Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), dia 1º de dezembro é a data escolhida para que, internacionalmente, possamos unir esforços no combate ao HIV/Aids, recordando e ressaltando tantos avanços conseguidos no transcorrer desses 40 anos de história com o vírus e lutando contra o preconceito, estigma e discriminação das pessoas que vivem com HIV, melhorando dessa forma o entendimento da população sobre o vírus e suas repercussões, reconhecendo-o como um problema de saúde pública global.
O UNAIDS é um programa conjunto das Nações Unidas que tem como objetivo liderar e coordenar a resposta global à epidemia de HIV/Aids. O órgão publica relatórios periódicos mostrando a situação no mundo, em seus diferentes locais e as metas a serem alcançadas. Uma delas é acabar com a Aids como uma ameaça à saúde pública até 2030. As estatísticas mostram que infelizmente estamos longe de chegar ao nosso objetivo.
Globalmente, temos 39,9 milhões de pessoas vivendo com HIV, sendo 1,3 milhão de novas infecções em 2023. Por minuto, uma pessoa ainda morre por causas relacionadas à Aids no planeta.
Um grupo que se mostra bastante vulnerável à evolução mais complicada da doença são as crianças, em decorrência de vários fatores, como imaturidade imunológica, dependência total da família ou cuidadores para serem tratadas, menor oferta de medicações disponíveis que sejam específicas para essa faixa etária, entre outros. Sendo assim, todos os esforços devem ser feitos para que as crianças não se infectem e adoeçam.
A principal forma de infecção das crianças é a transmissão vertical, ou seja, da mãe para o filho, que pode acontecer durante a gestação, parto ou no aleitamento materno.
Temos no Brasil hoje um protocolo de prevenção da transmissão vertical muito bem estabelecido: medicação antirretroviral para gestante durante toda a gravidez mantendo-a estável clínica e laboratorialmente, escolha da via de parto adequada, medicação para criança por 28 dias e não amamentar. Com todas essas medidas estabelecidas, a chance de uma criança se infectar é muito baixa, cerca de 0% a 3%.
Como a política pública de saúde do Brasil tem como regra a testagem de todas as gestantes durante o pré-natal e parto (envolvendo as atendidas na saúde pública ou privada), espera-se que a imensa maioria delas sejam diagnosticadas e poderão receber todo esse protocolo. Porém, um grupo que nos preocupa muito e tem aumentado é o das pessoas que são negativas para os exames de HIV na gestação e parto e se infectam durante o aleitamento materno; e sim, isso é possível!!!
Temos de lembrar que pessoas que amamentam são sexualmente ativas na imensa maioria dos casos, correndo o risco de se infectar por HIV. Isso ocorrendo, há um risco altíssimo da criança se infectar, que pode chegar a até 30% a 40%, dependendo da situação materna.
Segundo levantamento da Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo, de 2019 para cá, 14,7% das infecções pelo HIV por transmissão vertical foram pelo aleitamento materno de pessoas exatamente com esse perfil, ou seja, pessoas que eram negativas e se infectaram durante o aleitamento.
Infelizmente, não temos ainda como política pública a obrigatoriedade da testagem para o HIV nas lactantes, como temos para as gestantes. A testagem regular permitiria o diagnóstico precoce das pessoas lactantes e dos bebês, podendo estes serem tratados e evitando o adoecimento.
Pensando em todo esse contexto, recomendo fortemente que pessoas em aleitamento discutam com seus médicos a possibilidade de testagem regular e mesmo de uso de outras formas de prevenção, como uso de preservativo, de medicamentos para prevenção de infecção para o HIV, a depender da sua situação de vida. Cada caso é um caso e as condutas e direcionamentos devem sempre ser individualizados e discutidos com seu médico.
As medidas de proteção da infecção pelo HIV são necessárias em todas as fases de vida do indivíduo e o período de aleitamento deve ser visto da mesma forma.
Divulgar e veicular de forma ampla o assunto HIV/Aids, abordando também questões de prevenção, não apenas no mês de dezembro, mas sempre, em todas as oportunidades, facilita o acesso a essas informações, podendo prevenir aparecimento de novas infecções, além de possibilitar maior acolhimento e menor discriminação de quem vive com HIV.
Relatora:
Daniela Vinhas Bertolini
Membro do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo