Ser pai biológico é fácil, esse fato concretiza-se num rápido e fugaz momento de prazer. Na comemoração do Dia dos Pais, entretanto, desejamos parabenizar e honrar àqueles que seguiram cuidadosamente e amorosamente o papel de pai – aquele que cuida, zela, protege, provê, anda junto e serve de exemplo comportamental e de inspiração para os filhos. Esse caminho, hoje, está inserido num contexto amplificado conhecido como “paternagem”, que está relacionado com o envolvimento pleno com o mundo da criança; ser proativo nas atividades relacionadas com ela; participar de todas as etapas do desenvolvimento do filho, desde o tempo de bebê e em diante; participar do processo de aprendizagem na escola e realizar momentos únicos e sozinho com a criança.
Precisamos lembrar que nem pais ou mães nascem prontos, que vêm com alguma espécie de chip autoexecutável para o exercício da “maternagem” ou “paternagem”. É uma tarefa que demanda esforço e vontade, amor, perseverança e resiliência. Benvindos, pais, à vida embalada pela alegria de crianças à mesa, à chatice das birras, aos desassossegos das gripes, das tarefas escolares, dos serviços de “uberpai” para baladas, das noites mal dormidas, das preocupações com a carreira, com o futuro dos pimpolhos. Benvindos à “paternagem”.
A série de TV chamada “Papai Sabe Tudo” fez muito sucesso da década de 1960 (TV Tupi) e depois na Rede Globo (década de 1970). O pai, Jim Anderson, um vendedor de seguros, protagonizado pelo ator Robert Young, vivia junto com a esposa Margareth e seus três filhos, uma família muito feliz, personificando uma família americana ideal. Era um pai participante e do tipo que tem a última palavra porque tinha uma sabedoria total e completa, capaz de discernir sobre todos os assuntos e em todos os momentos. Um pai utópico, que hoje seria distópico para um mundo em que a vida familiar começa com um compartilhamento de decisões e de tarefas entre o casal.
O escritor Rubem Alves em uma de suas postagens lembra desta frase que leu em algum livro: “Tomar uma decisão de ter um filho é algo que irá mudar sua vida inteira de forma inexorável. Dali para frente, para sempre, o seu coração caminhará por caminhos para fora do seu corpo”. A autora dessa frase queria se referir ao processo gradativo de independência que aquele ser que você toma no colo e embala, quando nenê, vai adquirindo à medida que cresce. Seu coração sai do seu corpo e vai junto pelos caminhos que seu filho percorre. Ideia que a música cantada por Fábio Jr – “Pai”, também sublinha. Essa música resgata a beleza de um relacionamento que deixa marcas entre um pai e um filho, ao tempo que recorda a figura estereotipada do “Pai Herói”: “Pai, Me perdoa essa insegurança/ É que eu não sou mais aquela criança/ Que um dia morrendo de medo/ Nos seus braços você fez segredo/ Nos seus passos você foi mais eu (…) Eu cresci e não houve outro jeito/ Quero só recostar no teu peito/ Pra pedir pra você ir lá em casa/ E brincar de vovô com meu filho/ No tapete da sala de estar(…) Você foi meu herói, meu bandido/ Hoje é mais muito mais que um amigo/ Nem você, nem ninguém tá sozinho/ Você faz parte desse caminho/ Que hoje eu sigo em paz”.
Relator:
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo
Foto: Subbotina I depositphotos