26 de setembro é o Dia Mundial da Prevenção da Gravidez na Adolescência.
A gravidez “nas adolescências” é um problema complexo, multifacetado e transgeracional (fenômeno que se refere à transmissão de padrões, valores, expectativas e outros elementos familiares de uma geração para outra), que impacta na estrutura econômica e contribui para a manutenção do ciclo de desigualdade social e pobreza. É uma questão de Saúde Pública que requer uma abordagem multidimensional.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 16 milhões de adolescentes de 15 a 19 anos engravidam anualmente, das quais 95% são de países de rendimento baixo e médio e 2,5 milhões têm menos de 16 anos. No Brasil, em 2024, a taxa de gravidez na adolescência entre 15 e 19 anos atual é de 53 adolescentes grávidas a cada mil, acima da média mundial, que é de 41 por mil. Essa diminuição começou a ser observada após 2019, com uma queda média de 18% até 2022. No entanto, o número de nascimentos entre adolescentes ainda é significativo e preocupante.
As maiores taxas de gravidez “nas adolescências” se concentram em regiões de baixa renda, principalmente em lugares onde o acesso aos serviços de saúde é precário, tanto do ponto de vista quantitativo como qualitativo. A acessibilidade não é só uma questão de falta de rede de apoio, mas principalmente de falta de formação qualificada de profissionais de saúde, em Saúde Sexual e anticoncepção, e que respeitem o adolescente como sujeito autônomo pleno de direitos.
Para compreender as causas de gravidez na adolescência além das questões políticas-econômicas-sociais, é preciso adentrar nas motivações, desejos, cultura, grupos e nas oportunidades nas quais cada adolescente está inserido. Qual o lugar daquele adolescente em seu território? Há lugares em que ser “mãe” garante maior segurança e aceitação do que ser “só” uma adolescente? Como a adolescente pode exercer a autonomia e manter sua autoestima frente às possibilidades limitadas de futuro que esse lugar oferece?
Diante dessa complexidade, todas as estratégias de prevenção da gravidez devem considerar as questões “das adolescências” de cada lugar. Cabe aos pediatras obterem conhecimento técnico sobre anticoncepção para orientar, acolher os adolescentes, além de cobrar Políticas Públicas que garantam Equidade de gêneros e de oportunidades, que erradiquem lugares políticos-econômicos-psíquico-sociais onde a maternidade na adolescência seja considerada o único projeto de vida.
Relatoras:
Maíra Terra
Lília D’Souza-Li
Departamento Científico de Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo