fiod Costa
Presidente do Núcleo de Estudos dos Efeitos do Álcool na Gestante, no Feto e no Recém-Nascido (SAF) da Sociedade de Pediatria de São Paulo