Febre não é doença, é um sinal

Febre não é doença, é um sinal

Você já ouviu falar em febrefobia?

A febre é uma das queixas mais comuns nos atendimentos pediátricos: 20 a 30% das consultas nos consultórios é referida como queixa única, aumentando para 65% das consultas nos serviços de emergência, chegando à 75% nos atendimentos telefônicos e WhatsApp dos pediatras.

Embora na maioria das vezes seja a primeira manifestação de infecções virais agudas, a febre costuma ser muito temida, pois também pode se apresentar como sinal inicial de doenças graves. Nessa hora o racional e o inconsciente se misturam, e um termo específico pode expressar esta forte sensação de ansiedade e insegurança: febrefobia.

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Febre não é doença!

Febre é uma resposta fisiológica do organismo a uma agressão física, química ou biológica. Quando aceleramos o motor do nosso carro, ele esquenta devido ao intenso trabalho. Nosso organismo também, diante de uma agressão ele reage, dilatando os vasos sanguíneos, para levar mais sangue ao local agredido, aumentando a produção de anticorpos e glóbulos brancos, visando defender, dificultar ou até inibir a multiplicação dos agressores como vírus ou bactérias.

Febre não é doença, é uma reação de defesa do organismo, é um alarme ou um sinal de que estamos sofrendo uma “agressão”.

Surpresa! A febre é nossa amiga, não inimiga!

Ela ajuda a aumentar nossa imunidade, ou as nossas defesas, contra os agressores, sendo que 90% deles são vírus, não bactérias, portanto, não há necessidade antibióticos. Quando o médico fala que é uma virose, não significa que ele não sabe o que seu filho tem, ele está dando um diagnóstico. Traduzindo: há uma agressão por um vírus, portanto, não precisa tomar antibiótico, apenas fazer uma boa hidratação, usar antitérmicos se necessário, observar a evolução da febre e ficar alerta a outros sinais e sintomas como tosse, coriza, diarreia, vômitos, pintinhas vermelhas pelo corpo, entre outros.

Mito: antibiótico combate a febre

Não, antibiótico mata somente bactérias, não vírus; não tem ação antitérmica, portanto, será útil em apenas 10% dos casos de febre, aquelas provocadas por bactérias.

Quando sei que meu filho está com febre?

Acima de 37,8º podemos considerar uma criança febril, o que não quer dizer que temos que medicar. Nesse caso, tirar as roupas, dar banhos (nem frio, nem quente), hidratar oferecendo água, soro oral e líquidos a vontade, medir novamente a temperatura após 30 minutos. Na maioria dos casos a febre vai desaparecer sem medicação, assim como o motor do carro esfria, quando colocamos água no radiador.

A nova Pediatria recomenda que se use antitérmicos, mas não somente baseando-nos em números, por exemplo, chegou nos 38º; é a hora! Devemos ter como referência o estado geral da criança: se chegar aos 38,5º e ela estiver brincando e animada, podemos aguardar um pouco, mas se está com 37,8º e caidinha, desanimada, administre o antitérmico.

E o risco da convulsão febril?

A convulsão febril costuma acontecer entre os 6 meses e os 6 anos de idade, é benigna, não deixa sequelas e não precisa de medicamentos preventivos. Tem muito a ver com a subida, ou descida, brusca da temperatura; pode acontecer com 37,5 ou 39º, não é o número em si, mas a predisposição. É mais comum se houver familiares que já tiveram o mesmo quadro quando crianças.

E se a febre voltar antes do horário do antitérmico?

O antitérmico deve ser administrado quando necessário e não há necessidade de intercalar antitérmicos. Se começou com um, continue com ele. Se a febre voltar antes das 4 horas (horário da nova dose), hidrate e refresque a criança (pouca roupa), vai resolver! Repetimos: a hidratação é fundamental no combate à febre.

Quando devo me preocupar?

Há algumas situações que requerem um alerta maior, destacadas a seguir:

• Bebês abaixo de 3 meses de idade com temperaturas acima de 38º ou abaixo de 35,5º;

• Quando, mesmo após normalizar a temperatura, a criança se mantiver irritada, com choro persistente ou muito “largadinha”, mole, apática, com pouca reação, sem querer mamar;

• Quando a febre estiver acompanhada de sintomas persistentes como dor de cabeça, pele com manchas avermelhadas, dificuldade em dobrar o pescoço, vômitos que não cessam, irritabilidade extrema ou sonolência, dificuldade importante para respirar, ou queda do estado geral.

E não se esqueça: febre não é doença, é apenas um sinal de alerta.

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Relator
Dr. Tadeu Fernando Fernandes

Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da SPSP.

Publicado em 19/02/2019.

Este blog não tem o objetivo de substituir a consulta pediátrica. Somente o médico tem condições de avaliar caso a caso e somente o médico pode orientar o tratamento e a prescrição de medicamentos.

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