Meningites. Um problema só da infância?

Meningites. Um problema só da infância?

Talvez nem todos saibam, mas são diversos os agentes que causam meningites.

A começar pelos vírus, cuja grande maioria provoca meningite considerada “benigna”, pois geralmente não determinam complicações maiores ou deixam sequelas. No quadro agudo há febre, cefaleia e vômitos, sintomas mais frequentes, que incomodam e podem levar à desidratação e ocasionar internação.

Nem todos os vírus são tão “benignos” (se é que podemos dizer que as manifestações descritas acima são tranquilas); por exemplo, o herpes (sim… aquele mesmo que provoca as feridas na boca!). Em raros casos, como em imunodeprimidos e recém-nascidos, o herpes pode determinar um quadro grave, com crises convulsivas e até coma e óbito, com possibilidade real de sequelas gravíssimas no sistema nervoso. Requer tratamento imediato.

Mas na nossa realidade, a maior preocupação, sem dúvida, são as clássicas meningites bacterianas. As vacinas para esses agentes diminuíram bastante os quadros (felizmente!), mas quando a doença ocorre, leva a quadros gravíssimos, determinando não só morte em até 30% das crianças, como diversas sequelas, que vão de déficits auditivos a crises convulsivas, sequelas motoras e neurológicas e lesões de órgãos importantes, como rins e fígado.

As crianças são as mais acometidas, mas engana-se quem julga que são só elas. Os idosos que desenvolvem meningites têm mortalidade que beira 50% no Brasil, além, claro, de todas as sequelas já descritas aqui.

Um grupo que parece não ser muito comentado é o dos adolescentes e adultos jovens (não podemos esquecer deles!). Apesar de serem menos acometidos e terem menor gravidade, podem desenvolver todas essas sequelas e apresentam óbito entre 20% e 30% dos casos (ou seja, alarmante!).

Há um outro problema nessa história… Todos os estudos demonstram que os adolescentes e adultos jovens têm um papel fundamental no ciclo das meningites bacterianas. Principalmente dos meningococos, eles são os principais reservatórios, isto é, a bactéria coloniza suas nasofaringes, de onde existe a transmissão para todos os outros grupos – crianças, demais adultos e idosos. A implantação da vacinação no adolescente como estratégia de controle da disseminação das meningites demonstrou bons resultados na redução da doença meningocócica nos demais grupos etários.

A vacinação contra algumas bactérias, a citar o Streptococcus pneumoniae (pneumococo), o Haemophilus influenzae b e o meningococo C nas crianças, que faz parte do Programa Nacional de Imunizações (PNI), recomendada pelas Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), pôde reduzir drasticamente as meningites por esses agentes. Mas ainda há necessidade de intensificar a vacinação do adolescente, hoje com baixíssimas taxas de cobertura.

Atualmente faz parte do calendário vacinal do adolescente (pelo PNI, pela SBP e SBIm) a administração da vacina meningocócica ACWY (que protege para esses quatro sorogrupos do meningococo), tanto pelo SUS como em clínicas privadas. Também há a recomendação pela SBP e SBIm para vacinação contra o meningococo B (somente nas clínicas privadas).

A vacinação deve começar nas crianças pequenas e o mais brevemente possível, por serem o grupo com maior taxa de infecção e alta morbimortalidade.  Entretanto, jamais devemos negligenciar a vacinação do adolescente, o que infelizmente tem ocorrido nos tempos atuais.

 

Relator:
Marcelo Otsuka
Vice-Presidente do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo