Maio Amarelo – O que vem antes da depressão?

A ideia de ‘criança deprimida’ pode parecer estranha. Criança está associada a brincadeira, riso, energia e também birra, manha e choro, mas sempre com a força da vitalidade. Depressão sugere apatia e desvitalização.

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Mas nem sempre essa fórmula é adequada para reconhecer o estado emocional de uma pessoa, sobretudo uma criança. O excesso de riso, de brincadeira ou birra, é um sinal de alerta. Comunica uma sobrecarga em sua mente imatura e dificuldade em processar emoções. Em outras palavras, significa que a criança está sofrendo e muito provavelmente nem saiba o porquê.

A primeira ajuda é levar a sério seu sofrimento. Felizmente, a maioria das crianças costuma ser, na maior parte do tempo, alegre, de bem com a vida e esquece rápido as chateações. Mas, às vezes ficam tristes, tanto quanto os adultos. Algumas das vezes elas refletem sofrimentos dos adultos que se ocupam delas, quando nem eles mesmos se deram conta de suas dores. Assim, quando o adulto não reconhece suas próprias tristezas refletidas, se incomoda com a criança que começa a “criar problemas”. Pior, impõem-lhes exigências que agudizam suas angústias, deixando-as sós e sem saída.

É importante discriminar estados de tristeza de sinais de depressão. Ciúmes, medo ou raiva podem levar a tristezas. Mas essas costumam passar mais ou menos rápido e têm história e motivação. Morte do animalzinho de estimação, briga com amigo, bronca dos pais, frustrações, saudade são alguns dos motivos de um estado “borocoxô”. Mas o luto tem uma evolução gradativa e acaba. Os conflitos se resolvem e as frustrações são absorvidas.

Na depressão, por outro lado, qualquer motivo se cola num certo blues que não passa e não tem história e motivação aparente. Não tem a ver com o fato em si – qualquer situação de tensão ou estresse, como desentendimento entre os pais ou exigências da escola, pode causar ansiedade e servir de estopim para um estado mental que já estava fragilizado. E o que poderia ser uma tristeza passageira se torna aguda e as sensações de solidão e de incompetência se impõem.

Depressão não passa de repente; em geral demanda ajuda profissional. Não se confunde com tristeza, que tem uma causa bem determinada e tem prazo para terminar. A depressão é difusa, não se sabe explicar e se mantém constante na rotina.

Inapetência, sono descontinuado e agitado, isolamento dos amigos, ausência do brincar são alguns dos sinais. Brincar é a mais saudável atividade da criança, pois utiliza sua capacidade imaginativa que lhe ajuda a processar emocionalmente as experiências, prazerosas ou não.
Outros sinais são mais tênues, mas não menos preocupantes. Crianças sempre “boazinhas”, obedientes e amáveis com quem quer que seja e em qualquer circunstância se machucam ou adoecem com frequência. Mostram-se frágeis, suscetíveis.

Apesar de preocupante, depressão tem cura e a plasticidade da criança favorece o tratamento. As psicoterapias rapidamente mudam o cenário. Algumas vezes é necessário um complemento farmacológico, mas ele nunca deve ser o único recurso. Depressão é falta de mobilidade psíquica. Um engessamento emocional. É preciso ajudar a criança a desenvolver recursos mentais, para lidar com os dissabores da vida.

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Relatores:
Denise de Sousa Feliciano
Eduardo Goldenstein

Departamento Científico de Saúde mental da SPSP.

Publicado em 18/05/2018.

Este blog não tem o objetivo de substituir a consulta pediátrica. Somente o médico tem condições de avaliar caso a caso e somente o médico pode orientar o tratamento e a prescrição de medicamentos.

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