“Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay” *
(Miguel de Cervantes – autor de Dom Quixote)
“Eu não creio em bruxas, mas que elas existem, existem” – tradução livre
Crescer não dói; se doesse todos os adultos teriam dor.
É um termo cientificamente incorreto, porém culturalmente aceito.
A maioria das manifestações ocorre em pré-escolares e escolares, momentos, inclusive, em que a velocidade de crescimento é menor. São dores de variada intensidade e frequência, podendo, às vezes, acordar a criança à noite, ocorrendo de uma a duas vezes por semana ou mesmo a cada dois meses.
Acometem preferencialmente os membros inferiores e não são localizadas nas articulações. Nunca são contínuas ou persistentes, predominantemente se iniciam no final da tarde, mas também podem surgir ou adentrar a madrugada e, na imensa maioria das vezes, cedem na manhã seguinte. É extremamente importante salientar que não há um “ponto específico” constante de localização da dor e, enfatizando, não são articulares. Não são acompanhadas por febre ou qualquer outro sinal ou sintoma. E se ocorrer, além da dor, inchaço, vermelhidão ou aumento de temperatura nos locais referidos, é importante relatar ao pediatra, para que avalie o quanto antes.
A criança tem aspecto saudável e ao exame físico não se detecta nenhuma anormalidade. Mesmo com a história clínica e exame físico já descritos, o pediatra deve solicitar exames laboratoriais, como radiografia em duas posições do local das dores, se não forem difusas e definirá, para cada paciente, se outros exames serão necessários. O esperado é que todos os exames solicitados não apresentem nenhuma anormalidade. Caso haja qualquer alteração, seja ao exame físico ou nos exames, o diagnóstico de dores de crescimento deverá ser imediatamente reavaliado e serem consideradas outras hipóteses.
A causa destas dores ainda não está bem definida, sendo que algumas teorias podem ser aventadas, como isquemias ósseas transitórias, micro traumas e fadiga muscular. O que se sabe, porém, é que o quadro é autolimitado e sem repercussão no desenvolvimento da criança. Como o próprio nome sugere estas dores desaparecem com o passar do tempo.
Para aliviar estas dores pode-se massagear o local com óleo ou creme hidratante e, a seguir, aplicar calor local com uma bolsa térmica – tomar muito cuidado para não queimar a pele da criança: testar sempre a temperatura da bolsa e embrulhá-la numa toalha. Conversar e tranquilizar a criança que esta dor não é grave e vai passar.
Em algumas crianças a dor pode ter uma intensidade maior e, nestes casos, quando as medidas acima descritas não surtirem efeito, um analgésico, do tipo paracetamol ou dipirona, pode ser utilizado, sempre com orientação do pediatra.
Cabe ressaltar que se houver alteração das manifestações ou dos sintomas descritos acima, é imprescindível realizar uma nova consulta com o pediatra para reavaliação do quadro clínico da criança.
Abaixo, um resumo do que é fundamental saber sobre as dores de crescimento:
DORES DE CRESCIMENTO NUNCA
- deixam a criança prostrada
- são persistentes ou contínuas
- são acompanhadas de outros sintomas
- alteram os locais que ficam perto de sua localização
- causam alteração em qualquer exame
Compartilhe este texto nas redes sociais!
___
Relator:
Prof. Dr. Roberto Marini
Membro do Departamento Científico de Reumatologia da SPSP.
Publicado em 25/08/2015.
photo credit: Greyerbaby | pixabay.com.br
Este blog não tem o objetivo de substituir a consulta pediátrica. Somente o médico tem condições de avaliar caso a caso e somente o médico pode orientar o tratamento e a prescrição de medicamentos.
Esta obra foi licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Brasil.