Falando sobre cânceres infantis, o dia 15 de setembro foi denominado Dia Mundial de Conscientização sobre Linfomas, terceiro câncer infantil mais frequente, com aproximadamente 1.200 casos diagnosticados por ano no Brasil, correspondendo a 12% dos cânceres que acometem crianças e adolescentes.
É importante comentar sobre o tema, uma vez que sabendo reconhecer os sinais e sintomas de alerta, podemos fazer o diagnóstico mais precocemente, o que impacta sobremaneira na chance de cura dos pequenos pacientes.
Linfomas são tipos de cânceres que acometem o sistema linfático, composto basicamente pelos linfonodos (“pequenos caroços”), que se distribuem por todo o nosso corpo, produzem e transportam glóbulos brancos, conhecidos como linfócitos, que são importantíssimos no nosso sistema imunológico e no combate às infecções. O linfoma acontece quando esses glóbulos brancos normais sofrem mutações e se multiplicam de forma descontrolada, tornando-se malignos.
Existem dois tipos de linfomas: os linfomas de Hodgkin, correspondendo a 40% dos casos, e os linfomas não Hodgkin, mais frequentes e responsáveis pelos outros 60%.
E qual a diferença?
O linfoma de Hodgkin acomete mais adolescentes, por volta de 14 anos de idade e tem a sua evolução mais lenta, comprometendo principalmente linfonodos superficiais do pescoço, virilha e axila, que aumentam de tamanho e se tornam bem visíveis. Dissemina-se através dos vasos linfáticos para outras cadeias ganglionares e pode estar associado a sintomas sistêmicos, como sudorese noturna, perda de peso e febre baixa.
Já os linfomas não Hodgkin acometem crianças entre 4 e 10 anos, são de aparecimento rápido, bastante agressivos, havendo dois tipos predominantes, que se manifestam por grandes massas, sendo o linfoblástico (células T) na região torácica, podendo ocasionar falta de ar e tosse, e os linfomas de Burkitt (células B) no intestino (região ileocecal), causando dor abdominal e vômitos. Ambos podem invadir a medula óssea ou o sistema nervoso central.
O diagnóstico do linfoma é usualmente realizado pela biópsia de um linfonodo suspeito, que possibilita identificar o tipo de linfoma de acordo com os achados citológicos, imuno-histoquímicos, citogenéticos e moleculares presentes nas células malignas.
Diferentes modalidades terapêuticas são utilizadas no tratamento dos linfomas, boa parte das vezes de forma combinada: a poliquimioterapia é o tratamento de escolha para ambos os tipos de linfoma, ficando a associação com radioterapia indicada principalmente nos casos de linfomas de Hodgkin. Mais recentemente, a terapia-alvo, principalmente através da imunoterapia, tem sido preconizada e já faz parte do tratamento inicial dos casos dos linfomas de Burkitt, ficando o transplante de medula óssea e o CART cell como opções de tratamento para os tumores recidivados.
A ótima notícia é referente ao excelente prognóstico desses tipos de câncer, superando os 90% nos casos de linfoma de Hodgkin e acima de 80% nos linfomas não Hodgkin e, claro, sendo sempre melhor quanto mais cedo se diagnosticar a doença.
Que fiquemos atentos aos sinais e sintomas dos linfomas para termos o diagnóstico precoce e tratamento imediato dessas formas de câncer infantojuvenil!
Relator:
Roberto Plaza
Hematologista e Oncologista Pediátrico. Médico Assistente do Instituto do Tratamento do Câncer Infantil (ITACI)-ICR-HC-FMUSP
Departamento Científico de Hematologia e Hemoterapia da Sociedade de Pediatria de São Paulo
Foto: @nattanunkhankaew / br.freepik.com