SPSP – Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 09/08/2019
No dia 3 de agosto, a Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) promoveu, em sua sede, o Café da Manhã com o Professor – Aleitamento Materno na Prática Clínica. Organizado pela Diretoria de Cursos e Eventos e pelo Departamento Científico de Aleitamento Materno da SPSP, o evento marcou a Semana Mundial do Aleitamento Materno (1 a 7 de agosto) e também o início da campanha “Agosto Dourado – Juntos pela Amamentação”. Coordenado por Moises Chencinski, presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da SPSP, o evento teve por objetivo abordar situações da prática clínica no aleitamento materno e debater seus desafios e soluções.
As palestras tiveram início com Keiko M. Teruya, que abordou a questão do bebê que chora excessivamente, enfatizando a aplicação da medicina personalizada na assistência da mãe com essa queixa. A médica ressaltou a importância de orientar a mãe sobre a posição correta de amamentar e a reconhecer os sinais de fome do bebê, salientando que o choro é parte do desenvolvimento normal e está mais presente nos primeiros três meses de vida. “O choro excessivo com causa orgânica precisa ser diferenciado da cólica, pois menos de 5% dos casos têm causa orgânica e quando o motivo não é identificado, os pais podem precisar de apoio”, observou a pediatra.
Entre as causas não orgânicas para o choro do bebê estão: desconforto (fralda suja, frio, calor); fome ou sede; medo, solidão, cansaço; bebês com grandes necessidades (conhecidos como High Need, ou seja, que têm maior necessidade de contato, atenção). Já entre as causas patológicas, ela citou: dor/trauma; síndrome de privação (consumo de drogas pela mãe); cólicas/dificuldade nas dejecções; doença do refluxo; alergia à proteína do leite da vaca; causas neurológicas, cardíacas ou infeciosas; malformações. Por fim, a especialista apontou a necessidade de aplicar o aconselhamento a respeito da amamentação e avaliar a mamada, além de procurar a causa do choro primeiro no bebê e depois na mãe, construindo com ela a compreensão dessa situação.
A seguir, Virginia S. Quintal falou a respeito do bebê que não ganha peso, afirmando que o papel do pediatra é essencial na questão da amamentação, uma vez que ele pode agir decisivamente em favor do aleitamento materno (AM) e tem a competência clínica para fazer o aconselhamento da mãe. Entre as situações que interferem no ganho de peso do lactente, a médica citou o uso de complemento nos primeiros dias de vida, chupetas e intermediários; afastamento mãe-bebê e não realização do contato pele a pele já na sala de parto. “O início precoce da amamentação (dentro de uma hora após o nascimento) e a manutenção do bebê sempre com mãe, desde o momento que ele nasce até a alta hospitalar, evitando o uso de complementação do leite materno, são práticas fundamentais para garantir o sucesso da amamentação”, pontuou.
A pediatra esclareceu que um dos fatores associados ao uso da fórmula infantil é a perda ponderal que, muito frequentemente, é supervalorizada e causa muita insegurança nas mães. “Muitas vezes, os profissionais de saúde não levam em conta a perda ponderal de até 10% do peso de nascimento e sua recuperação após dez a 14 dias de vida e, assim, prescrevem a complementação com fórmula infantil, favorecendo o desmame”, revelou. Em conclusão, Virginia enfatizou que as situações de baixo ganho ponderal por inadequação na técnica de amamentação podem ocorrer quando não se atende a livre demanda da criança e quando há intervalos grandes entre as mamadas ou esvaziamento incompleto das mamas.
O bebê em situações especiais e a volta da mãe ao trabalho
Na sequência, Mônica A. Pessoto apontou que são vários os fatores que influenciam na amamentação, entre as quais a prematuridade e a internação na unidade neonatal. “Os profissionais devem estar preparados para auxiliar essas mulheres a estabelecer e manter a lactação quando há a separação da mãe e do bebê”, alertou. Em relação à extração láctea, ela deve ser feita manualmente ou com bomba de sucção o mais precocemente possível, durante cerca de 20 minutos, ao menos seis vezes em 24 horas, incluindo pelo menos uma vez durante a noite.
A especialista comentou que atualmente há uma norma técnica da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, possibilitando a utilização do leite que a mãe extrai dentro da UTI neonatal ao lado da incubadora. A respeito do bebê prematuro, ela salientou que a alimentação enteral deve ser iniciada o mais precocemente possível, o que irá promover uma série de benefícios, como menos icterícia, maior ganho de peso, entre outros. “Quanto ao leite de escolha para RN pré-termo, sem dúvida nenhuma, o melhor é o leite da própria mãe. Mas quando ele não está disponível, deve-se ofertar leite humano pasteurizado, observando as necessidades do receptor. Já na ausência de ambos, oferecer fórmula láctea para pré-termo”, completou.
Por fim, Rosângela G. dos Santos falou sobre como ajudar a mãe a voltar ao trabalho e manter o AM, apontando que atualmente a mulher vem exercendo, cada vez mais, o papel de chefe da família e que a instabilidade do mercado de trabalho exige disponibilidade da mulher/mãe em seu emprego. “Dados do IBGE mostram que caiu pelo segundo ano consecutivo o número de famílias chefiadas por homens e que as mulheres são a maioria da população, ocupando mais espaço no mercado de trabalho”, comentou.
Segundo a pediatra, o aumento na taxa da amamentação ideal (exclusiva nos primeiros seis meses e continuada até dois anos ou mais), de acordo com as recomendações internacionais, poderia prevenir a morte de mais de 823 mil crianças e 20 mil mães a cada ano. “Os estudos mostram, ainda, que a licença maternidade contribuiu para aumentar a prevalência do AM exclusivo nas capitais dos Estados brasileiros, reforçando a importância do aumento deste período de quatro para seis meses”, avaliou. Dessa forma, para auxiliar a mãe que trabalha e amamenta, é fundamental que haja uma rede de apoio, com a coparticipação do pai, familiares, profissionais de saúde, grupos de mães, além de políticas públicas que garantam suporte para que essas mães possam trabalhar e manter o aleitamento materno.