A comunicação oral é uma necessidade do homem. A sua exteriorização depende de um processo evolutivo complexo e ao mesmo tempo natural, sem a necessidade de um aprendizado formal.
O desenvolvimento da fala e da linguagem faz parte deste processo, que progride com o aperfeiçoamento da expressão oral e escrita até a vida adulta. Depende das estruturas físicas, intelectuais e da estimulação que a criança recebe, tanto por parte das pessoas que a cercam como dos sons ambientais ao seu redor.
As primeiras emissões vocais com significado têm início ao redor de 1 ano de idade, seguidas pelas holofrases (frases de um vocábulo), até os 20 meses, sendo que, em geral, as crianças do sexo feminino iniciam o processo mais cedo que as do sexo masculino.
Dos 12 aos 18 meses espera-se um vocabulário de 50 palavras isoladas, geralmente com características mais plosivas ou nasais (/p/, /m/) e compostas por sílabas (/papa/, /papá/, /mamã/), além de sons sem significado na língua a que ela está exposta. A expansão continua até os 4 anos de idade, com a aquisição de novos fonemas (sons da língua), o aumento de vocabulário, que deve ter mais de 2.500 palavras, e a estruturação de frases, sendo ainda esperadas algumas substituições e omissões. Dos 4 aos 7 anos há a estabilização deste sistema fonológico, sendo que aos 7 anos a criança terá entre 7.000 a 10.000 palavras.
A comunicação verbal pode estar comprometida em virtude de perdas auditivas, transtornos do sistema nervoso central, doenças degenerativas, doenças infecciosas gestacionais, perinatais e pós natais, ou do sistema periférico da audição, como mal das orelhas e alterações motoras musculares ou neuro musculares que envolvam respiração, fonação, ressonância vocal, articulação da palavra e alterações crânio faciais como fissura lábio palatina. Deve-se atentar e diagnosticar precocemente a possibilidade de ocorrerem distúrbios psicológicos, espectro do autismo como fator etiológico.
É possível investigar o desenvolvimento da linguagem em qualquer fase de desenvolvimento da criança e sob quaisquer situações, mesmo na ausência de fala, com a finalidade de intervir assim que qualquer desvio ou atraso ocorra.
A deficiência auditiva é uma das causas de atraso no desenvolvimento da linguagem oral, devendo, portanto, ser minuciosamente analisada pelo otorrinolaringologista. Os pais, cuidadores e profissionais da saúde devem suspeitar de perda auditiva se, a partir do nascimento, a criança não acordar com sons intensos, não se acalmar com a voz da mãe, não ficar atenta a sons, não procurar por fonte sonora lateralmente (a partir dos 3 meses), cessar balbucio aos 6 meses, não desenvolver linguagem oral e quando apresentar alterações na fala.
Torna-se imprescindível o acompanhamento das crianças provenientes dos berçários de risco que apresentam como indicadores de risco para perda auditiva os seguintes fatores: consanguinidade, histórico familiar de perda auditiva, uso de medicação ototóxica na gravidez como alguns antibióticos no primeiro trimestre da gestação, infecções gestacionais como citomegalovirose, herpes, lues, rubéola, anoxia neonatal, baixo peso ao nascimento, necessidade de uso de medicação ototóxica e permanência na UTI Neonatal por mais de 5 dias.
O diagnóstico é otorrinolaringológico e a intervenção deve ser imediata. Dependendo do diagnóstico e da idade da criança, as intervenções podem ser clínicas, cirúrgicas, indicação e adaptação de aparelho de amplificação sonora individual (AASI), implante coclear, bone anchored hearing aid (BAHA) ou implante de tronco encefálico (para adolescentes e adultos). Na maioria das vezes são acompanhadas por estimulação auditiva e de linguagem, tendo sempre em vista a redução do tempo de privação sensorial auditiva.
Estudos ressaltam que a conversa entre adultos e a criança é determinante para o adequado desenvolvimento da fala e da linguagem, pois, interagindo com adultos, a criança tem a oportunidade de errar e ser corrigida, além de praticar e consolidar o conteúdo recém adquirido. De maneira oposta, a grande exposição da criança à televisão, computador, video games e jogos em tablets está relacionada a atrasos no desenvolvimento da linguagem, pois contribuem para a redução da interação entre ela e o adulto.
Assim, orientam-se pais e adultos que conversem com as crianças de maneira simples, correta e adequada, em forma e conteúdo para a idade. É importante, nesta ocasião, que a criança tenha a oportunidade de expressar e manifestar seus desejos. O adulto deve deixá-la falar e perguntar o que quiser, em vez de tentar adivinhar ou falar por ela. Entende-se que os primeiros anos da criança são cruciais para a formação de seus conteúdos linguísticos. A identificação, o correto diagnóstico e a intervenção precoce, multiprofissional e multidisciplinar dos distúrbios da fala e da linguagem são de extrema importância para o desenvolvimento da comunicação.
Os profissionais envolvidos (pediatras, otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos) e familiares devem estar atentos para os sinais de alerta e os fatores de risco para alterações do desenvolvimento da linguagem.
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Relator:
Dr. Silvio Antonio Monteiro Marone
Departamento Científico de Otorrinolaringologia da SPSP.
Publicado em 07/05/2014.
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