Eu cuido, eu confio, eu vacino

Eu cuido, eu confio, eu vacino

Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 30/04/2022


Este mês é o Abril Azul, mês da Campanha Eu Cuido, Eu Confio, Eu Vacino.

A SPSP traz para os pais e responsáveis dados de alerta para que este não seja apenas um mês de conscientização sobre a importância da vacinação, mas também um mês de vacinAÇÃO.

A partir de 2020, a pandemia impôs desafios maiores aos que já estávamos vivenciando desde 2016, com a queda das coberturas de vacinação.

O temor dos pediatras se consolidou com a restrição importante do deslocamento das pessoas para reduzir a circulação do novo coronavírus, associada à mobilização de equipes da saúde para cuidar de doentes com covid-19. No Brasil, de 15 vacinas que deveriam ser aplicadas até o quarto ano de vida e sobre as quais há mais informações disponíveis publicamente, pelo menos nove alcançaram índices inferiores aos recomendados pelas autoridades da saúde. Essas vacinas protegem contra pelo menos 17 doenças infecciosas graves, algumas delas altamente transmissíveis, como o sarampo e a coqueluche, ou incapacitantes, como a meningite e a infecção pelo vírus da poliomielite, que causa paralisia infantil e pode matar.

Fonte: Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/o-tombo-na-vacinacao-infantil/. Acesso em 07/03/2020.

Em 24 de fevereiro de 2022, o mundo assistia aos primeiros movimentos da invasão da Ucrânia pela Rússia. Além da gravidade que uma guerra traz para a sociedade, o fato de milhões de refugiados se deslocarem para inúmeros países adicionou outro temor entre especialistas de saúde pública: com tantas pessoas amontoadas para embarcar em trens, dormir em espaços lotados e viajar em grande número sem máscaras, o risco de propagação de doenças se torna outra arma invisível nesta guerra que atingirá todo o mundo.

A história já ensinou o que o cenário atual traz para a saúde global, mas precisamos lembrar para aqueles que possam ter esquecido. A guerra e a doença são companheiras próximas, e as crises humanitárias e de refugiados que agora se desenrolam na Europa Oriental levarão à consequências duradouras para a saúde, exacerbadas pela pandemia de coronavírus.

Sabemos que vírus e bactérias ficam felizes em explorar as situações em que os seres humanos são pressionados. Condições de superlotação, sem água suficiente, sem alimentação adequada e sem saneamento, associadas à baixa cobertura vacinal, aumentam o risco de surtos entre uma população.

Em 18 de fevereiro de 2022, o país do sudeste africano, Malawi, reportou, após 5 anos, o primeiro novo caso de poliovírus selvagem do tipo 1 em uma criança de 3 anos de idade, que trouxe o vírus do Paquistão e apresentou paralisia infantil em novembro de 2021. Já em 07 de março foi detectado um poliovírus derivado da vacina tipo 3, que desde 1989 não circulava em Israel, em uma criança de 3 anos de idade que mora em Jerusalém e que não estava vacinada.

E a pergunta que fica é? E o Brasil? Sabe-se, também, que desde 1989 não foi identificado mais nenhum caso no país. Será que teremos que vivenciar a tragédia que as pessoas, em especial acima dos 60 anos, sabem bem o que é ao ver uma criança acometida por paralisia infantil? É triste e preocupante pensar que, uma doença como a poliomielite, que está erradicada no Brasil e na maioria dos países do mundo, pode retornar.

Poderíamos aqui falar da gravidade das meningites, coqueluche, covid-19 e tantas outras doenças, mas o foco é alertar para a percepção do risco invisível. SIM, infelizmente ele está entre nós, sempre à espera de uma oportunidade para atacar.

A história em nosso próprio país pode também refrescar a memória daqueles que fazem questão de apagar essa temática destruidora e negativa que é o acometimento de uma sociedade por uma doença que poderia ser prevenida por vacina. Mas a nossa função é aprender com as experiências negativas. Então vamos lembrar que fomos acometidos nos últimos anos por surtos importantes como gripe (final do ano 2021 e início de 2022), febre amarela (anos 2016 e 2017) e sarampo (anos 2018 e 2019) antes que o novo coronavírus surgisse por aqui em 2020. Um contingente sem precedente de vidas foi ceifado e todas tinham em comum o fato de não estarem em dia com a vacinação.

Entretanto, apesar destes graves alertas, a mensagem que queremos transmitir no final é de ESPERANÇA. A boa notícia é que dispomos do Programa Nacional de Imunizações (PNI), responsável por um dos melhores calendários de vacinação infantil do mundo, com uma tradição de quase 50 anos para continuarmos protegendo as nossas crianças e adolescentes com várias vacinas eficazes e seguras. Os pediatras são os alicerces fundamentais para os pais e responsáveis obterem informações seguras para que possamos retomar as coberturas de vacinação.

Portanto, pedimos a você que esteja alerta com a atualização da carteira de vacinação das crianças e adolescentes que precisam tanto de proteção, não somente no mês Abril Azul, mas durante o ano todo.

Relatora:
Melissa Palmieri
Membro dos Departamentos Científicos de Infectologia, de Imunizações e de Pediatria Legal da Sociedade de Pediatria de São Paulo

Revisor:
Marcelo Otsuka
Vice-presidente dos Departamentos Científicos de Infectologia e de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo