Manifestação da Sociedade de Pediatria de São Paulo a respeito do Programa VIVALEITE da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social

Relator: Dr. Mário Roberto Hirschheimer
Presidente da SPSP
 
Texto divulgado em 20/07/2015
 
 
Em 17 de julho de 2015, a SPSP, representada por seu presidente, participou de reunião com representantes da Coordenação das Regiões de Atenção à Saúde da SES, Área Técnica da Saúde da Criança da Secretaria Estadual da Saúde, da Área Técnica da Saúde da Criança e Aleitamento Materno pelo Ministério da Saúde para o Estado de São Paulo, do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para o SUS-SP do Instituto de Saúde, da Secretaria Estadual do Desenvolvimento Social para discutir o Programa Vivaleite da Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo, de distribuição de leite de vaca “in natura” para famílias em situação de vulnerabilidade social.
 
Os Departamentos Científicos de Aleitamento Materno e Nutrição da SPSP foram consultados a respeito do Projeto Vivaleite, possibilitando a elaboração da seguinte manifestação como subsídio técnico para sua implementação:
 
Se todas as crianças fossem exclusivamente amamentadas com o leite materno durante os seis primeiros meses de vida e continuassem a recebe-lo até os dois anos de idade, quase um milhão e trezentas mil delas poderiam ser salvas todos os anos e outras milhares cresceriam mais saudáveis em todo o mundo. A amamentação é uma medida que reduz em 13% a mortalidade infantil (dados da UNICEF).
 
Todos os esforços devem ser voltados ao incentivo do aleitamento materno, devido às suas propriedades de proteger a criança contra muitas infecções e à sua contribuição na nutrição para promover um crescimento saudável até os dois anos de idade.
 
Nossa sociedade não dá boas condições para que o aleitamento materno seja mantido, como licença maternidade até os 6 meses, creches ao lado da empresa, salas de apoio à amamentação e proteção à mulher que trabalha sem vínculo empregatício (como por exemplo as diaristas, algumas cooperadas etc.). Acrescente-se a isso a falta de informação e apoio, muitas vezes dentro do próprio lar.
 
É muito importante considerar que o leite de vaca integral não é indicado para crianças com menos de um ano de idade. Para os bebes com menos de 12 meses que não podem ser amamentados com o leite de suas mães deverá ser prescrito uma fórmula láctea adequada, evitando os malefícios que o leite de vaca lhes pode causar.
 
Toda criança deve ter acesso a consultas de puericultura e somente quando um Pediatra indicar o uso de leite industrializado é que ele deverá ser prescrito, baseado em razões médicas.
 
Após o sexto mês de vida, outros alimentos devem ser oferecidos aos bebês para contemplar suas necessidades nutricionais. Assim, o consumo de fórmula láctea industrializada tente a diminuir.
Somente após a criança completar um ano de idade é que o leite de vaca pode ser considerado adequado como fonte de proteínas e sais minerais.
 
Após a criança completar dois anos de vida, a oferta de alimentos lácteos é importante para complementar suas necessidades de cálcio, mas não para substituir uma refeição.
 
Para combater doenças consequentes à nutrição inadequada em crianças com menos de 2 anos de idade, a prática do aleitamento materno deve ser incentivada e protegida. Essa é uma atitude que resultará em benefício para todos (economia com medicamentos, exames e internações) e, mais ainda: a mãe que amamenta cuida melhor do filho, dá mais carinho e o protege, promovendo a criação de um cidadão mais saudável e mais apto para contribuir na construção de uma sociedade melhor.