Importância do meio ambiente e seu benefício para a prática de atividade física na infância

Importância do meio ambiente e seu benefício para a prática de atividade física na infância

Introdução

Hoje, 5 de junho, é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente. Os benefícios “do brincar” e das atividades de lazer ao ar livre na população pediátrica não são novidades e, apesar do bom senso e da prática clínica reconhecerem sua importância, vivemos em uma sociedade predominantemente urbana, onde as crianças têm cada vez menos possibilidades de usufruir desse privilégio.

A dinâmica familiar, o uso de eletrônicos, o planejamento urbano, a dificuldade de mobilização nas grandes cidades, bem como a dificuldade de acessibilidade a locais de conservação da natureza em ambientes densamente populosos são fatores responsáveis pelo maior tempo das crianças despendido dentro de casa. Os resultados desse confinamento vão desde obesidade, e síndrome metabólica, problemas cardiovasculares, a um aumento significativo da depressão e ansiedade infantil, transtornos de hiperatividade e atenção, transtornos do sono, piora da qualidade de vida, da saúde óssea, da psicomotricidade e aumento das doenças alergoimunomediadas.

 

A importância do cuidado com o meio ambiente

A cidade de São Paulo dispõe de 2,6 m2 de área verde por habitante, com grande variação entre as regiões, sendo que a Organização das Nações Unidas recomenda que haja 12 m2 de área verde por habitante. Pouco espaço associado ao abandono no cuidado e zelo com as praças públicas e parques, que frequentemente são utilizados para fins ilícitos, como tráfico de drogas ou refúgio para pessoas desabrigadas, dificultam o aproveitamento desses espaços abertos.

É recomendado que pelo menos uma hora do tempo livre da criança ocorra ao “ar livre”. Passeios na rua ou o pátio do prédio são opções plausíveis para os dias úteis de escola e trabalho.

É por meio das experiências que a criança vivencia que ela aprenderá a cuidar da natureza. A partir do momento que os pais, cuidadores e as escolas proporcionam experiências como plantar, colher, preparar o alimento, a criança se torna mais propensa a experimentar vegetais, hortaliças e frutas, bem como a ter uma maior conscientização ambiental.

 

Os benefícios do meio ambiente e os riscos de sua ausência para a saúde da criança

Exposição ao sol e saúde óssea

Ambientes ao ar livre, em meio à natureza, permitem a exposição ao sol, necessária para a síntese de vitamina D com ação importante na densidade mineral óssea. (A exposição ao sol deve ser orientada com os devidos cuidados pelo pediatra)

Sono

A maior exposição à natureza e a espaços verdes está associada a um menor risco de sono insuficiente. Além disso, é importante reiterar que a exposição às telas altera a liberação de melatonina, atrapalhando o sono adequado e seu uso deve ser desencorajado nos menores de dois anos e, para os mais velhos, desestimular seu uso após as 20:30 horas.

Psicomotricidade

O contato com a natureza ajuda a fomentar a criatividade, a iniciativa, a autoconfiança e o desenvolvimento da coordenação psicomotora. Brincar ao ar livre oferece a oportunidade de melhorar as habilidades de integração sensorial auxiliando os domínios motor, cognitivo, social e linguístico.

Depressão/ansiedade

Ao frequentar o ambiente ao ar livre, a criança tem a oportunidade de ter contato social, com potencial efeito positivo no humor e níveis de estresse, além de poder realizar atividade física, liberando hormônios que dão a sensação de prazer.

Resiliência e redução do estresse

Ambientes naturais permitem experiências corporais lúdicas, como correr e cair, desenvolvendo a habilidade de controlar emoções, resiliência e enfrentamento. As crianças que se envolvem em brincadeiras ativas ao ar livre demonstram mais resiliência, autorregulação e desenvolvem habilidades para lidar com o estresse mais tarde na vida.

Transtorno de déficit de atenção

A superestimulação do cérebro em desenvolvimento nos primeiros anos de vida leva a períodos de atenção mais curtos mais tarde, aumentando o risco de déficits de atenção na idade escolar, ao passo que a estimulação cognitiva durante esse mesmo período em termos de leitura, canto e brincadeiras com crianças diminui o risco de déficits de atenção.

Pandemia de obesidade

O emparedamento e o confinamento contribuem para o aumento da incidência e prevalência da obesidade, pela redução da prática de atividade física e consequente redução do gasto metabólico basal, bem como o aumento de consumo de alimentos, em sua maioria industrializados e multiprocessados.

 

Papel do pediatra na orientação dos benefícios da atividade ao ar livre

O pediatra deve orientar pais, responsáveis, adolescentes e até as crianças, se possível, quanto à prevenção de acidentes e perigo de lesões comuns na infância, como acidentes de trânsito, afogamento, traumas e fraturas, picadas de insetos e animais peçonhento, entre outros. Deve alertar sobre danos potenciais da Internet (por exemplo, violência, cyberbullying, pornografia), assim como os riscos da alimentação incidental desnecessária, motivada por anúncios ou pela ansiedade de permanecer em frente às telas por longos períodos.

O aconselhamento sobre a importância do brincar, bem como os benefícios que o contato com a natureza traz para as crianças e adolescentes devem ser ressaltados.

Após anamnese e exame físico, reiterar os benefícios da atividade física e do sono no desenvolvimento infantil e sua importância para a liberação do hormônio de crescimento, bem como na regulação dos hormônios do estresse e do ciclo sono-vigília. Além disso, relembrar o quão fundamental são as relações interpessoais das crianças com seus pares e a exposição ao sol para a saúde óssea ajudam as famílias a entenderem o real benefício disso para o crescimento e desenvolvimento de seus filhos.

 

Saiba mais:

  1. MCCORMACK, G. R. et al. A scoping review on the relations between urban form and health: a focus on Canadian quantitative evidence. Health Promot Chronic Dis Prev Can, 39, n. 5, p. 187-200, May 2019. ISSN 2368-738x.
  2. TREMBLAY, M. S. et al. Position Statement on Active Outdoor Play. Int J Environ Res Public Health, 12, n. 6, p. 6475-505, Jun 8 2015. ISSN 1661-7827 (Print) 1719-8429. 

 

Relatora

Júnia Ellen Simioni Leite
Médica Pediatra
Núcleo de Estudos da Prática de Atividade Física e Esportes na Infância e Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo