Esteróides e anabolizantes em crianças e adolescentes – alerta ao pediatra

O uso de esteróides anabolizantes tem aumentado em especial nos adolescentes, tornando-se um problema de saúde pública, com importante sub-notificação de uso e de efeitos colaterais. Está evidente que alertas e proibições chamando atenção para todos os riscos têm sido insuficientes para diminuir a sua utilização.

Os esteróides precursores (pró-hormônios) são substâncias que podem se transformar em esteróides anabolizantes. Naturais ou sintéticos são derivados da testosterona que podem ser administrados por via intramuscular (nandrolona, testosterona boldenona) ou oral (oximetolona, oxandrolona, metandrostenololona, estanozolol, DHEA e androstenediona).

O uso simultâneo de vários preparados esteróides (“stacking”) e a utilização de doses crescentes (“pyramiding”) conduzem à administração de doses 10 a 40 vezes maiores do que os usados em caso de indicação médica.

Só nessas doses maiores consegue-se um aumento importante de massa muscular daí a grande prevalência de efeitos colaterais a curto e longo prazo.

Deve-se lembrar que o aumento de massa muscular é secundário a treinamentos intensivos (maior 3 horas/dia) e diários e também a aspectos genéticos. Ou seja, não é com 1 h, 3 vezes por semana que se consegue aumento importante da massa muscular, usando ou não as “bombas”, como são chamados os anabolizantes.

Os sinais suspeitos do uso são aumento rápido e marcante da massa muscular (especialmente do segmento superior) associado a alterações do comportamento (agressividade, labilidade emocional, depressão, psicose), acne em tórax e pescoço, ginecomastia, calvície tipo masculina (também em meninas), diminuição do tamanho testicular. Em meninas, podem ocorrer diminuição do volume mamário, hirsurtismo, calvície e alargamento do clitóris.

O pediatra poderá também notar um rápido aumento de peso com valores mantidos ou diminuídos de tecido subcutâneo, voz grave, alteração da coagulação, alterações hepáticas (aumento das transaminases) e hipercolesterolemia (aumento do LDL e diminuição do HDL).

Estas alterações podem levar ao risco de distúrbios cardiocirculatórios graves com trombose, AVC, infarto do miocárdio, disfunção hepática crônica e risco de impotência sexual e infertilidade.

Os efeitos psiquiátricos e a miocardiopatia podem ser observados até 20 anos após a suspensão da droga. Tem-se observado síndrome de abstinência após a suspensão dos esteróides com conseqüente depressão e elevada taxa de suicídio.

O pediatra e o endocrinologista pediátrico têm um papel importante na identificação desta população de adolescentes, pois mães costumam levá-los em consulta para resolver dúvidas sobre poder ou não fazer musculação e sobre o uso de suplementos vendidos em academias.

Com informações adequadas e seguimento contínuo, estes pacientes podem ser esclarecidos com relação ao uso destas substâncias e assim ficarem alertas sobre os possíveis efeitos deletérios à sua saúde.

Autor: Israel Diamante Leiderman
Membro do Departamento de Endocrinologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo – gestão 2007-2009; Endocrinologista pediátrico, São José dos Campos, SP.

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Texto recebido em 11/08/2008.