SPSP – Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 16/04/2020
A xará da Dra. Adélia, a poetisa Adélia Prado, escreveu duas frases singulares: “O que a memória ama fica eterno” e “Há sempre uma razão, embora não haja nenhuma explicação”.
Há sempre uma explicação para a morte; há sempre uma “causa mortis”. No entanto, nenhuma explicação consegue amenizar a sensação de que algo nos foi roubado. Por isso, não aceitamos a morte com naturalidade. Ela é uma intrusa incômoda. Ela, porém, é a única certeza que temos na vida.
Morte é tragédia. É coisa ruim, não há como florear o fato. Para tragédias não temos respostas, só perguntas. Nessa hora é tempo de chorar. É tempo, também, de recordação e reconhecimento. É uma forma de nos consolarmos. O consolo completo, entretanto, não é obra humana; é obra da Graça do Eterno em nossas almas.
A dimensão da perda, cada um a sente de maneira única e pessoal. Essa grandeza está na dependência de quem partiu, do vácuo que deixou, do tamanho do espaço que ocupou.
Dra. Adélia sempre foi uma profissional dedicada e interessada na criança. Quanto mais difícil o caso, mais atraía a sua atenção e curiosidade. Ia atrás de outras opiniões e não abandonava o seguimento dos cuidados dessa criança, até o seu desfecho. Tinha vontade de aprender e ensinar. Era generosa em compartilhar seus conhecimentos. Ela faleceu em meio à “linha de frente”, fazendo o que lhe dava prazer e sentido – cuidar das crianças com interesse, respeito e seriedade. Ela deixa o legado de boa pediatra, de colega solidária, de mestre respeitosa para com residentes e internos. Que seja consolador para cada um de nós, que tivemos o privilégio de conviver com ela, tal certeza, e em especial, para os seus familiares.
Quem parte também fica, pois permanece nas nossas memórias através dos momentos compartilhados em vida.
Cada um de nós haverá de recordar algo da Dra. Adélia. Ficou eterno. O que nos compete, agora, é dar sentido à tragédia. Como fazer para dignificar a morte de alguém que deixou marcas em nossas memórias? Só há uma maneira: vivendo da melhor forma que somos capazes, sendo produtivos, servindo a quem nos pede auxílio… Como pediatras, sendo melhores pediatras, buscando aprimorar o conhecimento e não perdendo o foco: o respeito e a dedicação para com a criança.
Em honra a Adélia, a nossa colega pediatra, sigamos em frente, no front, na vida, servindo.
Nossa homenagem. Nossa saudade.
Homenageando a Dra. Adélia, estamos lembrando de todos os pediatras que, corajosamente, batalham na linha de frente no combate à pandemia que atinge o mundo.
Dra. Adélia Maria Araújo de Almeida Oliveira formou-se em Medicina na Universidade Federal de Pernambuco. Fez residência em Pediatria no Hospital Barão de Lucena – INAMPS/PE.
Em São Paulo, trabalhou no Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo, no Hospital Arthur Ribeiro de Saboya, no Hospital do Servidor Público Municipal e no Hospital Municipal Infantil Menino Jesus.