SPSP-Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto publicado em 14/12/2015
Pesquisadores do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife (PE), publicaram recentemente um estudo na Revista Paulista de Pediatria de dezembro de 2015 que analisa o padrão de consumo alimentar de lactentes e sua associação com variáveis socioeconômicas, culturais e demográficas maternas.
Os autores comentam que a alimentação adequada nos dois primeiros anos de vida é essencial, pois esse é um período caracterizado por rápido crescimento, desenvolvimento e formação dos hábitos alimentares, que podem permanecer ao longo da vida. As práticas alimentares, além de serem determinantes das condições de saúde na infância, estão fortemente condicionadas ao poder aquisitivo das famílias, pois, influenciam diretamente na disponibilidade, quantidade e qualidade dos alimentos consumidos. Nos últimos anos, ocorreram mudanças nos hábitos alimentares da população, principalmente em relação à substituição de alimentos caseiros e naturais por alimentos industrializados, considerados supérfluos, com elevada densidade energética e baixa qualidade nutricional. Contribuíram também para estas mudanças o mercado publicitário, a globalização, o ritmo acelerado de vida nas grandes cidades e o trabalho da mulher fora do lar. Nesse sentido, a identificação dos padrões alimentares de lactentes constitui importante objeto de estudo da epidemiologia nutricional, com o objetivo de compreender um dos fatores responsáveis pela saúde na infância. Por isso, o estudo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) teve como objetivo analisar o padrão de consumo alimentar de lactentes e sua associação com variáveis socioeconômicas, culturais e demográficas das mães.
Foi realizado um estudo de corte transversal, envolvendo dois grupos de mães de crianças até 24 meses de idade residentes na cidade de Maceió (AL). O grupo caso foi constituído por mães cadastradas na Unidade de Saúde da Família Carla Nogueira (USF), localizada em um bairro de baixa renda, pertencente ao VI Distrito Sanitário. O grupo comparação foi constituído de mães que levaram seus filhos para atendimento em dois consultórios particulares de pediatria da cidade.
“O estudo demonstra a introdução de alimentos industrializados considerados supérfluos acontecendo cada vez mais precocemente por fatores associados ao principal cuidador: a mãe. E a consequência é o ganho de peso excessivo nos primeiros anos de vida, contribuindo para o aumento nas taxas de obesidade infantil”, afirmou Andréa Marques Sotero, uma das autoras do estudo. Segundo Andréa, Os resultados sugerem que a mídia televisiva e a falta de apoio dos profissionais da saúde contribuem para a introdução precoce de práticas alimentares inadequadas. A combinação desses achados impacta diretamente na sociedade, pois, demonstra a necessidade de uma reorientação no conceito de educação em saúde, em conformidade com o princípio da integralidade. “Os profissionais de saúde devem ser mais participativos, desenvolvendo ações de promoção e construindo práticas que possibilitem um modelo assistencial que seja integrado, humanizado, visando responder às necessidades individuais e coletivas. E a mídia televisiva deve ser incluída como uma aliada no processo de educação em saúde, uma vez que ela tem o poder de convencimento que alcança todos os níveis socioeconômicos”, ressaltou Andréa.
Além disso, é importante que os gestores públicos se conscientizem de que o processo de educação em saúde deve envolver profissionais de saúde, gestores de saúde e sociedade civil, para que essa realidade envolva ações mais eficazes. “Esperamos, com esses resultados, contribuir para o planejamento de estratégias efetivas e ações direcionadas à prevenção do consumo de alimentos não saudáveis em crianças pequenas” finalizou Andréa.
A pesquisa foi realizada com o apoio da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Contato: Andréa Marques Sotero
Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
E-mail: [email protected]